São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Relatório traz detalhes de atentados

DO "NEW YORK TIMES"

No começo de 1999, Osama bin Laden chamou Khalid Shaikh Mohammed em seu esconderijo em Candahar, no Afeganistão, para contar que a proposta de Mohammed (hoje sob custódia dos EUA) de usar aviões como armas terroristas contra os EUA teria total apoio da Al Qaeda. O encontro foi revelado pela comissão independente que investiga os ataques do 11 de Setembro.
Descrita em detalhes por dois membros da Al Qaeda capturados pelos EUA, a ação se mostrou mais complicada e improvisada do que se havia imaginado.
Em agosto de 2001, segundo o relatório da comissão, houve um conflito entre os líderes da missão e o piloto libanês Ziad al Jarrah. O gosto de Al Jarrah por boates, cerveja e pela namorada fez com que se fosse cogitado trocar de piloto. Pensaram em substitui-lo pelo franco-marroquino Zacarias Moussaoui. No final, Al Jarrah comandou o vôo 93 da United Airlines, que caiu na Pensilvânia.
Dos quatro membros que inicialmente iriam participar da ação, em 99, apenas dois estavam entre os 19 seqüestradores que atuaram nos atentados. Ambos, Khalid al Midhar e Nawaq Alhazmi, foram relegados a papéis menores em 2001.
Bin Laden, impaciente, pressionava por um atentado desde 2000, mesmo que isso significasse usar pilotos destreinados e jogar os aviões no chão em vez de atingir os prédios. O líder queria protestar contra o tratamento dado aos palestinos por Israel.
No começo da preparação, porém, Bin Laden e Mohammed vislumbravam ataques mais audaciosos do que o que realmente aconteceu, diz o relatório. Mohammed chegou a planejar um atentado com dez aviões. Ele mesmo seqüestraria o último, mataria todos a bordo e pousaria para entregar uma crítica aos EUA.
Outra versão, descartada em 2000, pretendia realizar ataques simultâneos nos EUA e no Sudeste Asiático. Outra, afastada só em meados de 2001, planejava uma segunda onda de atentados, após os de Nova York e Washington, que teria como alvos arranha-céus na Califórnia e na capital.
A data dos ataques não estava definida até o meio de agosto. Bin Laden queria que fossem em maio, mas desistiu porque os terroristas não estavam prontos. Até dois dias antes do ataque, Mohamed Atta, um dos líderes, e Ramzi bin al Shibb não haviam decidido se o quarto avião -pilotado por Al Jarrah- atingiria o Congresso ou a Casa Branca. Acabou caindo na Pensilvânia.
"No final", diz o relatório, "a ação provou ser flexível o suficiente para se adaptar e vencer os desafios que apareceram".

Treinamento
Mohammed apresentou seu plano de usar aviões em ataques suicidas pela primeira vez em 1996. Mas Bin Laden só deu seu aval três anos depois. Os dois terroristas fizeram uma lista inicial de alvos: Bin Laden queria atingir a Casa Branca e o Pentágono. Mohammed, o World Trade Center. Adicionaram à lista o Congresso.
O treinamento começou no outono de 99. Os recrutas participaram de cursos de elite no campo afegão de Mes Aynak. Mohammed, que estudou nos EUA, ensinou inglês a eles, o suficiente para usar a lista telefônica e a internet, reservar vôos, e escrever em códigos. Fizeram simulações de vôos e estudaram os planos de vôos para determinar quais aviões estariam no ar ao mesmo tempo.
Os primeiros a entrar nos EUA foram Al Midhar e Alhazmi, em 15 de janeiro de 2000, mas, por serem maus pilotos, foram substituídos por Hani Hanjour.
Separadamente, em 99, quatro jovens extremistas baseados em Hamburgo, na Alemanha, foram recrutados. Eram todos -Atta, Al Jarrah, Al Shibh e Marwan al Shehhi- educados no Ocidente e tinham ideais antiamericanos.
Após um período no Afeganistão, os quatro voltaram à Alemanha em março de 2000 para procurar escolas de aviação. Como nos EUA esse treinamento era mais fácil e barato, Atta, Al Shehhi e Al Jarrah foram morar no país. O iemenita Al Shibh não conseguiu entrar nos EUA. O último seqüestrador a chegar nos EUA foi Hanjour, em dezembro de 2000.
Os conselheiros da Al Qaeda estavam ansiosos. Eles temiam que a ação pudesse causar uma resposta militar americana e irritar os líderes do Taleban e o governo do Paquistão. Mas a vontade de Bin Laden prevaleceu.


Texto Anterior: Gravações mostram confusão de controladores aéreos e militares
Próximo Texto: Iraque ocupado: Dois atentados deixam 41 mortos em Bagdá
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.