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"Não há pequenas soluções temporárias", diz diplomata
Último autor sobrevivente da Declaração dos Direitos Humanos, Stéphane Hessel afirma que única saída é criação de Estado palestino
LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS
Enquanto americanos e israelenses se preparam para discutir novas políticas para o
Oriente Médio, Stéphane Hessel, um dinâmico diplomata de
92 anos, multiplica conferências e entrevistas, sempre ativo
na defesa da criação de um Estado palestino.
Ele era um jovem diplomata
em 1948, quando as Nações
Unidas proclamaram a Declaração Universal dos Direitos
Humanos. Hoje, ele é o último
sobrevivente dos redatores da
declaração.
Filho do romancista judeu
Franz Hessel, ele acha que a
criação do Estado palestino é a
melhor solução para os dois povos e para a própria segurança
de Israel. Mas não se ilude: "Esse novo governo israelense está
menos inclinado a uma verdadeira negociação de paz que
qualquer outro".
FOLHA - O sr. tentou visitar Gaza
depois da guerra de Israel contra o
Hamas. Por que as autoridades israelenses negaram autorização a
um dos redatores da Declaração
Universal dos Direitos Humanos?
STÉPHANE HESSEL - Em 2008, visitei Gaza duas vezes e queria
ver os estragos que a última
ofensiva causou e como a população vive desde então. Só se
entra em Gaza com uma autorização das autoridades israelenses. Como a autorização não foi
dada, adiei a viagem.
Compreendo as razões dessas restrições: o que se passou
em Gaza não honra os israelenses. A recusa a que pessoas venham prestar socorro à população de Gaza pode ser explicada.
Ela não se justifica mas se explica pelo desejo de que não se
divulgue muito o que se passou.
É evidente que a maneira como foi conduzida a ofensiva é
totalmente contrária a todas as
convenções internacionais sobre a utilização de certas armas, sobre a destruição de monumentos, sobre o ataque contra civis. Mesmo que os israelenses possam se justificar dizendo que era pela segurança
de Israel, para lutar contra terroristas do Hamas, isso não
convence a comunidade internacional. A impressão que temos é que eles se entregaram a
um projeto de destruição do
Hamas que não era compatível
com as regras internacionais.
FOLHA - Como o senhor qualifica o
Hamas? Binyamin Netanyahu vai
aceitar uma negociação política
com o grupo?
HESSEL - O Hamas é um conjunto no qual existem vários
elementos. Há uma origem islâmica, mas ele tenta obter a
maioria no interior da organização palestina. É um partido
que tem o islã como inspiração,
é apoiado pela Irmandade Muçulmana do Egito, recebe ajuda
da Síria, pois é lá que se encontram seus principais dirigentes.
Mas não é mais terrorista do
que os outros movimentos que
defendem uma ação de libertação da Palestina. O fato que obteve a maioria nas eleições legislativas palestinas de três
anos atrás o torna um parceiro
incontornável.
Se quisermos chegar a um
debate sobre o futuro da Palestina não se pode negociar apenas com o Fatah. É necessário
que todos estejam prontos a
discutir com o Fatah e com o
Hamas, se possível com um governo que resultará de novas
eleições em que se apresentarão dirigentes do Hamas, do
Fatah e de outros grupos. É
preciso construir uma organização que possa falar em nome
de todos os palestinos.
FOLHA - O sr. crê que Hillary Clinton e Barack Obama vão iniciar negociações com o Hamas?
HESSEL - Não sei. Penso que seria muito grave se eles ficassem
imóveis na posição que consiste em dizer que não se pode negociar com o Hamas porque decretaram que ele é um movimento terrorista. Os movimentos de libertação são muitas vezes levados, por razões boas ou
más, a fazer atos que se pode
considerar como atos de terror.
Não se pode confundir isso com
movimentos como a Al Qaeda,
que usa o terror para manifestar o ódio contra o Ocidente.
FOLHA - Qual é a solução para o
conflito no Oriente Médio?
HESSEL - Não há pequenas soluções intermediárias temporárias. Foi o que se tentou em Oslo (em 1993). A negociação tomou um caminho de pequenas
etapas, primeiro Gaza e Jericó,
veremos mais tarde o resto. Isso não deu os resultados esperados, e a Segunda Intifada veio
varrer essas propostas de Oslo.
Hoje, todos os que pensam
esse problema com seriedade
dizem que só há uma solução:
dois Estados. É preciso que
exista um Estado Palestino que
disponha de soberania e independência, isto é, ter contato
com o resto do mundo, não viver com fronteiras fechadas,
poder haver comunicação entre Gaza e a Cisjordânia, dispor
de uma capital que só pode ser
Jerusalém Oriental e encontrar uma solução para o retorno
dos numerosos refugiados.
FOLHA - Quem não quer o Estado
Palestino ?
HESSEL - Em primeiro lugar os
israelenses. Eles não têm nenhuma confiança, dizem: "Os
palestinos são nossos inimigos,
querem nos jogar no mar e dar
a eles um Estado é extremamente perigoso para nós, por
que aceitaríamos o que a ONU e
o mundo querem nos impor?".
FOLHA - Falta vontade política da
parte de Israel ?
HESSEL - Já não havia vontade
política no tempo de Ehud Olmert e de Tzipi Livni e agora ela
desapareceu mais ainda com
Netanyahu, cujo chanceler
[Avigdor Liberman] é um islamofóbico. Esse governo está
menos inclinado a uma verdadeira negociação de paz que
qualquer outro.
Sempre fui um defensor da
necessidade de os judeus terem
seu Estado. Estava em Nova
York, nas Nações Unidas, em
1947 e 1948 quando meus colegas e eu trabalhávamos para
dar vida ao Estado de Israel. Ficamos felizes que esse Estado
pudesse ser criado para os judeus que tinham sofrido tanto
não somente sob o nazismo
mas durante séculos, depois de
terem sido obrigados ao exílio.
Não sou um inimigo de Israel,
ao contrário, sou um amigo e
por isso penso ser de seu interesse e de todos os que em Israel enxergam longe chegar a
uma negociação positiva, construtiva com a criação de um Estado Palestino.
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