São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2006

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Suborno e sonegação marcam atividade econômica

DO ENVIADO A HAVANA

"Aperfeiçoamento empresarial" é uma das metas mais repetidas por Raúl Castro -e indica mudanças que virão após a morte de seu irmão.
Considerado mais pragmático na economia, Raúl conseguiu manter a coesão das Forcas Armadas Revolucionárias (FAR) ao colocar algumas das atividades econômicas com maior potencial na ilha sob a órbita dos uniformizados. "Mais feijões, menos canhões" foi o lema no auge da crise.
Hotéis, agências de táxi, fábricas de açúcar e até escritórios de arrecadação de impostos são administrados pelos militares. Ainda assim, Raúl sabe que tem muito a mudar. O fracasso do setor de serviços é um dos temas mais discutidos. A produtividade é considerada baixíssima - em um país de funcionários públicos desmotivados- e a corrupção cresce.
O segundo jornal mais importante do regime, "Juventude Rebelde", publicou uma série de reportagens críticas há menos de dois meses, sob a manchete "A Grande Trapaça".
A reportagem contava que o governo havia solicitado ao Instituto de Filosofia, um dos centros de estudo mais importantes do regime, que investigasse as causas da baixa produtividade e da corrupção.
Há sinais desse fracasso empresarial por toda parte. Vários taxistas sugerem que não se ligue o taxímetro e aí cobram um valor menor ao passageiro. "É melhor assim do que ter que pagar tudo para o governo", disse o taxista Pavel, empregado de uma estatal gerida pelo Exército, à Folha. Os inspetores oficiais são subornados para não registrarem a "falta grave" de taxistas que circulam com taxímetros desligados.
O mesmo acontece com os "paladares", os restaurantes caseiros que foram permitidos durante o período especial. A lei exige que não tenham mais de 12 cadeiras e que seus proprietários só empreguem parentes -ambas medidas visam coibir o crescimento dessas empresas capitalistas.
Mas vários paladares visitados pela Folha desrespeitam o limite das cadeiras e têm empregados que não são parentes -e subornam periodicamente os fiscais do bairro.
Mecânicos e sapateiros "ilegais", que trabalham clandestinamente por não obterem licença ou para fugir dos impostos, abundam em Havana.

Corrupção cotidiana
Há um ano, em discurso na Universidade de Havana, Fidel Castro anunciou uma ofensiva contra a corrupção. Ele ordenou que 10.500 funcionários públicos ligados ao Gabinete da Presidência interviessem em todos os postos de gasolina da ilha por seis meses. O resultado foi que o faturamento nos postos registrou um crescimento de 230% no período.
Em Santiago de Cuba, por exemplo, verificou-se que 80% dos pagamentos de combustíveis eram desviados para os bolsos dos funcionários dos postos. Em maio deste ano, a ministra de Auditoria e Controle foi demitida por Fidel.
A Folha conversou com alguns dos especialistas que estudam a corrupção na ilha. Eles admitem que é generalizada, mas acabam por defender os corruptos. "Nos EUA, uma só pessoa pode roubar US$ 10 milhões. Aqui talvez tenhamos 11 milhões de pessoas roubando um dólar, mas corrupção é diferente de sobrevivência." (RJL)


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