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HISTÓRIA DESTRUÍDA
Órgão da ONU define medidas para recuperar patrimônio histórico dilapidado por saques
Unesco cria fundo cultural para Iraque
DA REDAÇÃO
O diretor-geral da Unesco (organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura), Koichiro Matsuura, anunciou em Paris a criação de um
fundo especial para o patrimônio cultural iraquiano e pediu
aos EUA e ao Reino Unido que
protejam os sítios históricos e
arqueológicos, que poderiam estar sendo saqueados por criminosos organizados.
Matsuura se reuniu ontem
com cerca de 30 especialistas de
vários países, inclusive do Iraque, para definir ações emergenciais para salvaguardar o patrimônio iraquiano e evitar desastres históricos como a pilhagem
do Museu Nacional de Bagdá,
ocorrida na semana passada.
Entre as recomendações do
comitê estão a imediata proteção de museus, livrarias, arquivos, monumentos e sítios pelas
forças de ocupação e a proibição
imediata da exportação de antiguidades, obras de arte, livros e
arquivos do Iraque, além do banimento mundial do comércio
de patrimônio iraquiano.
Um grupo de arqueólogos e
historiadores designado pela
Unesco também deve viajar a
Bagdá para fazer um levantamento do que se perdeu nos saques -em especial no Museu
Nacional, que abrigava milhares
de objetos das civilizações da
Mesopotâmia, alguns com mais
de 5.000 anos de idade.
Para Matsuura, a preservação
do patrimônio cultural é necessária para manter a identidade
nacional e a coesão social num
momento em que ela é absolutamente necessária.
"Preservar a herança cultural
iraquiana é, numa palavra, permitir ao Iraque uma transição
bem-sucedida para uma sociedade nova, livre e próspera",
afirmou o diretor-geral.
O fundo para o patrimônio
iraquiano começaria com uma
doação de 400 mil que a Itália
disse que disponibilizaria. Outros países que devem contribuir
são a França, a Alemanha, o Qatar, o Reino Unido e o Egito.
Chave do cofre
Após a derrubada do regime
de Saddam, o país, que tinha
uma das legislações de proteção
ao patrimônio mais rigorosas do
mundo, assistiu a uma onda de
saques que esvaziou museus em
Basra, Tikrit, Mossul e Bagdá.
No museu da capital, peças de
valor inestimável, 80 mil tabuletas de argila com inscrições cuneiformes, uma harpa de ouro
maciço da cidade suméria de Ur
(onde teria nascido Abraão, patriarca do judaísmo, islamismo e
cristianismo) e um vaso de 5.000
anos de outra cidade suméria,
Uruk, desapareceram do prédio.
E, segundo relatórios preliminares, os ladrões não eram apenas iraquianos famintos procurando nas relíquias meios de sobreviver. Segundo arqueólogos
reunidos na Unesco, a desordem
em Bagdá pode ter servido como
disfarce para um roubo bem organizado dos artefatos.
"Parece que pelo menos uma
parte do roubo foi uma ação planejada", disse em entrevista coletiva o arqueólogo McGuire
Gibson, da Universidade de Chicago (EUA). "Eles conseguiram
em algum lugar as chaves dos
cofres e conseguiram tirar o material mais importante, as melhores peças."
Os EUA tinham sido avisados
desde antes da guerra a respeito
do patrimônio iraquiano. O país
foi acusado de negligência na
proteção do museu de Bagdá.
O secretário da Defesa dos
EUA, Donald Rumsfeld, rejeitou
as acusações, dizendo que o país
havia inclusive oferecido recompensas pela devolução dos objetos desaparecidos.
Ontem, o FBI (a polícia federal
dos EUA) anunciou que já mandou agentes para o Iraque para
auxiliar os pesquisadores na recuperação das peças saqueadas.
Os EUA não ratificaram a convenção da Unesco sobre o comércio de bens culturais.
Renúncia
O presidente do Comitê Consultivo Presidencial para Assuntos Culturais dos EUA, Martin
Sullivan, renunciou em protesto
contra a passividade das forças
dos EUA no episódio dos saques
ao Museu Nacional.
Gary Vikan, outro membro do
comitê, também deixou seu posto pela mesma razão.
Integrado por 11 especialistas e
profissionais da cultura nomeados por um período de três anos,
o comitê tem a função de aconselhar o presidente George W.
Bush sobre questões ligadas a
política cultural.
Com agências internacionais
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