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"Vice-presidente queria esquadrão", diz paramilitar
Chefão dos "paras" acusa vice e ministro de vínculos com esquadrões da morte
Salvatore Mancuso está preso por vários crimes, depois de entregar as armas em 2005; presidente nega acusações e defende aliados
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos chefões dos grupos
paramilitares que aterrorizaram a Colômbia na última década, Salvatore Mancuso, acusou na noite de terça-feira o vice-presidente da Colômbia de
sugerir, na década passada, a
criação de um desses esquadrões da morte em Bogotá.
Mancuso era um dos líderes
"paras" das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), grupo
surgido para enfrentar guerrilhas de esquerda, como as Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), mas que
igualmente era financiado pelo
narcotráfico e pela indústria do
seqüestro.
Desde 2005, 31 mil paramilitares entregaram as armas, sob
a lei de "Justiça e Paz", que prometia penas mais brandas para
quem se desmobilizasse. Mancuso está preso e fez as acusações em um tribunal de Medellín. Além do vice, ele disse que
manteve encontros também
com o atual ministro da Defesa
na mesma época. "Por mais que
Mancuso tenha cometido crimes muito graves, a Justiça terá que investigar suas denúncias", disse à Folha Rodrigo
Pardo, diretor da revista "Semana", de Bogotá.
As acusações chegam na pior
hora possível para o governo -
há 12 congressistas da base
aliada presos, acusados de vínculos com os "paras". E, na segunda-feira, a cúpula da Polícia
Nacional caiu, após a revelação
de que opositores, jornalistas e
membros do governo eram
grampeados por policiais.
A Polícia Nacional do país é
unificada - no Brasil, significaria a união da polícia militar,
federal e civil, em uma só, comandada pela Defesa.
Também ontem, a Justiça
decretou a prisão do governador do departamento de Cesar
(noroeste), Hernando Molina
Araújo, por vínculos com grupos paramilitares, segundo a
agência France Presse.
O presidente colombiano,
Álvaro Uribe, defendeu seu vice, Francisco Santos, e o ministro da Defesa, Juan Manuel
Santos, que são primos. "Tenho toda a confiança na honestidade do vice-presidente e dos
meus companheiros do governo nacional", falou.
As notícias chegam no momento em que Uribe quer convencer a maioria democrata no
Congresso americano a aprovar o Tratado de Livre Comércio (TLC) com os EUA e renovar o Plano Colômbia, programa americano que dá US$ 600
milhões por ano a Bogotá para
combater o narcotráfico.
Uribe e o ministro da Defesa
disseram que esses encontros
já eram conhecidos publicamente. O vice-presidente esteve com paramilitares como jornalista -ele era colunista do
jornal "El Tiempo", propriedade de sua família-, enquanto o
ministro estaria buscando um
acordo de paz com os "paras".
Quanto aos grampos, Uribe
disse que "ninguém pode dizer
que o presidente mandou que
alguém fosse gravado".
Graças à queda da violência
no país, Uribe ainda conserva
sua popularidade alta. Pesquisa
da revista "Semana" diz que a
aprovação do presidente é de
75%, enquanto a do Congresso
é de 43%.
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