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EUA culpam os dois lados por fracasso de acordo hondurenho
Carta pública enviada por Zelaya a Obama em que democrata é acusado de mudar de posição sobre reação a golpe causa irritação
Para americanos, golpista errou ao tentar criar governo
de unidade antes de decisão sobre volta de deposto, que erra ao tentar esvaziar pacto
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Apesar de continuar apoiando uma solução negociada para
a crise hondurenha, que seja
baseada no acordo Tegucigalpa-San José e passe pelas eleições presidenciais do dia 29, os
EUA acham que ambos os lados
do conflito procuram inviabilizar a implantação do texto, assinado no mês passado por representantes do líder golpista,
Roberto Micheletti, e do presidente deposto, Manuel Zelaya,
sob o patrocínio do então secretário-assistente de Estado
americano, Thomas Shannon.
Na avaliação de Washington,
Micheletti joga com o tempo
para que o pleito aconteça e a
comunidade internacional tenha de lidar com o fato consumado; já Zelaya percebeu não
ter força política suficiente para garantir que o Congresso
hondurenho vote por seu retorno ao poder, e por isso procura invalidar o acordo que assinou. Causou particular irritação nos americanos a carta enviada no fim de semana pelo líder deposto ao presidente Barack Obama.
Na correspondência, lida em
voz alta pelo hondurenho anteontem na embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde ele se
encontra como "hóspede" do
governo brasileiro, Zelaya diz
que renuncia a qualquer acordo, acusa os EUA de mudarem
sua posição inicial em relação
ao golpe e pede que o democrata reafirme publicamente o
compromisso com sua restituição. A acusação de mudança de
posição tem origem em entrevista dada à CNN por Shannon,
em que ele diz que cabe ao Congresso hondurenho decidir a
volta ou não de Zelaya.
Depois de falar que não discutiria correspondências diplomáticas em público, um funcionário graduado da Casa Branca
disse à Folha que os EUA continuam comprometidos em
ajudar Honduras a restabelecer a ordem democrática e
constitucional interrompida
pelo golpe. Mas ressaltou que é
importante que todas as partes
evitem ações e declarações que
só servem para perpetuar a crise, e não para ajudar a chegar a
uma resolução pacífica. Ele
exortou ambos os lados a voltarem à mesa de negociações e
cumprirem os compromissos
que fizeram no acordo Tegucigalpa-San José.
Tom semelhante foi adotado
pelo Departamento de Estado,
para o qual há uma "clara responsabilidade" de ambos os lados, não só do regime golpista,
pela não evolução do acordo.
Na avaliação dos americanos,
Micheletti errou ao tentar estabelecer o governo de unidade
antes de o Congresso se pronunciar sobre o retorno de Zelaya, como pede um dos pontos
do trato, mas o líder deposto
errou igualmente ao tentar esvaziar o acordo antes que o Legislativo pudesse decidir.
Zelaya também foi indiretamente criticado no encontro
diário do porta-voz do Departamento de Estado com os jornalistas, ontem, em Washington. Indagado sobre outra carta
enviada pelo hondurenho, dessa vez para a secretária Hillary
Clinton, há duas semanas, Ian
Kelly confirmou que a correspondência continua sem resposta formal, mas disse que isso não significava que Zelaya
estava sendo ignorado. "Altos
funcionários [do governo americano] falam com ele" frequentemente, disse Kelly.
De qualquer maneira, a insistência em manter vivo o acordo
começa a isolar o governo americano também internamente.
Na semana passada, um assessor do democrata John Kerry,
presidente da poderosa Comissão de Relações Exteriores do
Senado, disse que houve, sim,
uma "mudança abrupta" na posição dos EUA, que "causou o
colapso do acordo que o próprio país ajudou a negociar".
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