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Novos projetos da Petrobras na Bolívia continuam no papel após um ano
Governo Morales não transferiu campo prometido e cedeu outro à Total
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Um ano depois de os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva
e Evo Morales assinarem "uma
nova fase de cooperação" na
área energética, com investimentos de até US$ 1 bilhão, a
Petrobras não avançou em praticamente nenhum dos novos
projetos negociados ao longo
de 2007 e ainda viu a Bolívia ceder à empresa francesa Total
um dos campos de gás prometidos à estatal brasileira.
O maior impasse está no
principal projeto acertado no
ano passado, a transferência à
Petrobras do campo Itaú, um
dos maiores do país e hoje sob
controle da Total. Embora haja
um acordo entre as empresas
desde o primeiro semestre, o
governo boliviano não enviou
até agora a transferência para o
Congresso, que, por lei, precisa
aprovar a transação.
O impasse aparentemente
pegou a Petrobras de surpresa,
já que a empresa chegou a investir na tubulação para integrar o campo de Itaú ao vizinho
San Alberto, operado pela empresa brasileira.
Para o analista boliviano Carlos Miranda, o atraso pode se
transformar em cancelamento
do projeto, já que a estatal boliviana YPFB agora tem a intenção de ser uma empresa operadora de gás.
"O governo joga a culpa na
Petrobras por ser muito lenta.
E a Petrobras joga a culpa no
governo de não querer que a
operação se concretize. Mas é
provável que o governo queira
evitar que a operação se concretize, porque a YPFB está de
forma muito agressiva tentando aparecer como uma empresa operadora. Entre seus planos de 2009 está a perfuração e
o desenvolvimento intensivo
de um megacampo. E há apenas dois campos nessas condições, Itaú e Margarita", disse.
Acordo não cumprido
Outro duro revés para a Petrobras na Bolívia foi a cessão
do campo de gás de Carohuaicho à francesa Total. No acordo
assinado em 17 de dezembro do
ano passado, durante a visita de
Lula a La Paz, era um dos três
campos citados num acordo-marco para a exploração por
meio de empresas mistas entre
a Petrobras e a Bolívia. Os outros dois campos, Cedro e Astillero, tampouco foram concedidos à empresa brasileira.
Além da Total, a YPFB também assinou uma carta de intenção com a gigante russa
Gazprom para a exploração do
bloco Azero, onde está o campo
de Carohuaicho.
"Vejo com razão por que esse
tema irritou a Petrobras. Esse
campo era parte de uma grande
declaração política de que a Petrobras continuaria investindo
na Bolívia, foi a única empresa a
fazer isso. Naquele momento,
isso era muito importante para
Morales. Foi uma jogada não
muito nobre, porque agora o
governo boliviano deu essa
área maior a outra grande empresa", disse Miranda.
Além da interligação entre
San Alberto e Itaú, o único outro investimento novo da Petrobras foi a perfuração de exploração no campo de Ingre, localizado, assim como as demais
jazidas importantes do país, no
sul da Bolívia.
Desde a sexta-feira da semana passada, a reportagem da
Folha procurou a Petrobras e a
YPFB para esclarecimentos,
mas nenhuma das empresas
respondeu às solicitações de
entrevista.
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