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ARTIGO
Obama, dono da velha OEA, estende a mão à OEA do B
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PORT OF SPAIN
A 5ª Cúpula das Américas poderia ser substituída com vantagem pelo encontro de amanhã cedo entre o presidente Barack Obama e os governantes
dos países da Unasul (União de
Nações Sul-Americanas).
É, afinal, a reunião entre o
país número 1 da OEA (Organização dos Estados Americanos), que a velha esquerda latino-americana carimbava como
"Ministério das Colônias" dos
Estados Unidos, e o que a nova
esquerda sul-americana quer
consolidar como pilar principal
da "OEA do B", a Unasul.
O reconhecimento de Obama
à Unasul é música aos ouvidos
do governo brasileiro. "O encontro demonstra que a Unasul
já tem o reconhecimento internacional de que é uma instituição importante", diz o embaixador Osmar Chohfi, representante do Brasil na OEA.
O projeto de integração dos
países sul-americanos é prioritário no governo brasileiro desde a primeira encarnação de
Celso Amorim como chanceler,
na gestão Itamar Franco
(1992/1994).
Nascida como Comunidade
Sul-Americana de Nações, em
2004, só ganhou estado formal
em maio do ano passado. Com
menos de um ano, ser chamada
para um encontro com o presidente dos Estados Unidos é de
fato um reconhecimento importante. Ainda mais que Obama seguiu o caminho institucional: pediu o encontro ao governo chileno, que é o presidente de turno da Unasul.
Falar com os presidentes da
Unasul é falar com quem de fato conta na América Latina, já
que o outro grande regional, o
México, que não participa da
Unasul, recebeu ontem mesmo
a visita de Obama.
Mas, cuidadoso com as suscetibilidades, o presidente norte-americano convidou também, para encontros separados, os representantes dos dois
outros processos de integração,
a Caricom (Comunidade do Caribe) e o Sica (Sistema de Integração Centro-Americano).
Fatiamento e Cuba
Visto de outra forma: Obama
fatiou a América Latina, o que
lhe oferece a vantagem de tratar do tema Cuba à margem do
plenário da cúpula propriamente dita.
É óbvio que o tema Cuba, totalmente ausente do comunicado final, aparecerá nos três
encontros.
Afinal, os líderes dos 33 países da América Latina e do Caribe lançaram em dezembro, na
Bahia, a OEA do B, oficialmente
batizada de OEALC (Organização dos Estados da América Latina e do Caribe). Cuba participa, mas está suspensa da OEA
oficial, da qual fazem parte os
Estados Unidos e o Canadá, por
sua vez, ausentes da OEALC.
Há unanimidade entre os 33
latino-americanos/caribenhos
em que o embargo a Cuba é arcaico. O documento de suspensão da ilha caribenha da OEA é
definido como "manual da
Guerra Fria" por experiente diplomata que conhece todos os
escaninhos da instituição.
Obama está preparado para
ouvir, a julgar pelo que disse
seu embaixador na OEA, Hector Morales, em conversa com
jornalistas na semana passada:
"Cuba não está na agenda, mas
é óbvio que alguns países levantarão o tema em Trinidad e Tobago".
Palco para Chávez
Mas entre ouvir discursos
pró-Cuba e aceitar que o texto
final mencione a ilha vai uma
distância que o presidente norte-americano se recusa a percorrer.
Por isso, é para ele mais cômodo ouvir os mais estridentes
defensores de Cuba (Hugo
Chávez, Evo Morales e Rafael
Correa) em uma sala em que
estarão também os moderados
Luiz Inácio Lula da Silva e Michelle Bachelet, para não mencionar Alan García e Álvaro
Uribe, muito mais pró-EUA
que pró-Cuba.
Ainda mais que, no encontro
que mantiveram em Washington, no mês passado, Lula defendeu Chávez junto a Obama,
mas avisou que o presidente venezuelano é um boquirroto incontrolável. Não há melhor palco que uma cúpula como a de
Trinidad e Tobago para dar vazão à verborragia de Chávez.
Daí a que produza algum resultado, vai uma imensa distância. Ainda mais que há outros
assuntos, além de Cuba, na
agenda de alguns presidentes.
Correa, por exemplo, quer tratar com Obama do tema da imigração. A remessa dos migrantes é essencial para a economia
equatoriana, embora a maioria
dos equatorianos da diáspora
tenha se dirigido à Espanha,
não aos EUA.
Quase todos os chefes de governo querem falar (ou ouvir
mais do que falar em alguns casos) da crise econômica, naturalmente inclinados a culpar,
como Lula já o fez, "os brancos
de olhos azuis", no caso os responsáveis pelo setor financeiro
nos Estados Unidos.
De todo modo, com o documento final já pronto -e sem
destaques agudos-, o potencial
de choque na cúpula se transfere para as três reuniões de Obama no sábado e para o período
chamado de "retiro", no domingo, em que cada governante
falará do que quiser.
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