|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SAÚDE
Mudança de política poderá permitir o uso futuro de remédios em programas de assistência internacional à luta contra a doença
EUA incentivarão genéricos contra Aids
RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK
Numa mudança na sua política
de combate à Aids, os EUA anunciaram anteontem que sua agência de regulação de medicamentos e alimentos acelerará a análise
de remédios genéricos e combinações de diferentes medicamentos (numa pílula) para uso futuro
em seus programas de assistência
internacional ao combate à Aids.
O sistema, cujas diretivas serão
divulgadas nesta semana, também dará incentivos a grupos interessados em desenvolver medicamentos mais baratos, segundo
nota oficial do governo.
A defesa das patentes das empresas farmacêuticas direcionava
a política americana em relação a
esses medicamentos, levando o
governo de George W. Bush a pôr
obstáculos ao uso de genéricos e
combinações de medicamentos
num só comprimido -o que já
era feito pela Índia.
As novas regras não têm valor
para o mercado interno americano, e os medicamentos aprovados
por elas serão usados num programa do governo dos EUA, orçado em US$ 15 bilhões, que tem como objetivo manifesto combater
a Aids em países pobres. Mas o
anúncio foi duramente criticado
por grupos de defesa dos direitos
de soropositivos e de combate à
Aids em todo o mundo.
Segundo essas entidades, ao
atribuir autoridade a uma agência
interna sobre quais remédios serão ou não usados em seus programas, os EUA agem unilateralmente, menosprezando a Organização Mundial da Saúde, que já
tem padrões aceitos internacionalmente para avaliar a validade e
eficácia de remédios genéricos.
Segundo as novas regras, fabricantes internacionais também
poderão apresentar seus produtos para avaliação pela agência regulatória. Se aprovados, poderão
ser comprados e usados em programas internacionais de combate à Aids pelos EUA.
Para Paul Davis, diretor de uma
ONG, o "dinheiro de Bush", associado à exigência de exclusividade
de produtos aprovados pelo FDA
(agência reguladora), ameaça minar o uso de remédios sem a aprovação americana em programas
já existentes, que recebem dinheiro de organizações internacionais
e fazem uso de genéricos já aprovados pela OMS e produzidos em
países como a Índia e o Brasil.
Se os países que se beneficiam
desses programas se associarem
aos americanos para receber a
ajuda deles, explica Davis, serão
obrigados a abrir mão de medicamentos não aprovados pelo FDA.
Segundo o "New York Times",
grandes empresas farmacêuticas
americanas anunciaram que pretendem se unir para fabricar as
doses únicas que combinam diferentes medicamentos para o
combate à Aids. O jornal afirma
que as empresas foram avisadas
de antemão das novas regras, "e
rapidamente divulgaram respostas positivas" ao anúncio.
Paul Zeitz, diretor-executivo da
organização Global Aids Alliance,
afirma que nada garante que fabricantes não-americanos de genéricos venham a desejar "passar
pelo FDA". "Primeiro, já foram
aprovados pela OMS. Para que
passar por novos testes? Depois,
há custos financeiros. Finalmente, há riscos. Muitas pessoas ficam
preocupadas com a politização da
análise e não sabem se serão avaliados de maneira isenta."
Para Richard Jeffreys, diretor de
ciência básica do grupo TAG
(Treatment Action Group, algo
como grupo de ação pelo tratamento), o anúncio é "uma mentira e uma fraude". Isso porque os
fabricantes teriam que passar por
novos testes, em vez de continuar
a comercializar seus produtos
com aprovação pela OMS.
No entanto, segundo o "Times",
o diretor do programa de Aids da
ONU, Peter Piot, saudou a decisão dos EUA. "Isso vai ajudar os
programas de tratamento da Aids
no mundo." Sob o ponto de vista
da saúde pública, disse Piot, doses
únicas devem facilitar o acesso de
pacientes em áreas remotas ao
tratamento contra a Aids.
Texto Anterior: Soldado diz que fotografar abuso em Abu Ghraib era "engraçado" Próximo Texto: Brasil prepara produção de três drogas em uma Índice
|