São Paulo, quarta, 16 de setembro de 1998

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NAZISMO
Obras de Monet e Picasso estão no Brasil
Arte expropriada tem destino debatido

MARIO CESAR CARVALHO
da Reportagem Local

A comissão federal que investiga o patrimônio de nazistas no Brasil começa a discutir hoje o que fazer com uma tela de Picasso e outra de Monet que teriam sido expropriadas de judeus pelos nazistas na Segunda Guerra (1939-1945).
As famílias brasileiras que haviam comprado os trabalhos entregaram as telas para a comissão logo que souberam da suspeita de que teriam sido butim de guerra.
As obras foram descobertas em São Paulo pelo Congresso Mundial Judaico, que coordena a partir de Nova York as investigações sobre o patrimônio de judeus expropriado pelos nazistas.
O nome das telas e das famílias que estavam com elas estão sendo mantidos em sigilo.
Segundo o rabino Henry Sobel, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista e integrante da comissão federal, as telas de Picasso e Monet chegaram ao Brasil em 1939.
À época, teriam sido vendidas por US$ 2,25 milhões pela Galeria Fischer, de Lucerna, na Suíça. São dois óleos sobre tela. O de Picasso (1881-1973) mede cerca de 0,80 m x 0,50 m, segundo Sobel. O de Monet (1840-1926) tem cerca de 1,20 m x 1,20 m. Não se sabe quanto valeriam as duas telas hoje.
Sobel diz que os US$ 2,25 milhões podem ter sido usados para sustentar a rede de nazistas que havia no Brasil.
O Congresso Mundial Judaico suspeita que as telas chegaram ao Brasil por meio do marchand Thaddeus Grauer, que já teria morrido. Um documento do Exército dos EUA de maio de 1945, que foi mantido em segredo até 1991, diz que Grauer fazia negócios com a Galeria Fischer durante a Segunda Guerra.
Nesse período, a Galeria Fischer era a principal distribuidora de obras de arte saqueadas pelos nazistas. Em um único leilão, em 1939, vendeu Picasso, Matisse, Modigliani, Klee e até um auto-retrato de Van Gogh -a maioria dos quadros expropriados de judeus.
No caso do Picasso e do Monet identificados no Brasil, não foi encontrada até agora documentação provando que as obras pertenciam a judeus, segundo Sobel.
Há essa suspeita porque a Galeria Fischer trabalhava, principalmente, com obras expropriadas pelos nazistas.
A dúvida da comissão, criada pelo Ministério da Justiça em abril do ano passado, é o que fazer com as obras agora.
"O mais importante para nós, judeus, é a restituição moral", diz Sobel. "Mas se houvesse possibilidade de restituir financeiramente (os judeus), seria maravilhoso".
Ele defende que o eventual dinheiro arrecadado com a venda das obras vá para os sobreviventes de campos de extermínio que vivem no Brasil. Há cerca de 450 judeus nessa situação no país.
A destinação é polêmica, porque as famílias provavelmente compraram as obras de arte sem saber que haviam sido saqueadas pelos nazistas.



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