São Paulo, domingo, 17 de abril de 2005

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João 19 pagou para se tornar papa

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das pechas sobre alguns conclaves teve a cor e o cheiro do dinheiro. Thomas J. Reed, padre jesuíta e vaticanista, em "O Vaticano por Dentro" (Edusc, 1998), refere-se às verbas à disposição de alguns cardeais, quando os Estados Papais tinham um amplo território, regulavam a urbanização, registravam terras e cobravam profanamente impostos.
Em outras palavras, alguns candidatos ao papado prometiam vantagens materiais aos que votassem nele durante o conclave.
As leis canônicas se opõem frontalmente a essa prática, chamada de simonia ("tráfico de coisas sagradas ou espirituais, tais como sacramentos, dignidades e benefícios eclesiásticos"). Júlio 2º (1503-1513), mais conhecido por ter encomendado a Michelângelo os afrescos da capela Sistina, decretou inválidos os conclaves influenciados pela compra de votos. Tal determinação foi reiterada por Paulo 4º, em 1588. A invalidação não chegou a ser aplicada.
Mas o próprio Júlio 2º, em razão de gastos com a defesa dos Estados Papais e das despesas para a construção do Vaticano, aparece na história eclesiástica como um dos papas que venderam chapéus cardinalícios. Alguns de seus cardeais compraram o cargo, a exemplo do que ocorria com empregos públicos em parte na Europa até o século 18.
Há nas leis eclesiásticas 11 dispositivos de prevenção à simonia. A preocupação indica que algo sério ocorreu. E por longo tempo.
Há poucos casos explícitos, como o de João 19 (1024-1032), político e afortunado romano que substituiu no papado seu irmão, Benedito 8º. Para tanto, em poucas horas se tornou padre e foi nomeado bispo. O conclave que o elegeu é considerado como exemplo de venalidade.
(JBN)

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