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PAPÁVEIS
Para d. Cláudio, palavra de ordem é evangelização
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Considerado um dos candidatos à sucessão de João Paulo 2º, o
arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes, aponta a evangelização como o maior desafio da
Igreja Católica após uma década
em que a evasão de fiéis chegou a
10% na América Latina ."Essa é a
orientação freqüente de d. Cláudio: evangelização e solidariedade", conta o bispo-auxiliar d. Pedro Luiz Stringhini.
A preocupação com a perda de
adeptos, em meio à pluralidade
religiosa, não está expressa apenas no 9º Plano de Pastoral 2004-2007, da Arquidiocese de São
Paulo -sob o título "Ser igreja
missionária na cidade de São Paulo", o documento usa expressões
de d. Cláudio para pregar a "nova
evangelização como missão permanente". Também está evidenciada em sua administração.
Tanto nos 21 anos dedicados à
Diocese de Santo André como
nos quase sete anos na arquidiocese de São Paulo, d. Cláudio investiu na conquista dos católicos,
dando capilaridade e visibilidade
à igreja. Em Santo André, como
responsável por sete cidades,
criou apenas oito paróquias, mas
150 comunidades de base. Ele
também apoiou a instalação das
pastorais da criança, do menor e
da favela. Já na arquidiocese, defendeu a criação de um fórum de
pastorais, reunindo as quatro dioceses de São Paulo.
Também como bispo de Santo
André, d. Cláudio viajou para a
Europa ao lado do frei Sebastião
Benito Quaglio em busca de apoio
para a compra de uma rádio destinada à evangelização 24 horas.
Onze anos depois, a rádio Imaculada Conceição distribui programas para a Europa, a América Latina, os EUA e a África.
"D. Cláudio foi um grande incentivador. Ele entende a importância dos meios de comunicação
como instrumento de evangelização", diz frei Sebastião.
À frente da diocese de Santo André, d. Cláudio abriu as portas da
igreja para os metalúrgicos da região do ABC no fim da década de
1970. O gesto rendeu-lhe o rótulo
de progressista. Mas, segundo
amigos e fiéis colaboradores, só
ilustra outro traço de d. Cláudio: o
apoio aos oprimidos.
Segundo frei Sebastião, d. Cláudio diz que a "igreja não pode se
omitir e dizer que "não tem nada a
ver com isso'". Dos mais conservadores ao barulhento Rubens
Chasseraux - preso cinco vezes
durante o regime militar - todos
insistem que d. Cláudio não se
move por simpatia política, e sim
por uma opção pelos pobres.
Mas, com a mesma naturalidade com que circula entre sindicalistas, d. Cláudio participa de jantares com empresários. Um dos
seis bispos-auxiliares da cidade, d.
Benedito Beni dos Santos lembra
como foi bem recebido num jantar oferecido pelo presidente de
um banco. "Ele é homem do diálogo", elogia.
"Ele é um ortodoxo bom de mídia", ressalta frei Betto, ao listar
esse raro casamento como um
dos pontos que o credenciam à
vaga de papa.
O fato de ter sido o escolhido
por João Paulo 2º para pregar seu
retiro em fevereiro de 2002 é apresentado como um sinal de prestígio. Naquele ano, d. Cláudio foi
chamado para ser orientador dos
exercícios espirituais dos cardeais. Essa seria uma demonstração de que transita pela cúpula o
Vaticano.
Para d. Cláudio, repetem, a igreja tem que estar presente também
fisicamente. Daí o esforço para a
recuperação da catedral da Sé, ao
custo de R$ 5 milhões.
Outra marca de d. Cláudio é o
investimento em formação. Na
Diocese de Santo André, criou
dois seminários - o de filosofia e
o de teologia - além de um instituto para leigos. Em São Paulo,
acaba de ser construído um seminário com capacidade para 90
alunos, no Ipiranga.
Rigoroso e meticuloso, d. Cláudio aposta ainda na profissionalização administrativa. Na Diocese
de Santo André, as contas ficavam
sob a responsabilidade de um leigo, Gino Vendrami, formado em
contabilidade e ciências econômicas. Na arquidiocese, um padre
formado em direito comanda
uma equipe de contadores.
Segundo seus interlocutores, o
cardeal defende a rediscussão da
disciplina da igreja. Defende, por
exemplo, a revisão de normas como a que impede a comunhão de
católicos num segundo casamento ou mesmo a do celibato. Ao
chegar à arquidiocese, criou a escola diaconal. No fim do ano, serão formados 28 diáconos, que podem celebrar casamento e batismo sem a exigência de celibato.
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