UOL


São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

EUA assumem risco com saída rápida

DAVID E. SANGER
DO "NEW YORK TIMES"

O anúncio de uma data fixa para a criação de um governo interino do Iraque e para o fim da ocupação formal dos EUA -mas não da presença militar americana- promete dar a soberania almejada pelos iraquianos e oferece ao presidente George W. Bush o símbolo político que precisava: o início de uma estratégia de retirada que ele pode mostrar aos eleitores.
Mas o preço de uma transferência de poder apressada, os próprios assessores mais próximos de Bush admitem, pode ser uma rápida perda de controle -sobre a elaboração de uma nova Constituição e o esforço de fazer florescer a democracia numa região onde ela nunca foi cultivada.
Após redefinir a missão dos EUA no Iraque -de desarmar Saddam Hussein para criar "uma sociedade livre e democrática" como modelo regional-, qualquer plano que dê ao Iraque sua soberania antes da adoção de uma democracia funcional ameaça esse grande projeto.
"É um risco, um grande risco", admitiu um dos principais arquitetos da campanha americana para depor Saddam. ""Mas é fácil superestimar o grau de controle que temos hoje e subestimar o que manteremos ", disse ele, sem querer se identificar.
Se o plano for bem-sucedido, Bush poderia declarar o fim da ocupação formal do Iraque poucos meses antes da eleição presidencial de novembro de 2004.
Além da presença militar, os EUA seguirão tendo enorme poder financeiro no Iraque, com controle sobre os US$ 20 bilhões da reconstrução aprovados pelo Congresso e outros bilhões em investimentos privados no país.
O governo Bush rechaça as críticas de que sua nova estratégia foi guiada por motivos eleitorais, dizendo que o novo cronograma foi uma iniciativa dos iraquianos, apesar de pouco antes dizer que o país não estava pronto para assumir autoridade total e que transferir o poder antes de a democracia estar estabelecida seria um convite ao caos ou coisa pior.
A nova estratégia cria um governo antes de uma Constituição. Transfere poder aos iraquianos antes de eleições nacionais e, talvez, sem que o governo interino formado em encontros e eleições regionais tenha ganho legitimidade entre a população.
Os direitos humanos e das minorias e a questão do federalismo num país bastante diverso também podem não estar bem estabelecidos, assim como a relação entre a lei islâmica e a lei nacional.
Bush tem insistido que é "inconcebível" que os EUA deixem o Iraque antes do estabelecimento de uma democracia estável. A questão que ninguém na Casa Branca responde ainda é como ele saberá que esse momento chegou.


Texto Anterior: Iraque ocupado: Suposta voz de Saddam pede mais ataques
Próximo Texto: Rainha nega pedido de Bush por mais segurança
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.