São Paulo, segunda-feira, 17 de maio de 2010

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Para Madri, Honduras não é tema de cúpula

Embaixador espanhol no Brasil diz que ficará "enormemente surpreso" se Lula tentar abordar tema em encontro UE-América Latina

Presidente brasileiro chegou a ameaçar boicotar reunião, que começa hoje, caso fosse mantida a participação do presidente Porfirio Lobo

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O embaixador da Espanha no Brasil, Carlos Alonso Zalvidar, mandou um recado para o governo brasileiro: disse que ficará "enormemente surpreso" se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou "algum alto funcionário brasileiro" tentarem levantar a questão de Honduras na Cúpula da União Europeia com América Latina e Caribe, que começa hoje, em Madri.
"Seria curioso e contraditório, porque o Brasil foi o primeiro a dizer que a Europa não tem nada a ver com isso. Se não tem, a questão não pode ser discutida nesse foro. Eu estranharia muitíssimo, ficaria enormemente surpreso", disse o embaixador a jornalistas.
Tanto a Espanha quanto o Brasil lideraram a condenação ao golpe de Estado que derrubou o então presidente Manuel Zelaya, mas os dois países se dividiram depois quanto ao encaminhamento da crise
Enquanto o governo espanhol reconheceu o novo presidente eleito, Pepe Lobo, o Brasil até hoje não o fez.
Lula chegou a ameaçar não comparecer à Cúpula de Madri se Pepe Lobo também fosse. Para contornar o impasse, o governo espanhol negociou com o presidente hondurenho para dispensar a ida ao encontro e se dedicar a atividades paralelas.

Acordo UE-Mercosul
No encontro em Madri, está prevista a retomada de discussões sobre um acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, com redução de tarifas, menos burocracia e facilidades de exportação nos dois sentidos.
As negociações foram interrompidas em 2004 devido a dois fatores: as diferenças nos capítulos agrícola e industrial e a prioridade que os dois blocos deram à Rodada Doha no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio), que acabou não sendo finalizada.
Segundo o embaixador espanhol, a Europa sobretaxa muito as importações agrícolas, enquanto o Mercosul taxa excessivamente os produtos industrializados.
"O mercado brasileiro, por exemplo, é protegido demais, mas o Brasil precisa enormemente de suas exportações. O que se busca é um equilíbrio melhor, com os dois lados cedendo um pouco", resumiu.
Segundo ele, a crise econômica da zona do euro, que ameaça a própria Espanha, não vai atrapalhar a reunião dos 60 chefes de Estado e de governo das duas regiões. Ao contrário, acha que este é o melhor momento, até porque as empresas espanholas estão lucrando mais com suas filiais na América do Sul do que na Espanha.
Além da cúpula geral, estão previstas três outras paralelas: da União Europeia com o Mercosul, com a América Central e com o grupo andino. Neste último caso, porém, só irão participar os dois países considerados da órbita dos Estados Unidos: Colômbia e Peru. Venezuela, Equador e Bolívia não marcarão presença nessa parte.
Depois de Madri, Lula voltará a se encontrar com o presidente de governo espanhol, José Luis Zapatero, no dia 27, no Rio de Janeiro, durante o encontro da Aliança das Nações.


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