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EUA
Decisão do prefeito de San Francisco de autorizar matrimônio entre homossexuais amplia a discussão, que ganha contornos eleitorais
Casamento gay vira debate nacional nos EUA
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
A troca de alianças entre pessoas do mesmo sexo tornou-se o
foco de uma batalha política com
fortes componentes ideológicos
nos Estados Unidos.
A decisão do democrata Gavin
Newsom, 36 -prefeito de San
Francisco há dois meses-, de liberar casamentos entre homossexuais na semana passada ganhou
proporções nacionais. Mas a validade da concessão das certidões
de casamento emitidas para casais gays ainda pode ser anulada.
Do lado conservador, prevalece
o discurso de defesa da "santidade do matrimônio". A luta pela
criação de uma emenda constitucional que proíba o casamento
entre homossexuais é liderada pelo presidente George W. Bush. O
principal argumento dos grupos
contrários ao casamento gay é o
de que a Justiça não pode exercer
o papel de transformar valores já
cristalizados na sociedade.
No final do ano passado, a Suprema Corte de Massachusetts
decidiu que não havia nenhum
dispositivo na Constituição dos
Estados Unidos que impedisse casais homossexuais de se casarem.
A partir de maio deste ano, o Estado passará a emitir certidões de
casamento para casais gays.
A maioria da população americana, entretanto, é refratária a essa decisão. Pesquisa recente do
Instituto Gallup mostra que 6 em
cada 10 americanos desaprovam a
legalização do casamento entre
homossexuais. Esses números
dão fôlego aos partidários do casamento como uma instituição
restrita a heterossexuais.
"É ultrajante que juízes tentem
mudar uma instituição que já
existe há milhares de anos. O propósito do casamento sempre foi o
de unir os sexos opostos para gerar o maior número de crianças
possível", disse à Folha Gary
Bauer, presidente do "think tank"
conservador American Values.
"Geralmente, as pessoas temem
gays e lésbicas porque são mal informadas e porque recebem recompensas sociais por serem heterossexuais e homófobas. Um
desses prêmios é o direito de casar
e de ter relações e famílias definidas e protegidas legalmente", afirmou Beverly Greene, professora
de psicologia da Universidade St.
John, em Nova York.
Tema de campanha
Hoje, o debate saiu da esfera
acadêmica para ser o foco da
campanha presidencial. Do lado
republicano, a posição contrária
ao casamento gay é abertamente
defendida por Bush. Do lado democrata, entretanto, os pré-candidatos tentam adotar uma retórica conciliatória.
John Kerry defende a adoção do
conceito de "uniões civis" para
casais gays, mas não usa o termo
casamento. O fato de Kerry ser senador pelo Estado de Massachusetts, um dos centros da controvérsia, pode ser um alvo de ataques para Bush.
Howard Dean, que aprovou
uma lei a favor de uniões civis durante o seu mandato de governador em Vermont, e John Edwards
também seguem a cartilha do discurso moderado.
Para os ativistas do movimento
gay, porém, isso é pouco. "Acho
fantástico que o prefeito de San
Francisco, que é heterossexual e
casado, tenha tido a coragem de
defender abertamente os direitos
dos gays. Quanto ao Partido Democrata, acho que eles não estão
indo longe o suficiente. Vamos esperar para ver qual vai ser a verdadeira posição deles depois das primárias", declarou Monica Taher,
da associação Glaad (sigla em inglês para Simpatizantes e Defensores de Gays e Lésbicas).
Os ativistas dos direitos civis
dos gays afirmam que a diferenciação entre união civil e casamento não é apenas uma questão
semântica.
O casamento confere um status
legal de alcance nacional, o que
pode, por exemplo, garantir a
permanência de cônjuges estrangeiros no país. Já as uniões civis
ou parcerias domésticas têm alcance apenas regional.
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