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Eventual ataque ao Irã depende da saída do Iraque
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Enquanto não encontrarem
uma estratégia de saída do Iraque,
os EUA não deverão lançar um
ataque preventivo para tentar
neutralizar as capacidades nucleares do Irã, de acordo com especialistas ouvidos pela Folha.
Além disso, de acordo com as
mesmas fontes, a tarefa seria bem
mais complexa do que a invasão
do Iraque, devendo provocar
conseqüências deletérias para os
interesses americanos no Oriente
Médio e para Israel, o principal
aliado dos EUA na região.
"Certamente, não descartaria a
hipótese de o governo de George
W. Bush realizar outro ataque
preventivo, mas ficaria surpreso
se isso ocorresse no futuro próximo porque os EUA estão numa situação difícil no Iraque", avaliou
Anthony Lake, assessor da Casa
Branca para Assuntos de Segurança Nacional de 1993 a 1997, durante o primeiro mandato do democrata Bill Clinton (1993-2001).
"Ademais, as forças militares
americanas foram muito exigidas
nos últimos tempos e não estariam em condições de realizar outra missão do gênero. Vale salientar ainda que os candidatos a se
tornarem alvos dos EUA, sobretudo o Irã e a Coréia do Norte, exigiriam um esforço militar muito
maior que a invasão do Iraque."
Além da dificuldade operacional, pois os EUA já têm cerca de
150 mil soldados no Iraque, a iniciativa teria várias conseqüências
indesejáveis para os americanos.
Diferentemente do que ocorreu
em 1981, quando caças israelenses
destruíram um reator nuclear iraquiano na usina de Osirak, o ataque ao Irã não poderia ser realizado pela Força Aérea israelense por
causa da distância dos alvos.
"O Irã é bem mais longe de Israel que o Iraque, e suas instalações nucleares são muito distantes umas das outras, o que deixaria os caças israelenses em posição vulnerável. Além disso, é bem
pouco provável que os governos
turco ou saudita permitam que as
aeronaves israelenses usem seu
espaço aéreo para atacar o Irã,
que também é muçulmano", analisou Davis Bobrow, do Centro
Ridgway para Estudos sobre Segurança Internacional (EUA).
O ataque provocará uma forte
reação iraniana. Teerã, que buscará inflamar a insurgência iraquiana, argumentará que precisa de
armas nucleares para defender-se
de ataques externos, o que significará que o Irã deixará o Tratado
de Não-Proliferação Nuclear. Isso
alterará sensivelmente o equilíbrio geoestratégico regional.
Reformistas
Ademais, o establishment político-religioso iraniano utilizará a
situação para restringir mais o
campo de ação dos reformistas.
Afinal, as instalações nucleares
são um símbolo do orgulho iraniano e dariam uma justificativa
suficientemente forte para que os
mulás atacassem aqueles que são
vistos pela linha dura como agentes das potências estrangeiras.
No campo diplomático, um ataque ao Irã também seria prejudicial aos EUA, pois, depois disso,
dificilmente Washington vá conseguir a anuência dos outros
membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU à
aplicação de sanções a Teerã.
E essa ação militar porá os EUA
em rota de colisão com a Rússia,
já que Moscou colabora com os
iranianos na usina de Bushehr e
tem diversos cientistas em instalações nucleares iranianas.
O Irã também reagirá militarmente. Com isso, tornam-se possíveis alvos da retaliação iraniana
bases americanas no Kuait, em
Qatar, em Omã e no Iraque, além
de algumas cidades israelenses.
Como ressaltou Lake, "o Irã é
importante porque, em alguns
meses, os iranianos começarão a
enriquecer urânio, e "não adiantará fechar a porta do cercado depois que os cavalos fugirem'".
"Os EUA não devem descartar a
possibilidade de negociar com o
Irã. Trata-se de uma solução menos custosa geopoliticamente",
disse Lake.
Resta saber se o governo Bush
pensa da mesma forma que o ex-assessor de Clinton. Isso sem
mencionar o que o ataque americano ao Irã faria com a cotação do
petróleo.
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