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ANÁLISE
EUA assumem risco com saída rápida
DAVID E. SANGER
DO "NEW YORK TIMES"
O anúncio de uma data fixa para
a criação de um governo interino
do Iraque e para o fim da ocupação formal dos EUA -mas não
da presença militar americana-
promete dar a soberania almejada
pelos iraquianos e oferece ao presidente George W. Bush o símbolo político que precisava: o início
de uma estratégia de retirada que
ele pode mostrar aos eleitores.
Mas o preço de uma transferência de poder apressada, os próprios assessores mais próximos
de Bush admitem, pode ser uma
rápida perda de controle -sobre
a elaboração de uma nova Constituição e o esforço de fazer florescer a democracia numa região onde ela nunca foi cultivada.
Após redefinir a missão dos
EUA no Iraque -de desarmar
Saddam Hussein para criar "uma
sociedade livre e democrática"
como modelo regional-, qualquer plano que dê ao Iraque sua
soberania antes da adoção de
uma democracia funcional ameaça esse grande projeto.
"É um risco, um grande risco",
admitiu um dos principais arquitetos da campanha americana para depor Saddam. ""Mas é fácil superestimar o grau de controle que
temos hoje e subestimar o que
manteremos ", disse ele, sem querer se identificar.
Se o plano for bem-sucedido,
Bush poderia declarar o fim da
ocupação formal do Iraque poucos meses antes da eleição presidencial de novembro de 2004.
Além da presença militar, os
EUA seguirão tendo enorme poder financeiro no Iraque, com
controle sobre os US$ 20 bilhões
da reconstrução aprovados pelo
Congresso e outros bilhões em investimentos privados no país.
O governo Bush rechaça as críticas de que sua nova estratégia foi
guiada por motivos eleitorais, dizendo que o novo cronograma foi
uma iniciativa dos iraquianos,
apesar de pouco antes dizer que o
país não estava pronto para assumir autoridade total e que transferir o poder antes de a democracia
estar estabelecida seria um convite ao caos ou coisa pior.
A nova estratégia cria um governo antes de uma Constituição.
Transfere poder aos iraquianos
antes de eleições nacionais e, talvez, sem que o governo interino
formado em encontros e eleições
regionais tenha ganho legitimidade entre a população.
Os direitos humanos e das minorias e a questão do federalismo
num país bastante diverso também podem não estar bem estabelecidos, assim como a relação
entre a lei islâmica e a lei nacional.
Bush tem insistido que é "inconcebível" que os EUA deixem o
Iraque antes do estabelecimento
de uma democracia estável. A
questão que ninguém na Casa
Branca responde ainda é como ele
saberá que esse momento chegou.
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