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Revoltado com perdas na crise, argentino diz não ter mais país
DE BUENOS AIRES
Dezembro de 2001 tirou de
Horácio Vázquez, 50, todo o orgulho que tinha de seu país.
Três foram os bofetões que ele
levou da crise de cinco anos
atrás: teve seus depósitos bancários em dólar congelados e
pesificados; perdeu seus investimentos em títulos da dívida
argentina com a declaração do
"default"; e, como se não bastasse, foi demitido do emprego
de engenheiro na corporação
japonesa em que trabalhava,
em Buenos Aires.
"É preciso ser Rambo para
sobreviver nessa sociedade",
afirma. "Vai além do dinheiro, é
uma questão de princípios. Como é possível sobreviver em
um lugar em que não sei se o
que é meu é mesmo meu? Desconfio de tudo. Nasci aqui, mas
sou um estrangeiro. Não consigo me orgulhar de nada. Não tenho país", diz ele.
Parece grande sua sede por
contar como se sentiu "idiota"
ao poupar em dólares justamente para não ter surpresas
desagradáveis e, ainda assim,
perder tudo o que tinha. Ou então como se sentiu "traído" ao
investir em títulos de seu país e
receber em troca a moratória.
O emprego ele perdeu em 18
de janeiro de 2002. Falando inglês e francês, com experiência
em multinacionais, já tinha então 45 anos e nunca mais conseguiu trabalhar em sua área.
Primeiro, foi para as ruas fazer panelaço. Depois, tornou-se secretário-geral da ADAPD
(Associação dos Prejudicados
pela Pesificação e pelo Default)
e fez dessa briga sua rotina.
Até hoje Vázquez espera uma
decisão da Justiça -agora da
Corte Suprema- para pôr fim à
etapa que, inevitavelmente revivida todos os dias, só cultiva
raiva e decepção.
"Não pude comprar o apartamento que queria, que hoje
custa 25% mais. Não pude fazer
a viagem que tinha de fazer.
Morreu meu irmão porque eu
não tinha dinheiro para a operação. Quero cobrar os danos e
prejuízos ao banco e ao Estado
por não ter ficado com meu dinheiro", conta. "Também deixei de fazer minha pós-graduação no exterior."
A associação, além de reivindicar os direitos de depositantes e titulares de bônus lesados,
ensina seus membros a como
economizar na Argentina hoje.
"Ensinamos a manter o dinheiro fora dos bancos", revela.
Mortes
Entre os lesados pelo "corralito" (congelamento de depósitos) e pelo "corralón" (a pesificação) é normal encontrar
quem relate histórias de amigos e conhecidos que morreram depois do susto e da desilusão de ter as economias bloqueadas. Em outubro do ano
passado, um estudo feito pela
fundação Favaloro e pela Universidade de Massachusetts
(EUA) revelou que, no período
da crise (de abril de 1999 a dezembro de 2002), 20 mil pessoas a mais morreram de doenças cardíacas na Argentina em
comparação com o período
pós-crise (de janeiro de 2003 a
setembro de 2004).
(BRUNO LIMA)
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