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São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2003

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Intelectuais da esquerda do Brasil pedem punição

FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO

O professor emérito de filosofia da USP Ruy Fausto criticou a posição do governo de Luiz Inácio Lula da Silva em relação aos últimos atos do regime do ditador Fidel Castro, em Cuba: "O governo precisa ter uma posição mais clara e mais incisiva. Se Lula se posicionasse a favor dos dissidentes cubanos seria uma vitória internacional".
Fausto é um dos organizadores de um documento de intelectuais brasileiros -assinam como "homens e mulheres de esquerda"- que condena a repressão a dissidentes do governo cubano, a "oposição democrática" na ilha. Recentemente o regime de Castro condenou à prisão 75 pessoas que fazem oposição ao regime.
Entre os nomes do abaixo-assinado, que está colhendo assinaturas pela internet, estão os professores de filosofia da USP Olgária Matos e Marcio Suzuki, o historiador e professor da Sorbonne Luiz Felipe de Alencastro, Leda Tenório da Motta, professora da PUC-SP, além de intelectuais historicamente ligados ao PT, como o professor de filosofia da USP Renato Janine Ribeiro.
Para Ruy Fausto, a posição explicitada pelo diplomacia brasileira na Comissão de Direitos Humanos na ONU (Organização das Nações Unidas) não reflete a totalidade do governo. "Conheço pessoas no governo que têm uma posição crítica, que condena os atos em Cuba, como Tarso Genro", disse o professor. Ele elogiou a política externa brasileira em outros assuntos. "Tem avançado."
Fausto declarou ser indefensável a declaração do embaixador brasileiro em Cuba que teria afirmado que os julgamentos na ilha eram assuntos internos. "É indefensável porque se trata de uma evidente violação dos direitos humanos. Isso não é assunto interno de lugar nenhum", disse.
Preparado antes de o governo brasileiro apresentar formalmente sua posição na ONU, o documento dos "intelectuais de esquerda" não cita o governo Lula, mas é incisivo ao pedir a condenação dos atos de Fidel Castro.
Crítico da política externa americana, o texto pede tratamento equiparado tanto aos atos do governo de George W. Bush quanto aos "ataques" aos direitos humanos em Cuba: "A condenação dos dissidentes cubanos é tão ilegítima quanto o tratamento que dá o governo norte-americano aos seus prisioneiros em Guantánamo, tratamento contra o qual também protestamos".

"Mito cubano"
O documento sustenta que o repúdio a Cuba não significa levar "água para o moinho da política expansionista dos falcões de Washington", pelo contrário: "a existência dessas ditaduras conforta essa política tanto no plano ideológico, como no plano prático".
Para Fausto, as assinaturas ao documento devem crescer, mas ele não será unânime entre os intelectuais de esquerda pelo "tabu em torno da questão". Segundo ele, "sempre há aquele mito cubano" de que não se pode criticar porque é um governo socialista.


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