São Paulo, sábado, 17 de janeiro de 2004

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DIPLOMACIA

No encontro, Powell diz que auxílio econômico ajuda a conter 'grupos mais radicais'; Brasil participa da iniciativa

EUA criam Grupo de Apoio à Bolívia com 19 países

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

Preocupado com a ascensão do líder socialista Evo Morales e de movimentos indígenas radicais, o governo norte-americano sediou ontem um encontro para discutir formas de ajuda econômica à Bolívia. O Brasil foi um dos 19 países que enviaram representantes, além de seis organismos internacionais, entre os quais o FMI.
O secretário de Estado americano, Colin Powell, que participou apenas do almoço, disse que a ajuda econômica ao governo do recém-empossado presidente Carlos Mesa é importante para "conter grupos mais radicais".
Durante a Cúpula das Américas, realizada no México no início desta semana, o presidente George W. Bush se encontrou com o presidente Mesa e propôs, junto com o governo mexicano, a criação do Grupo de Apoio à Bolívia, cujo primeiro encontro foi realizado ontem, em Washington.
Alem do Brasil, participaram Argentina, Japão e Espanha, entre outros países. O Banco Mundial e o o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) também enviaram representantes. O governo boliviano participou com dois ministros.
Trata-se da primeira grande ação diplomática norte-americana na Bolívia após a renúncia do ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, um antigo aliado de Washington, em outubro, em decorrência de violentos protestos que paralisaram o país e deixaram um saldo de 80 manifestantes mortos.
O então vice-presidente Mesa, um empresário da comunicação sem filiação partidária e com pouca experiência política, assumiu imediatamente.
O desafio de Mesa agora é terminar o mandato (2007) sob forte pressão da oposição e atravessando uma grave crise econômica.

"Esquerdização"
Os EUA afirmam temer um movimento de "esquerdização" da América Latina supostamente liderado pelo ditador cubano, Fidel Castro, e pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez.
Na semana passada, Washington acusou Caracas de ter dado dinheiro a Morales para financiar os protestos contra Sánchez de Lozada. O líder socialista nega.
A criação do Grupo de Apoio à Bolívia é vista pelo Itamaraty como um sinal "positivo" de mudança da política externa norte-americana para a América Latina, já que Washington se mostra interessada a ajudar o país num sentido mais amplo, ao invés de apenas financiar projetos específicos, como os de erradicação de plantações de coca.
Durante o encontro, que durou cerca de três horas, os representantes concordaram em dar "tratamento concessional" à Bolívia, mas nenhuma medida concreta foi anunciada.
Na reunião, o Brasil informou que, no fim do ano passado, perdoou a dívida boliviana de US$ 52,5 milhões com o país e exortou os outros governos a estudarem medidas semelhantes.
O Brasil é um dos principais investidores no país vizinho. Apenas a Petrobras Bolívia responde por cerca de 10% do PIB nacional.


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