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Crise gerou renovação no cinema
DA REPORTAGEM LOCAL
Numa das cenas finais
do filme "Esperando o
Messias" (2000), do cineasta argentino Daniel
Burman, o protagonista
tenta entrar num banco
para descontar um cheque
quando a porta da agência
se fecha abruptamente. O
motivo: impedir a invasão
do local por clientes furiosos. Rodado um ano antes
do "estallido", o filme foi
tido como visionário em
relação ao aconteceria no
ano seguinte.
A partir de então, o chamado novo cinema argentino passou a ter a crise
econômica e política como
pano de fundo para os
enredos, mas não só. A crise também se tornou a
principal arma de marketing dessa cinematografia.
"Os cineastas argentinos tomaram carona na
crise e passaram a ser saudados no exterior por estarem produzindo em condições precárias", disse à
Folha o veterano Fernando Solanas. "Muitos deles,
entretanto, não chegaram
perto de retratar a realidade argentina. Tome um filme como "El Bonaerense"
(2002, Pablo Trapero) e
compare a vida daquele
policial com as notícias
dos jornais. Aquilo é uma
coisa para crianças."
Solanas destaca como
produções importantes do
período os filmes de Lucrecia Martel ("O Pântano", 2001) e de Adrián
Caetano (2001, "Bolivia").
Hoje a temática do chamado "novo cinema argentino" parece dar sinais
de desgaste, deixando de
emocionar platéias. "O
que falta é que esses cineastas sejam mais ousados, que tenham a pretensão de olhar o país sem ter
na cabeça filmes que parecem telenovela", diz Solanas.
(SYLVIA COLOMBO)
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