São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2006

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Crise gerou renovação no cinema

DA REPORTAGEM LOCAL

Numa das cenas finais do filme "Esperando o Messias" (2000), do cineasta argentino Daniel Burman, o protagonista tenta entrar num banco para descontar um cheque quando a porta da agência se fecha abruptamente. O motivo: impedir a invasão do local por clientes furiosos. Rodado um ano antes do "estallido", o filme foi tido como visionário em relação ao aconteceria no ano seguinte.
A partir de então, o chamado novo cinema argentino passou a ter a crise econômica e política como pano de fundo para os enredos, mas não só. A crise também se tornou a principal arma de marketing dessa cinematografia.
"Os cineastas argentinos tomaram carona na crise e passaram a ser saudados no exterior por estarem produzindo em condições precárias", disse à Folha o veterano Fernando Solanas. "Muitos deles, entretanto, não chegaram perto de retratar a realidade argentina. Tome um filme como "El Bonaerense" (2002, Pablo Trapero) e compare a vida daquele policial com as notícias dos jornais. Aquilo é uma coisa para crianças."
Solanas destaca como produções importantes do período os filmes de Lucrecia Martel ("O Pântano", 2001) e de Adrián Caetano (2001, "Bolivia").
Hoje a temática do chamado "novo cinema argentino" parece dar sinais de desgaste, deixando de emocionar platéias. "O que falta é que esses cineastas sejam mais ousados, que tenham a pretensão de olhar o país sem ter na cabeça filmes que parecem telenovela", diz Solanas. (SYLVIA COLOMBO)


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