São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Presidente do Paraguai cobra do Brasil "soberania energética"

DO ENVIADO À COSTA DO SAUÍPE

O presidente paraguaio Fernando Lugo fez ontem, diante de seus pares da América Latina e do Caribe, uma menção cifrada à divergência com o Brasil sobre a hidrelétrica de Itaipu, ao dizer que a presidência paraguaia do Mercosul, a partir de janeiro, terá como uma das prioridades a "soberania energética", expressão que só os mais envolvidos na negociação são capazes de entender.
Acontece que "soberania energética" é precisamente o "mais importante" no contencioso Brasil/Paraguai, conforme explicou à Folha Ricardo Canese, chefe da delegação paraguaia que discute as demandas do país sobre a usina.
Soberania energética quer dizer que o Paraguai reivindica o direito de vender a quem quiser a sua parte da energia gerada pela binacional Itaipu. Hoje, o Brasil fica com 95% -a soma dos seus 50% e os 45% da parte paraguaia, cuja economia não consome tanta energia.
Ao usar a expressão "soberania energética", o governo Lugo politiza e dá consistência a seus argumentos, ao escapar da mera discussão sobre o preço pago pelo Brasil pela energia de Itaipu e sobre o pagamento da dívida que o Paraguai contraiu junto ao governo brasileiro para a construção da hidrelétrica.
Puxar o debate para preços e financiamento permite ao outro lado contra-argumentar que se trata de violação de contratos, que o Brasil diz serem juridicamente perfeitos.
Já o argumento político fica assim, como diz Canese: "Integração se dá entre iguais e entre países soberanos".
Mas o governo brasileiro tem resposta também para a soberania energética. "O Paraguai já tem soberania energética, pois metade da energia é dele", diz o chanceler Celso Amorim.
Para Amorim, o que resta é discutir como usar essa soberania. "O Brasil está pronto para discutir qualquer solução, desde que seja justa e razoável."
Canese lembra que 85% da exportação elétrica de toda a América do Sul provém do Paraguai e reivindica o direito de exportar energia para, por exemplo, Chile e Uruguai, além de Brasil e Argentina.
A questão da soberania incide diretamente sobre o preço. Mesmo que o Brasil concorde que o Paraguai pode vender a quem quiser, continuará a ser o principal comprador. Por isso, Canese reclama que o preço a pagar seja "o de mercado". Em termos concretos, significa hoje cobrar cerca de US$ 80 por megawatt/hora, em vez dos US$ 60 que o Brasil paga. (CR)


Texto Anterior: Novos projetos da Petrobras na Bolívia continuam no papel após um ano
Próximo Texto: Latinas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.