UOL


São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Alegria vira ressentimento em Bagdá

DA REDAÇÃO

A alegria com a captura de Saddam Hussein deu lugar ontem em Bagdá a ressentimento com os EUA diante da violência, da falta de infra-estrutura e dos preços em alta que dominam o cotidiano do Iraque sob a ocupação americana.
Na manhã seguinte ao anúncio da prisão, os iraquianos saíram às ruas em busca de jornais com fotos do homem que os governava com base no terror, agora capturado e humilhado.
Muitos ficaram estáticos ao ver as fotos de Saddam preso e esperavam que ele pudesse responder pelos crimes que cometeu, mas diziam que não estavam agradecidos aos EUA -na opinião deles, a fonte de seus problemas desde que o ex-ditador foi tirado do poder em abril.
"Eu espero que nós tenhamos a chance de testá-lo [a Saddam] do nosso jeito, de permitir que os que sofreram por causa dele façam com que ele experimente o que nos fez experimentar", afirmou Al Hussein, 29, um comerciante que ainda se declarava feliz com a captura do ex-ditador.
"Mas, se ele está num buraco ou na prisão, isso não ajuda em nada para mim hoje, não me dá dinheiro ou me protege nem leva meus filhos para a escola", disse.
"É ótimo que ele tenha sido apanhado, mas não foi ele que acabou com a gasolina e a eletricidade e que deixou tudo tão ruim. Então, o gás, que custava 250 dinares, custa 4.000, se você conseguir um", afirmou, de seu carro, um dentista de 52 anos que aguardava, junto com outras centenas de motoristas, para abastecer.
"Este é um país petrolífero e deve ser rico. Não deve ser como o Afeganistão."
Também houve protesto a favor do ex-ditador em Bagdá. A polícia teve de dispersar, com tiros para o alto, centenas de pessoas que entoavam "nós queremos Saddam de volta".
Outra queixa que se ouvia ontem em Bagdá, sobre a ocupação do país, era em relação ao tratamento que os iraquianos recebem das tropas, que têm matado civis enquanto procuram suspeitos de participarem da insurgência.
"Os americanos prometeram liberdade e prosperidade. O que é isso? Vá os quartéis deles, para uma das barreiras em que eles apontam armas para você, e diga a eles que você os odeia mais do que a Saddam para ver o que eles fazem com você", disse o empreiteiro Mohammad Saleh, 39.
"A única diferença é que Saddam o mataria de uma maneira disfarçada, e os americanos vão matá-lo em público", afirmou.
"Um monte de coisas -segurança, liberdade e prosperidade- que deveríamos ter foram embora. Eles prometeram muitas coisas e, agora que pegaram Saddam, talvez cumpram alguma."
Já a imprensa iraquiana pôde abordar ontem o ex-ditador do país de outra forma. Durante seu regime, Saddam sempre tinha suas fotos na primeira página dos jornais, acompanhada de frases como "sua excelência senhor presidente, o líder".
Ontem, um frase publicada foi "as pessoas expressaram sua grande alegria com a prisão de seu tirano e assassino", no semanário independente "KululIraq".


Com agências internacionais

Texto Anterior: O déspota capturado: nova lenda árabe
Próximo Texto: EUA dispersam ato pró-Saddam em seu reduto
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.