|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para Madri, Honduras não é tema de cúpula
Embaixador espanhol no Brasil diz que ficará "enormemente surpreso" se Lula tentar abordar tema em encontro UE-América Latina
Presidente brasileiro chegou a ameaçar boicotar reunião, que começa hoje, caso fosse mantida a participação do presidente Porfirio Lobo
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O embaixador da Espanha no
Brasil, Carlos Alonso Zalvidar,
mandou um recado para o governo brasileiro: disse que ficará "enormemente surpreso" se
o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva ou "algum alto funcionário brasileiro" tentarem levantar a questão de Honduras
na Cúpula da União Europeia
com América Latina e Caribe,
que começa hoje, em Madri.
"Seria curioso e contraditório, porque o Brasil foi o primeiro a dizer que a Europa não
tem nada a ver com isso. Se não
tem, a questão não pode ser discutida nesse foro. Eu estranharia muitíssimo, ficaria enormemente surpreso", disse o embaixador a jornalistas.
Tanto a Espanha quanto o
Brasil lideraram a condenação
ao golpe de Estado que derrubou o então presidente Manuel
Zelaya, mas os dois países se dividiram depois quanto ao encaminhamento da crise
Enquanto o governo espanhol reconheceu o novo presidente eleito, Pepe Lobo, o Brasil até hoje não o fez.
Lula chegou a ameaçar não
comparecer à Cúpula de Madri
se Pepe Lobo também fosse.
Para contornar o impasse, o governo espanhol negociou com o
presidente hondurenho para
dispensar a ida ao encontro e se
dedicar a atividades paralelas.
Acordo UE-Mercosul
No encontro em Madri, está
prevista a retomada de discussões sobre um acordo comercial entre União Europeia e
Mercosul, com redução de tarifas, menos burocracia e facilidades de exportação nos dois
sentidos.
As negociações foram interrompidas em 2004 devido a
dois fatores: as diferenças nos
capítulos agrícola e industrial e
a prioridade que os dois blocos
deram à Rodada Doha no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio), que acabou
não sendo finalizada.
Segundo o embaixador espanhol, a Europa sobretaxa muito
as importações agrícolas, enquanto o Mercosul taxa excessivamente os produtos industrializados.
"O mercado brasileiro, por
exemplo, é protegido demais,
mas o Brasil precisa enormemente de suas exportações. O
que se busca é um equilíbrio
melhor, com os dois lados cedendo um pouco", resumiu.
Segundo ele, a crise econômica da zona do euro, que
ameaça a própria Espanha, não
vai atrapalhar a reunião dos 60
chefes de Estado e de governo
das duas regiões. Ao contrário,
acha que este é o melhor momento, até porque as empresas
espanholas estão lucrando
mais com suas filiais na América do Sul do que na Espanha.
Além da cúpula geral, estão
previstas três outras paralelas:
da União Europeia com o Mercosul, com a América Central e
com o grupo andino. Neste último caso, porém, só irão participar os dois países considerados
da órbita dos Estados Unidos:
Colômbia e Peru. Venezuela,
Equador e Bolívia não marcarão presença nessa parte.
Depois de Madri, Lula voltará a se encontrar com o presidente de governo espanhol, José Luis Zapatero, no dia 27, no
Rio de Janeiro, durante o encontro da Aliança das Nações.
Texto Anterior: Em "presente ao Brasil", Ahmadinejad manda soltar francesa Próximo Texto: Governo tailandês rejeita mediação da ONU Índice
|