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Alegria vira ressentimento em Bagdá
DA REDAÇÃO
A alegria com a captura de Saddam Hussein deu lugar ontem em
Bagdá a ressentimento com os
EUA diante da violência, da falta
de infra-estrutura e dos preços em
alta que dominam o cotidiano do
Iraque sob a ocupação americana.
Na manhã seguinte ao anúncio
da prisão, os iraquianos saíram às
ruas em busca de jornais com fotos do homem que os governava
com base no terror, agora capturado e humilhado.
Muitos ficaram estáticos ao ver
as fotos de Saddam preso e esperavam que ele pudesse responder
pelos crimes que cometeu, mas
diziam que não estavam agradecidos aos EUA -na opinião deles,
a fonte de seus problemas desde
que o ex-ditador foi tirado do poder em abril.
"Eu espero que nós tenhamos a
chance de testá-lo [a Saddam] do
nosso jeito, de permitir que os que
sofreram por causa dele façam
com que ele experimente o que
nos fez experimentar", afirmou
Al Hussein, 29, um comerciante
que ainda se declarava feliz com a
captura do ex-ditador.
"Mas, se ele está num buraco ou
na prisão, isso não ajuda em nada
para mim hoje, não me dá dinheiro ou me protege nem leva meus
filhos para a escola", disse.
"É ótimo que ele tenha sido apanhado, mas não foi ele que acabou com a gasolina e a eletricidade e que deixou tudo tão ruim.
Então, o gás, que custava 250 dinares, custa 4.000, se você conseguir um", afirmou, de seu carro,
um dentista de 52 anos que aguardava, junto com outras centenas
de motoristas, para abastecer.
"Este é um país petrolífero e deve ser rico. Não deve ser como o
Afeganistão."
Também houve protesto a favor
do ex-ditador em Bagdá. A polícia
teve de dispersar, com tiros para o
alto, centenas de pessoas que entoavam "nós queremos Saddam
de volta".
Outra queixa que se ouvia ontem em Bagdá, sobre a ocupação
do país, era em relação ao tratamento que os iraquianos recebem
das tropas, que têm matado civis
enquanto procuram suspeitos de
participarem da insurgência.
"Os americanos prometeram liberdade e prosperidade. O que é
isso? Vá os quartéis deles, para
uma das barreiras em que eles
apontam armas para você, e diga
a eles que você os odeia mais do
que a Saddam para ver o que eles
fazem com você", disse o empreiteiro Mohammad Saleh, 39.
"A única diferença é que Saddam o mataria de uma maneira
disfarçada, e os americanos vão
matá-lo em público", afirmou.
"Um monte de coisas -segurança, liberdade e prosperidade- que deveríamos ter foram
embora. Eles prometeram muitas
coisas e, agora que pegaram Saddam, talvez cumpram alguma."
Já a imprensa iraquiana pôde
abordar ontem o ex-ditador do
país de outra forma. Durante seu
regime, Saddam sempre tinha
suas fotos na primeira página dos
jornais, acompanhada de frases
como "sua excelência senhor presidente, o líder".
Ontem, um frase publicada foi
"as pessoas expressaram sua
grande alegria com a prisão de seu
tirano e assassino", no semanário
independente "KululIraq".
Com agências internacionais
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