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Força brasileira
enfrenta pesadelo
em favela do Haiti
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os militares brasileiros estão enfrentando, nas favelas
do Haiti, o pesadelo que não
queriam enfrentar nas cariocas: gangues organizadas e
ligadas ao narcotráfico.
Lidar com elas é difícil e
envolve um trabalho mais
policial do que militar, algo
que os militares brasileiros
costumam afirmar que não
seria sua função principal.
Mas, no Haiti, a situação é
ainda mais complicada, pois
existe um delicado aspecto
político-diplomático permeando tudo. As gangues
foram aliciadas pelo ex-presidente Jean-Bertrand Aristide para intimidar seus
opositores políticos.
Os "quimeras" teriam até
armas como fuzis automáticos e submetralhadoras graças à sua ligação com narcotraficantes, principalmente
colombianos. Alguns estariam até mais bem armados
do que o dissolvido Exército
local, outra fonte de tensão.
Há uma diferença vital entre agir em casa e em um outro país soberano. No Brasil,
o número de militares, o
equipamento e as ações nas
favelas estariam sob controle
direto das Forças Armadas,
com apoio da polícia, como
já ocorreu em ações no Rio.
No Haiti, os brasileiros estão sob jurisdição da ONU e
não há como reforçá-los rapidamente, pois o efetivo
dos "capacetes azuis" depende de negociações diplomáticas. Hoje não há nem
metade do contingente previsto -cerca de 3.000 homens dos 6.700 militares (e
1.622 policiais) autorizados
para cuidar de um país de 8
milhões de pessoas.
Mesmo as forças da ONU
têm uma clara separação de
funções entre o contingente
militar e o policial. Os soldados internacionais não têm o
chamado "poder de polícia".
Os militares devem dar
apoio aos policiais civis internacionais, cuja função é
assessorar a, por ora, pouco
eficiente polícia local. Por
exemplo, quando um bloqueio de estrada detecta alguém com uma arma ilegal
ou drogas, quem deve fazer a
prisão é a polícia local.
O uso da força é regido por
regras rígidas. Quando uma
força internacional fez intervenção no Haiti no começo
do ano, ela fazia uma missão
de "imposição da paz" e podia atirar com mais desenvoltura. Agora existe uma
missão de "manutenção da
paz", e apertar o gatilho tem
mais restrições.
Os militares da ONU costumam ser empregados como uma força neutra entre
dois beligerantes. Os dois lados são Exércitos nacionais
ou podem ser um Exército e
uma força guerrilheira. No
Haiti, não há "beligerantes"
tradicionais, mas o que os
militares chamam de forças
"irregulares". Isso torna
bem difícil "pacificar" o país.
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