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Presidente do Paraguai cobra do Brasil "soberania energética"
DO ENVIADO À COSTA DO SAUÍPE
O presidente paraguaio Fernando Lugo fez ontem, diante
de seus pares da América Latina e do Caribe, uma menção cifrada à divergência com o Brasil
sobre a hidrelétrica de Itaipu,
ao dizer que a presidência paraguaia do Mercosul, a partir de
janeiro, terá como uma das
prioridades a "soberania energética", expressão que só os
mais envolvidos na negociação
são capazes de entender.
Acontece que "soberania
energética" é precisamente o
"mais importante" no contencioso Brasil/Paraguai, conforme explicou à Folha Ricardo
Canese, chefe da delegação paraguaia que discute as demandas do país sobre a usina.
Soberania energética quer
dizer que o Paraguai reivindica
o direito de vender a quem quiser a sua parte da energia gerada pela binacional Itaipu. Hoje,
o Brasil fica com 95% -a soma
dos seus 50% e os 45% da parte
paraguaia, cuja economia não
consome tanta energia.
Ao usar a expressão "soberania energética", o governo Lugo politiza e dá consistência a
seus argumentos, ao escapar da
mera discussão sobre o preço
pago pelo Brasil pela energia de
Itaipu e sobre o pagamento da
dívida que o Paraguai contraiu
junto ao governo brasileiro para a construção da hidrelétrica.
Puxar o debate para preços e
financiamento permite ao outro lado contra-argumentar
que se trata de violação de contratos, que o Brasil diz serem
juridicamente perfeitos.
Já o argumento político fica
assim, como diz Canese: "Integração se dá entre iguais e entre países soberanos".
Mas o governo brasileiro tem
resposta também para a soberania energética. "O Paraguai já
tem soberania energética, pois
metade da energia é dele", diz o
chanceler Celso Amorim.
Para Amorim, o que resta é
discutir como usar essa soberania. "O Brasil está pronto para
discutir qualquer solução, desde que seja justa e razoável."
Canese lembra que 85% da
exportação elétrica de toda a
América do Sul provém do Paraguai e reivindica o direito de
exportar energia para, por
exemplo, Chile e Uruguai, além
de Brasil e Argentina.
A questão da soberania incide diretamente sobre o preço.
Mesmo que o Brasil concorde
que o Paraguai pode vender a
quem quiser, continuará a ser o
principal comprador. Por isso,
Canese reclama que o preço a
pagar seja "o de mercado". Em
termos concretos, significa hoje cobrar cerca de US$ 80 por
megawatt/hora, em vez dos
US$ 60 que o Brasil paga.
(CR)
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