São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2007

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"Vice-presidente queria esquadrão", diz paramilitar

Chefão dos "paras" acusa vice e ministro de vínculos com esquadrões da morte

Salvatore Mancuso está preso por vários crimes, depois de entregar as armas em 2005; presidente nega acusações e defende aliados

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos chefões dos grupos paramilitares que aterrorizaram a Colômbia na última década, Salvatore Mancuso, acusou na noite de terça-feira o vice-presidente da Colômbia de sugerir, na década passada, a criação de um desses esquadrões da morte em Bogotá.
Mancuso era um dos líderes "paras" das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), grupo surgido para enfrentar guerrilhas de esquerda, como as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), mas que igualmente era financiado pelo narcotráfico e pela indústria do seqüestro.
Desde 2005, 31 mil paramilitares entregaram as armas, sob a lei de "Justiça e Paz", que prometia penas mais brandas para quem se desmobilizasse. Mancuso está preso e fez as acusações em um tribunal de Medellín. Além do vice, ele disse que manteve encontros também com o atual ministro da Defesa na mesma época. "Por mais que Mancuso tenha cometido crimes muito graves, a Justiça terá que investigar suas denúncias", disse à Folha Rodrigo Pardo, diretor da revista "Semana", de Bogotá.
As acusações chegam na pior hora possível para o governo - há 12 congressistas da base aliada presos, acusados de vínculos com os "paras". E, na segunda-feira, a cúpula da Polícia Nacional caiu, após a revelação de que opositores, jornalistas e membros do governo eram grampeados por policiais.
A Polícia Nacional do país é unificada - no Brasil, significaria a união da polícia militar, federal e civil, em uma só, comandada pela Defesa.
Também ontem, a Justiça decretou a prisão do governador do departamento de Cesar (noroeste), Hernando Molina Araújo, por vínculos com grupos paramilitares, segundo a agência France Presse.
O presidente colombiano, Álvaro Uribe, defendeu seu vice, Francisco Santos, e o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, que são primos. "Tenho toda a confiança na honestidade do vice-presidente e dos meus companheiros do governo nacional", falou.
As notícias chegam no momento em que Uribe quer convencer a maioria democrata no Congresso americano a aprovar o Tratado de Livre Comércio (TLC) com os EUA e renovar o Plano Colômbia, programa americano que dá US$ 600 milhões por ano a Bogotá para combater o narcotráfico.
Uribe e o ministro da Defesa disseram que esses encontros já eram conhecidos publicamente. O vice-presidente esteve com paramilitares como jornalista -ele era colunista do jornal "El Tiempo", propriedade de sua família-, enquanto o ministro estaria buscando um acordo de paz com os "paras".
Quanto aos grampos, Uribe disse que "ninguém pode dizer que o presidente mandou que alguém fosse gravado".
Graças à queda da violência no país, Uribe ainda conserva sua popularidade alta. Pesquisa da revista "Semana" diz que a aprovação do presidente é de 75%, enquanto a do Congresso é de 43%.


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