São Paulo, terça-feira, 18 de maio de 2004

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Brasil prepara produção de três drogas em uma

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil já está preparando a produção de um único comprimido que substitua os vários tomados pelos doentes de Aids ao longo do dia. A "3 em 1", como a associação de medicamentos é conhecida, vem sendo desenvolvida pelo Far Manguinhos, laboratório do Ministério da Saúde, no Rio.
A associação está sendo possível porque o laboratório brasileiro já "copiou" sete dos cerca de 20 medicamentos para a Aids produzidos no mundo. As cópias foram autorizadas pela lei de patentes brasileira, de 1998, que liberou a produção de todos os medicamentos registrados até então.
A informação sobre o projeto "3 em 1" de Far Manguinhos foi confirmada ontem, em Genebra, pelo coordenador do Programa Nacional de Aids, Alexandre Grangeiro. Segundo ele -que foi ouvido pelo telefone-, até agora só a Índia conseguiu associar os medicamentos em um único comprimido.
Nos EUA, onde as várias drogas do coquetel são produzidas por diferentes laboratórios, a associação de três remédios em um depende de entendimentos entre as empresas farmacêuticas. Por essa razão, ao incentivar os laboratórios a caminharem nessa direção, o governo dos EUA deu um passo considerado bastante positivo. O objetivo são os países da África e do Caribe, onde a maioria da população doente de Aids não recebe nenhum medicamento.
Outra medida importante foi a decisão do FDA -órgão do governo americano que controla remédios e alimentos- de apressar a aprovação de genéricos, o que fará cair os preços. "É um passo ainda tímido, pois nossa proposta é a de quebra total de patentes, de forma que os países possam produzir remédios a baixo custo", disse Mario Scheffer, da ONG Grupo Pela Vidda, de São Paulo. Ele lembra que, no Brasil, 140 mil pessoas recebem o coquetel e que o país tem cerca de 600 mil infectados, o que pode tornar o inviável o tratamento.
Segundo Grangeiro, as decisões norte-americanas não afetam o Brasil, embora façam parte de reivindicações que o país e a Organização Mundial da Saúde vêm defendendo.
Paulo Teixeira, que foi coordenador do programa de Aids no Brasil e diretor do programa de Aids da OMS até alguns meses atrás, participou ativamente da defesa do programa "3 em 1" e foi um dos autores do projeto "3 em 5" -a oferta, em cinco anos, de drogas anti-Aids para três milhões de pessoas que hoje não recebem medicamento nenhum. Nem o AZT, a primeira das drogas, é consumida por essa população.


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