São Paulo, sábado, 18 de maio de 2002

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AMÉRICA LATINA

Ex-presidente encerra visita história a Cuba, após pedir abertura

Para Carter, Fidel não muda regime

DA REDAÇÃO

O ex-presidente dos EUA Jimmy Carter (1977-1981), que encerrou ontem uma visita histórica a Cuba, disse que o ditador do país, Fidel Castro, não mudará o regime comunista de partido único vigente na ilha. Para Carter, sua visita deu pela primeira vez voz à dissidência interna cubana, que na semana passada entregou um abaixo-assinado na Assembléia Nacional pedindo um referendo para a reforma política, com 11 mil assinaturas -mais que o exigido pela Constituição para a convocação de um referendo.
Na terça-feira, Carter teve um discurso transmitido ao vivo pela TV cubana, sem censura. Em sua fala, pediu abertura política e elogiou a iniciativa dos dissidentes. Ele também defendeu o fim do embargo comercial dos EUA à ilha, vigente há quatro décadas.
Fidel, com sua tradicional farda verde-oliva, saudou Carter no aeroporto de Havana. "Toda a minha vida acreditei em mudanças para a frente, não para trás", disse Fidel. "Nós estamos certos. Estamos mais confiantes. A revolução está mais forte que nunca", disse.
Antes de embarcar, Carter disse ter tido longas discussões com Fidel sobre a petição dos dissidentes, mas disse não ter visto uma propensão a mudanças no ditador, no poder desde 1959. "Ele quer deter um controle completo sobre o sistema e não dar nenhuma chance para que grupos dissidentes ou descontentes possam ganhar apoio suficiente para ameaçar seu poder como único líder do governo cubano", disse.
O ex-presidente disse que Fidel pode fazer alguns gestos, como a permissão concedida a ele para encontrar dissidentes e fazer o discurso pela TV, mas que não vê evidências de que haverá mudanças políticas. "Não vejo nenhuma mudança no futuro em sua disposição para permitir a expressão dos dissidentes cubanos, apesar de ele ter sido surpreendentemente amável, creio, em deixar que minha visão, embora crítica, fosse expressada", disse.
Carter deve entregar um relatório sobre sua visita ao presidente George W. Bush e ao Departamento de Estado. Ele disse não acreditar que seu relato possa mudar "43 anos de desentendimentos e animosidades entre Washington e Havana".
Para ele, as indicações de funcionários por Bush "não mostram flexibilidade" -referência ao subsecretário de Estado para Assuntos Interamericanos, Otto Reich, membro da comunidade de exilados cubanos anti-Fidel nos EUA. Segundo o jornal "The New York Times", Bush deverá anunciar na segunda-feira uma política ainda mais restritiva em relação a Cuba.
Carter pediu ao governo dos EUA para não continuar com seus planos de aumentar o financiamento direto do movimento dissidente em Cuba, dizendo que a oposição na ilha não deseja ser estigmatizada como "agentes a serviço dos EUA".
"Nenhum deles disse querer ser vinculado de alguma forma com a assistência do governo americano", disse Carter, que se encontrou com diversos dissidentes durante sua visita. O governo cubano chama os dissidentes internos de "traidores anti-revolucionários" e "agentes dos EUA".


Com agências internacionais

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