São Paulo, terça-feira, 17 de fevereiro de 2004

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AUSTRÁLIA

Revolta começou após moradores acusarem a polícia pela morte de um jovem e durou nove horas

Sidney enfrenta protesto de aborígines

DA REDAÇÃO

Aborígines australianos se rebelaram durante a noite de domingo para segunda-feira num subúrbio de Sidney, em protesto contra a morte de um adolescente. Cerca de cem aborígines -como são chamados os descendentes dos habitantes do território australiano antes da colonização britânica- do subúrbio de Redfern entraram em conflito com 200 policiais da tropa de choque.
Durante cerca de nove horas, os manifestantes enfrentaram os policiais com coquetéis molotov e tijolos. O conflito só se acalmou ontem de manhã (domingo à noite no Brasil).
O estopim da violência, que deixou cerca de 40 pessoas feridas, principalmente policiais, foi a morte do jovem aborígine Thomas Hickey, 17, espetado numa cerca de ferro.
Ele se feriu quando andava de bicicleta, em circunstâncias ainda não esclarecidas, e morreu no hospital na manhã de domingo.
Sua mãe, Gail Hickey, disse que o garoto foi perseguido pela polícia: "Meu garoto de 17 anos estava vindo pegar um dinheiro e esses "cães" o mataram. Como um garoto acaba espetado em uma cerca? A polícia matou meu filho".
Segundo as autoridades policiais, o garoto acelerou a bicicleta quando cruzou com um carro da polícia, perdeu o controle e caiu.
"Um ato de coragem foi realizado aqui na noite passada, e manteremos essa atitude enquanto nossa comunidade continuar marginalizada, intimidada e traumatizada por essa polícia racista", disse Lyall Munro, líder local.
Bob Carr, governador da Província de Nova Gales do Sul, onde fica Sidney, prometeu uma "investigação independente".
O bairro de Redfern possui uma área habitada majoritariamente por aborígines, composta por casas em mau estado de conservação, abandonadas, pichadas e ocupadas por usuários de drogas.
A área, onde australianos brancos não entram, tem sua entrada vigiada por um posto de segurança e fica perto do centro de Sidney, cartão postal da Austrália.
A notícia da morte de Thomas Hickey correu rapidamente pela vizinhança. Cartazes com fotos dos três policiais supostamente envolvidos foram colocados nas ruas com frases como "assassinos de crianças".
"As pessoas não deveriam brincar conosco", disse Aden Ridgeway, o único político aborígine no Parlamento. "A amostra de violência é um exemplo extremo do sentimento de alienação vivido pelos jovens aborígenes", disse.
Os cerca de 400 mil aborígines representam apenas cerca de 2% da população da Austrália, mas possuem uma herança e uma cultura diferenciadas. Apesar da riqueza da Austrália, vivem em situação de desvantagem em relação aos australianos brancos.
Os aborígines vivem, em geral, 20 anos a menos do que os outros australianos e enfrentam taxas mais altas de desemprego, violência doméstica, alcoolismo, dependência de drogas e prisões.


Com agências internacionais

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