São Paulo, quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

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Kremlin pode usar Exército sem consultar Parlamento

Lei aprovada ontem autoriza presidente a agir até contra ameaças a terceiros

No mesmo dia, em visita a Moscou, secretário-geral da Otan pede à Rússia mais ajuda no Afeganistão, mas não fecha acordo concreto


DA REDAÇÃO

O Senado russo aprovou ontem uma lei que autoriza o presidente do país a empregar as Forças Armadas no exterior sem a necessidade de consulta prévia ao Parlamento. A lei foi apresentada pelo presidente Dmitri Medvedev em agosto e já havia sido aprovada pela Duma (Câmara) em outubro.
Pela medida, Medvedev poderá decidir a quantidade de tropas, sua zona de ação, suas tarefas e o prazo do emprego. Os motivos aceitáveis vão de "repelir ataques contra as Forças Armadas ou outras tropas russas" a "rechaçar ou prevenir uma agressão contra outro Estado que peça ajuda à Rússia".
Ao apresentar a lei em agosto, Medvedev afirmara que ela ajudará a "defender soldados e cidadãos russos, lutar contra a pirataria e defender nações estrangeiras contra ameaças".
O presidente ligou a medida diretamente à guerra com a Geórgia em agosto de 2008, quando ele ordenou a invasão do país sem consultar o Senado, como exigia a Constituição.
Para críticos, a lei é equivalente a um "golpe constitucional". "[O premiê russo, Vladimir] Putin e Medvedev transformaram a Constituição de 1993, basicamente democrática, em uma casca oca", escreveu sobre a medida o analista de defesa russo Pavel Felgenhauer.
A lei chega em momento de profunda revisão militar russa, inclusive sobre o uso e renovação de arsenais de defesa.

Rússia x Otan
Ainda ontem, a ajuda militar russa foi solicitada pelo secretário-geral da Otan (aliança militar ocidental), Anders Fogh Rasmussen, para as operações internacionais no Afeganistão.
Moscou, no entanto, não se comprometeu com a Otan.
Segundo relatos, Rasmussen disse a membros de alto escalão do governo russo que disputas dos últimos anos não deveriam cegar o Kremlin para a ameaça comum representada pelo Taleban e por insurgentes locais.
Alguns analistas ocidentais argumentam que a Rússia teria muito a perder caso extremistas islâmicos retomassem o poder no Afeganistão, devido às possíveis agitações que se seguiriam em Repúblicas muçulmanas da antiga União Soviética ao sul do país.
Além das lembranças russas da malfadada ocupação do Afeganistão durante os anos 1980, o avanço da Otan na antiga esfera de influência de Moscou e questões como o posicionamento do Ocidente na guerra com a Geórgia alimentam suspeitas da parte do Kremlin.
Parte dos comandantes russos teme ainda que o principal objetivo dos EUA e da Otan seja criar no Afeganistão e no Paquistão uma plataforma de penetração para a Ásia Central e suas abundantes fontes de energia, bloqueando assim o controle russo e até chinês.
A busca por ajuda no Afeganistão chega após o presidente americano, Barack Obama, anunciar o envio de mais 30 mil soldados ao país.
"Creio que a Rússia poderia contribuir de forma muito concreta ao oferecer helicópteros, treinamento para usá-los e peças de reposição", afirmou Rasmussen após encontro com Medvedev. Ele também pediu mais facilidade de trânsito aéreo sobre território russo, para envio de carga -inclusive militar- ao Afeganistão.

Com agências internacionais



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