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TERRA DIVIDIDA
Em Kirkuk, grupos de etnias distintas disputam propriedades após a queda do regime
Curdos expulsam árabes no norte
DA REDAÇÃO
Após a queda do regime de Saddam Hussein, iraquianos de origem curda começaram a expulsar
iraquianos árabes que vivem no
norte do Iraque, ampliando a tensão principalmente em Kirkuk.
Os curdos afirmam estar exercendo seus direitos. Durante seu
governo, Saddam, de origem árabe, iniciou nos anos 80 um processo de "arabização" em cidades
dessa região que produzem petróleo. Em Kirkuk, cerca de 400
mil curdos perderam suas propriedades, transferidas para árabes de outras partes do país.
Agora, os ocupantes curdos da
cidade tentam retomar essas propriedades e enfrentam resistência
da população árabe.
"Nenhum curdo foi expulso
dessa vizinhança", afirmou Sayed
Musawi, morador e líder árabe no
bairro de Qadasia, um dos cenários de conflito. "Isto aqui era terra de ninguém", completou Sayed, um dos muitos funcionários
públicos que receberam incentivos do governo para mudar para a
região na década de 1980.
"Viramos sem-teto", queixou-se Wader Muhammad, cuja família foi expulsa de uma casa com
quatro quartos. Como todos os
árabes na região, ele diz que nunca foi informado de que as terras
pertenciam a outras pessoas.
Sua casa foi ocupada por Rushed Rah, um comerciante que
planeja morar no local com sua
mulher e seus sete filhos. "Essa
terra nos pertence. Anos atrás,
três dos meus irmãos foram mortos pelo governo de Saddam, que
tirou tudo o que tínhamos e nos
expulsou", contou o comerciante.
Os principais líderes curdos, entretanto, defendem a participação
dos EUA e de países árabes no
processo de devolução das propriedades, para que haja legitimação no cenário internacional.
"Sempre afirmamos que o direito de retorno das vítimas de "limpeza étnica" é sagrado", declarou
Barham Salih, primeiro-ministro
da região autônoma do Curdistão, área criada após a Guerra do
Golfo (1991) que se estende pelo
nordeste do território iraquiano.
Os líderes curdos querem transformar essa região autônoma em
um Estado independente e reivindicam Kirkuk como capital desse
novo país.
Na cidade em disputa, os árabes
dizem ter ficado vulneráveis com
a rápida tomada pelos curdos do
prédio da prefeitura e do departamento de polícia. Argumentam
também que os curdos não possuem documentos que comprovem que são de fato donos das
propriedades reclamadas. Já os
curdos afirmam que todos os seus
papéis foram destruídos quando
ocorreu a expulsão.
Covas
Ainda ontem, os líderes curdos
em Kirkuk anunciaram a descoberta de cerca de 1.600 covas não
identificadas na cidade, escondidas nas imediações de uma antiga
fábrica da Pepsi-Cola e de um palácio de um primo de Saddam.
Durante a retirada das ossadas
do local, terreno próximo a uma
estrada abandonada nos arredores de Kirkuk, os líderes curdos
especulavam que muitos mortos
no processo de "arabização" estariam enterrados ali.
"O regime iraquiano matou
nossas famílias e enterrou-as dessa forma", declarou o capitão Kowa Hawez, policial curdo que supervisionou a operação.
Outras testemunhas diziam, no
entanto, que aqueles eram civis
mortos durante uma revolta em
1991. Para conter o levante, Bagdá
teria ordenado a execução de civis, escolhidos de forma aleatória.
Dois oficiais do Exército dos
EUA que acompanharam a busca
disseram que aguardam orientações sobre o que fazer com as ossadas. "Não sabemos o que é isto", afirmou o capitão David
Downing, acrescentando que ainda não está claro quem ficará responsável pela identificação dos
mortos, se curdos ou americanos.
Outras cidades
Ainda ontem, também no norte
do Iraque, fuzileiros navais dos
EUA interferiram em um confronto entre dois clãs rivais em Tikrit, cidade natal de Saddam. O
enfrentamento, que deixou três
iraquianos feridos, ocorreu pelo
controle de um depósito de comida abandonado pelo antigo regime iraquiano.
Não houve relatos de novos
conflitos ontem em Mossul, onde
17 pessoas morreram em choques
na terça e na quarta-feira.
Com agências internacionais
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