São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

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Novos projetos da Petrobras na Bolívia continuam no papel após um ano

Governo Morales não transferiu campo prometido e cedeu outro à Total

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Um ano depois de os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Evo Morales assinarem "uma nova fase de cooperação" na área energética, com investimentos de até US$ 1 bilhão, a Petrobras não avançou em praticamente nenhum dos novos projetos negociados ao longo de 2007 e ainda viu a Bolívia ceder à empresa francesa Total um dos campos de gás prometidos à estatal brasileira.
O maior impasse está no principal projeto acertado no ano passado, a transferência à Petrobras do campo Itaú, um dos maiores do país e hoje sob controle da Total. Embora haja um acordo entre as empresas desde o primeiro semestre, o governo boliviano não enviou até agora a transferência para o Congresso, que, por lei, precisa aprovar a transação.
O impasse aparentemente pegou a Petrobras de surpresa, já que a empresa chegou a investir na tubulação para integrar o campo de Itaú ao vizinho San Alberto, operado pela empresa brasileira.
Para o analista boliviano Carlos Miranda, o atraso pode se transformar em cancelamento do projeto, já que a estatal boliviana YPFB agora tem a intenção de ser uma empresa operadora de gás.
"O governo joga a culpa na Petrobras por ser muito lenta. E a Petrobras joga a culpa no governo de não querer que a operação se concretize. Mas é provável que o governo queira evitar que a operação se concretize, porque a YPFB está de forma muito agressiva tentando aparecer como uma empresa operadora. Entre seus planos de 2009 está a perfuração e o desenvolvimento intensivo de um megacampo. E há apenas dois campos nessas condições, Itaú e Margarita", disse.

Acordo não cumprido
Outro duro revés para a Petrobras na Bolívia foi a cessão do campo de gás de Carohuaicho à francesa Total. No acordo assinado em 17 de dezembro do ano passado, durante a visita de Lula a La Paz, era um dos três campos citados num acordo-marco para a exploração por meio de empresas mistas entre a Petrobras e a Bolívia. Os outros dois campos, Cedro e Astillero, tampouco foram concedidos à empresa brasileira.
Além da Total, a YPFB também assinou uma carta de intenção com a gigante russa Gazprom para a exploração do bloco Azero, onde está o campo de Carohuaicho.
"Vejo com razão por que esse tema irritou a Petrobras. Esse campo era parte de uma grande declaração política de que a Petrobras continuaria investindo na Bolívia, foi a única empresa a fazer isso. Naquele momento, isso era muito importante para Morales. Foi uma jogada não muito nobre, porque agora o governo boliviano deu essa área maior a outra grande empresa", disse Miranda.
Além da interligação entre San Alberto e Itaú, o único outro investimento novo da Petrobras foi a perfuração de exploração no campo de Ingre, localizado, assim como as demais jazidas importantes do país, no sul da Bolívia.
Desde a sexta-feira da semana passada, a reportagem da Folha procurou a Petrobras e a YPFB para esclarecimentos, mas nenhuma das empresas respondeu às solicitações de entrevista.


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