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Suborno e sonegação marcam atividade econômica
DO ENVIADO A HAVANA
"Aperfeiçoamento empresarial" é uma das metas mais repetidas por Raúl Castro -e indica mudanças que virão após a
morte de seu irmão.
Considerado mais pragmático na economia, Raúl conseguiu manter a coesão das Forcas Armadas Revolucionárias
(FAR) ao colocar algumas das
atividades econômicas com
maior potencial na ilha sob a
órbita dos uniformizados.
"Mais feijões, menos canhões"
foi o lema no auge da crise.
Hotéis, agências de táxi, fábricas de açúcar e até escritórios de arrecadação de impostos são administrados pelos militares. Ainda assim, Raúl sabe
que tem muito a mudar. O fracasso do setor de serviços é um
dos temas mais discutidos. A
produtividade é considerada
baixíssima - em um país de
funcionários públicos desmotivados- e a corrupção cresce.
O segundo jornal mais importante do regime, "Juventude Rebelde", publicou uma série de reportagens críticas há
menos de dois meses, sob a
manchete "A Grande Trapaça".
A reportagem contava que o
governo havia solicitado ao
Instituto de Filosofia, um dos
centros de estudo mais importantes do regime, que investigasse as causas da baixa produtividade e da corrupção.
Há sinais desse fracasso empresarial por toda parte. Vários
taxistas sugerem que não se ligue o taxímetro e aí cobram um
valor menor ao passageiro. "É
melhor assim do que ter que
pagar tudo para o governo",
disse o taxista Pavel, empregado de uma estatal gerida pelo
Exército, à Folha. Os inspetores oficiais são subornados para não registrarem a "falta grave" de taxistas que circulam
com taxímetros desligados.
O mesmo acontece com os
"paladares", os restaurantes
caseiros que foram permitidos
durante o período especial. A
lei exige que não tenham mais
de 12 cadeiras e que seus proprietários só empreguem parentes -ambas medidas visam
coibir o crescimento dessas
empresas capitalistas.
Mas vários paladares visitados pela Folha desrespeitam o
limite das cadeiras e têm empregados que não são parentes
-e subornam periodicamente
os fiscais do bairro.
Mecânicos e sapateiros "ilegais", que trabalham clandestinamente por não obterem licença ou para fugir dos impostos, abundam em Havana.
Corrupção cotidiana
Há um ano, em discurso na
Universidade de Havana, Fidel
Castro anunciou uma ofensiva
contra a corrupção. Ele ordenou que 10.500 funcionários
públicos ligados ao Gabinete da
Presidência interviessem em
todos os postos de gasolina da
ilha por seis meses. O resultado
foi que o faturamento nos postos registrou um crescimento
de 230% no período.
Em Santiago de Cuba, por
exemplo, verificou-se que 80%
dos pagamentos de combustíveis eram desviados para os
bolsos dos funcionários dos
postos. Em maio deste ano, a
ministra de Auditoria e Controle foi demitida por Fidel.
A Folha conversou com alguns dos especialistas que estudam a corrupção na ilha. Eles
admitem que é generalizada,
mas acabam por defender os
corruptos. "Nos EUA, uma só
pessoa pode roubar US$ 10 milhões. Aqui talvez tenhamos 11
milhões de pessoas roubando
um dólar, mas corrupção é diferente de sobrevivência."
(RJL)
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