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São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2003

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HISTÓRIA DESTRUÍDA

Órgão da ONU define medidas para recuperar patrimônio histórico dilapidado por saques

Unesco cria fundo cultural para Iraque

DA REDAÇÃO

O diretor-geral da Unesco (organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), Koichiro Matsuura, anunciou em Paris a criação de um fundo especial para o patrimônio cultural iraquiano e pediu aos EUA e ao Reino Unido que protejam os sítios históricos e arqueológicos, que poderiam estar sendo saqueados por criminosos organizados.
Matsuura se reuniu ontem com cerca de 30 especialistas de vários países, inclusive do Iraque, para definir ações emergenciais para salvaguardar o patrimônio iraquiano e evitar desastres históricos como a pilhagem do Museu Nacional de Bagdá, ocorrida na semana passada.
Entre as recomendações do comitê estão a imediata proteção de museus, livrarias, arquivos, monumentos e sítios pelas forças de ocupação e a proibição imediata da exportação de antiguidades, obras de arte, livros e arquivos do Iraque, além do banimento mundial do comércio de patrimônio iraquiano.
Um grupo de arqueólogos e historiadores designado pela Unesco também deve viajar a Bagdá para fazer um levantamento do que se perdeu nos saques -em especial no Museu Nacional, que abrigava milhares de objetos das civilizações da Mesopotâmia, alguns com mais de 5.000 anos de idade.
Para Matsuura, a preservação do patrimônio cultural é necessária para manter a identidade nacional e a coesão social num momento em que ela é absolutamente necessária.
"Preservar a herança cultural iraquiana é, numa palavra, permitir ao Iraque uma transição bem-sucedida para uma sociedade nova, livre e próspera", afirmou o diretor-geral.
O fundo para o patrimônio iraquiano começaria com uma doação de 400 mil que a Itália disse que disponibilizaria. Outros países que devem contribuir são a França, a Alemanha, o Qatar, o Reino Unido e o Egito.

Chave do cofre
Após a derrubada do regime de Saddam, o país, que tinha uma das legislações de proteção ao patrimônio mais rigorosas do mundo, assistiu a uma onda de saques que esvaziou museus em Basra, Tikrit, Mossul e Bagdá.
No museu da capital, peças de valor inestimável, 80 mil tabuletas de argila com inscrições cuneiformes, uma harpa de ouro maciço da cidade suméria de Ur (onde teria nascido Abraão, patriarca do judaísmo, islamismo e cristianismo) e um vaso de 5.000 anos de outra cidade suméria, Uruk, desapareceram do prédio.
E, segundo relatórios preliminares, os ladrões não eram apenas iraquianos famintos procurando nas relíquias meios de sobreviver. Segundo arqueólogos reunidos na Unesco, a desordem em Bagdá pode ter servido como disfarce para um roubo bem organizado dos artefatos.
"Parece que pelo menos uma parte do roubo foi uma ação planejada", disse em entrevista coletiva o arqueólogo McGuire Gibson, da Universidade de Chicago (EUA). "Eles conseguiram em algum lugar as chaves dos cofres e conseguiram tirar o material mais importante, as melhores peças."
Os EUA tinham sido avisados desde antes da guerra a respeito do patrimônio iraquiano. O país foi acusado de negligência na proteção do museu de Bagdá.
O secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, rejeitou as acusações, dizendo que o país havia inclusive oferecido recompensas pela devolução dos objetos desaparecidos.
Ontem, o FBI (a polícia federal dos EUA) anunciou que já mandou agentes para o Iraque para auxiliar os pesquisadores na recuperação das peças saqueadas. Os EUA não ratificaram a convenção da Unesco sobre o comércio de bens culturais.

Renúncia
O presidente do Comitê Consultivo Presidencial para Assuntos Culturais dos EUA, Martin Sullivan, renunciou em protesto contra a passividade das forças dos EUA no episódio dos saques ao Museu Nacional.
Gary Vikan, outro membro do comitê, também deixou seu posto pela mesma razão.
Integrado por 11 especialistas e profissionais da cultura nomeados por um período de três anos, o comitê tem a função de aconselhar o presidente George W. Bush sobre questões ligadas a política cultural.


Com agências internacionais


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