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Obama não irá processar torturadores
Presidente dos EUA diz que momento é "de reflexão, não de punição" após divulgação de memorandos da era Bush
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
A Casa Branca divulgou ontem os mais abrangentes memorandos elaborados durante
o governo de George W. Bush
(2001-2009) sobre técnicas de
interrogatório que a CIA usou
em suspeitos de terrorismo a
partir de 2002, incluindo a tortura. O presidente Barack Obama afirmou, no entanto, que os
envolvidos nos atos não serão
processados na Justiça.
"Em um dos meus primeiros
atos como presidente, proibi o
uso dessas técnicas pelos EUA
porque elas minam nossa autoridade moral e não nos deixam
mais seguros", afirmou Obama,
em nota. "Não divulgar esses
documentos só serviria para
negar fatos que já são de domínio público. Isso contribuiria
para um relato inexato do passado e alimentaria suposições
erradas e inflamatórias sobre
ações dos EUA."
Os textos relatam a hoje ilegal "simulação de afogamento",
que Bush considerava "técnica
dura de interrogatório". Outras
técnicas relatadas são: o uso de
"insetos colocados em uma caixa de confinamento"; privação
do sono e de comida; exposição
a altas temperaturas etc.
Em um dos memorandos,
um advogado do Departamento da Justiça afirmou em 2005
que a CIA podia combinar certas técnicas para produzir o resultado mais eficaz possível.
"Interrogadores podem jogar
água no suspeito e combinar
esta com outras técnicas como
posições estressantes, tapas de
insulto, tapas no abdome ou ficar apoiado a uma parede [em
posição de revista] por horas",
diz o texto. Outro memorando
dá autorização legal para uma
lista de técnicas de interrogatório propostas pela CIA.
Processos
A liberação dos textos ontem
foi apressada pelo fim de um
prazo concedido pela Justiça
em um caso iniciado pela ONG
União das Liberdades Civis,
que processou o governo pela
divulgação dos memorandos.
Apesar de aprovar "excepcionalmente" a divulgação dos
memorandos, Obama reiterou
em nota que o momento é "de
reflexão, não punição". Ainda é
teoricamente possível, porém,
processar agentes que extrapolaram as estratégias aprovadas
pelo time de advogados de
Bush. Eles também podem ser
alvo de processos no exterior e
de investigações do Congresso.
Em outra dor de cabeça legal
latente para o governo, a líder
da Comissão de Inteligência do
Senado, Dianne Feinstein, afirmou que organizará uma audiência para investigar a interceptação pela Agência Nacional
de Segurança (NSA) de comunicações domésticas nos EUA.
O "New York Times" havia
divulgado na noite da última
quarta que a NSA abusou de autorizações do Congresso e interceptou e-mails e telefonemas privados de americanos
para além dos limites legais estabelecidos em 2008. A agência
também tentou, segundo o "Times", grampear sem autorização judicial comunicações de
um legislador americano em
viagem ao exterior.
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