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Brasil prepara
produção de três
drogas em uma
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil já está preparando a
produção de um único comprimido que substitua os vários
tomados pelos doentes de Aids
ao longo do dia. A "3 em 1", como a associação de medicamentos é conhecida, vem sendo desenvolvida pelo Far Manguinhos, laboratório do Ministério da Saúde, no Rio.
A associação está sendo possível porque o laboratório brasileiro já "copiou" sete dos cerca de 20 medicamentos para a
Aids produzidos no mundo. As
cópias foram autorizadas pela
lei de patentes brasileira, de
1998, que liberou a produção
de todos os medicamentos registrados até então.
A informação sobre o projeto
"3 em 1" de Far Manguinhos foi
confirmada ontem, em Genebra, pelo coordenador do Programa Nacional de Aids, Alexandre Grangeiro. Segundo ele
-que foi ouvido pelo telefone-, até agora só a Índia conseguiu associar os medicamentos em um único comprimido.
Nos EUA, onde as várias drogas do coquetel são produzidas
por diferentes laboratórios, a
associação de três remédios em
um depende de entendimentos
entre as empresas farmacêuticas. Por essa razão, ao incentivar os laboratórios a caminharem nessa direção, o governo
dos EUA deu um passo considerado bastante positivo. O objetivo são os países da África e
do Caribe, onde a maioria da
população doente de Aids não
recebe nenhum medicamento.
Outra medida importante foi
a decisão do FDA -órgão do
governo americano que controla remédios e alimentos-
de apressar a aprovação de genéricos, o que fará cair os preços. "É um passo ainda tímido,
pois nossa proposta é a de quebra total de patentes, de forma
que os países possam produzir
remédios a baixo custo", disse
Mario Scheffer, da ONG Grupo
Pela Vidda, de São Paulo. Ele
lembra que, no Brasil, 140 mil
pessoas recebem o coquetel e
que o país tem cerca de 600 mil
infectados, o que pode tornar o
inviável o tratamento.
Segundo Grangeiro, as decisões norte-americanas não afetam o Brasil, embora façam
parte de reivindicações que o
país e a Organização Mundial
da Saúde vêm defendendo.
Paulo Teixeira, que foi coordenador do programa de Aids
no Brasil e diretor do programa
de Aids da OMS até alguns meses atrás, participou ativamente da defesa do programa "3 em
1" e foi um dos autores do projeto "3 em 5" -a oferta, em
cinco anos, de drogas anti-Aids
para três milhões de pessoas
que hoje não recebem medicamento nenhum. Nem o AZT, a
primeira das drogas, é consumida por essa população.
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