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Santa Cruz e La Paz transferem embate agora ao Congresso
Governo terá de passar pelo Legislativo dois referendos para que a nova Carta entre em vigência, mas oposição controla Senado
Estatutos autonômicos, por sua vez, passam por consulta popular e depois enfrentam bancada oficialista na Câmara
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A SANTA CRUZ
As festas promovidas pelo
governo de Evo Morales em La
Paz e pela oposição nos quatro
departamentos autonomistas
no sábado sinalizam o encerramento do capítulo de tensão
mais aguda na atual crise política da Bolívia.
Embora o impasse siga, está
aberta agora uma etapa de batalha no Congresso, onde os
dois lados tentarão aprovar
propostas de referendo que se
auto-excluem: os da nova
Constituição e os sobre as autonomias regionais.
Após uma semana de guerra
de nervos no país, o único incidente grave registrado na jornada do fim de semana foi a
confrontação entre camponeses e a população pró-autonomia da cidade cruzenha de Santa Rosa, que deixou 52 feridos.
Pouco, perto das acusações
de que o governo militarizaria
os departamentos oposicionistas e das ameaças de bloqueio e
de violência feitas por movimentos sociais, com aval mais
ou menos velado de Morales.
Um sinal, ainda que frágil, de
alguma distensão foi uma declaração de ontem do presidente Evo Morales: "Quero elogiar
essa manifestação pacífica, democrática, e agora creio que todos devemos dialogar, com base nas transformações profundas da nova Constituição", afirmou ele, em declarações citadas na agência estatal ABI.
Morales elogiou os governadores "por terem contribuído
para que passemos em paz essas festas de fim de ano".
Apesar de agradecer esforços
de "personalidades" e embaixadores para tentar promover a
conversa do governo com os
oposicionistas, o presidente
voltou a dizer que mediadores
externos não são importantes.
Anteontem, porém, o porta-voz Alex Contreras havia dito
que La Paz poderia aceitar embaixadores europeus como mediadores com a oposição -os
governadores têm reiterado
pedido de participação externa.
Prazos
Enquanto esse diálogo não
acontece, o governo terá a tarefa de fazer passar pelo Congresso os dois referendos que faltam para que a nova Constituição entre em vigência: um primeiro, sobre limites de latifúndio, e um segundo, de ratificação ou não do texto completo.
O problema é que os departamentos e o principal partido
oposicionista, o Podemos, não
reconhecem a nova Carta,
aprovada com boicote de parte
da oposição e várias manobras
governistas para mudar o regimento e acelerar o processo.
Para passar, as consultas precisam dos votos de dois terços
do total dos parlamentares da
Câmara -dominada pelo governo- e pelo Senado -controlado pelo Podemos.
Os departamentos autonomistas também terão dificuldades. A primeira é que os estatutos que pretendem fazer valer
não estão previstos na Constituição em vigência. A autonomia está no novo texto constitucional, mas a oposição não
concorda com ela nem aceita o
documento.
Mais: no caso de Santa Cruz,
o estatuto foi elaborado por
uma instância forte e popular,
mas que também não existe legalmente, a Assembléia Autonômica Provisória, formada
por governador, parlamentares
nacionais e conselheiros eleitos
indiretamente.
Depois de colher as assinaturas para os referendos, os governadores também terão de
aprová-los no Congresso, onde
perderiam na Câmara.
Além da aprovação dos referendos pelo Congresso, o processo deverá levar ao menos
120 dias, prazo para a preparação das consultas.
Na queda-de-braço entre
oposicionistas e Morales, há
ainda o referendo de revogação
de mandatos proposto por La
Paz para presidente e governadores, que, por ora, não concordam com as regras.
De todo modo, analistas locais afirmam que, se levado
adiante, o conjunto de consultas transferirá a complicada
disputa para as urnas -uma
arena com regras claras e de
controle independente.
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