São Paulo, domingo, 17 de abril de 2005

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AMÉRICA LATINA

Presidente demite Corte Suprema, que se aliara à oposição, e chegou a decretar emergência por algumas horas

Equador mergulha em nova crise política

DA REDAÇÃO

O Equador mergulhou anteontem à noite em nova crise política depois que o presidente Lúcio Gutierrez anunciou a dissolução da Corte Suprema e a instituição do estado de emergência em Quito e regiões vizinhas. Ontem à noite Gutierrez suspendeu o estado de emergência, afirmando que a medida havia sido tomada para dissolver a Corte Suprema e que o objetivo havia sido cumprido.
Gutierrez afirmou que a normalidade está voltando ao país e pediu que o Congresso discuta o mais rápido possível o projeto de lei que permite a reorganização da Corte Suprema.
A oposição desafiou a proibição de manifestações em vigor na sexta-feira e protestou de madrugada com 10 mil pessoas nas ruas da capital, aos gritos de "fora Lúcio". A polícia não as reprimiu. Milhares de oposicionistas fizeram ontem novos protestos na cidade.
O presidente do Congresso, Omar Quintana, anunciou ter convocado para a tarde de hoje uma sessão extraordinária para analisar a dissolução da Corte Suprema, a designação de uma nova e o tratamento do projeto de lei proposto pelo governo que permite a sua reorganização.
"Gutierrez está nos levando a uma ditadura. Vamos barrar esse processo por meio de nosso apoio às manifestações", declarou Xavier Sandoval, deputado do Partido Social Cristão, o de maior bancada no Congresso unicameral.
A crise é política e econômica. Em termos políticos, o país vem de um longo período de instabilidade, que levou ao afastamento de dois presidentes desde 1997.
A atual instabilidade começou em novembro, quando os ministros da Corte Suprema anterior se aliaram à oposição no Congresso na tramitação de um processo de impeachment, finalmente arquivado, contra o presidente.
Em resposta, Gutierrez assegurou o apoio de 52 dos 100 deputados do Congresso e votou em dezembro a destituição dos integrantes do Supremo. Gutierrez, ex-coronel do Exército eleito eleito em 2002, conseguiu, ainda, a suspensão das acusações de corrupção contra o ex-presidente Abdala Bucaram, cujo partido integra a base de sustentação do governo. Bucaram, exilado havia oito anos no Panamá, voltou ao país e forçou sua bancada a bloquear o projeto de impeachment que tramitava contra o presidente.
Gutierrez abandonou suas propostas de redistribuição de renda e de barateamento dos gêneros de primeira necessidade. Adotou políticas recomendadas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) que descontentaram empresários e sindicatos. Programas sociais sofreram cortes orçamentários e o preço dos alimentos subiu mais rápido que os reajustes salariais.
Em seu pronunciamento na TV na sexta-feira, Gutierrez acusou a Corte Suprema -com membros indicados por seus aliados em dezembro- de "parcial" e afirmou que seus integrantes estavam demitidos, dizendo que a decisão era constitucional. Gutierrez apareceu rodeado por membros do alto comando das Forças Armadas, uma maneira de indicar que o apoio militar se tornara mais importante que o apoio da sociedade ou dos partidos políticos.
Ele disse "ter sido forçado" à decisão porque o Congresso não deu uma solução definitiva para a composição da Corte Suprema, "o que está gerando uma comoção nacional". O alto comando militar convocou emissoras de TV a dar seu apoio implícito a Gutierrez.


Com agências internacionais

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