São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Alvo são iraquianos que participam ou querem participar das forças de segurança; feridos superam 130

Dois atentados deixam 41 mortos em Bagdá

DA REDAÇÃO

Um ataque contra um posto de recrutamento das Forças Armadas iraquianas em Bagdá deixou ontem pelo menos 35 mortos e mais de 130 feridos, aumentando as tensões a menos de duas semanas da posse do governo interino e dificultando a tarefa americana de transferir as operações de segurança no país.
Novamente, foi usado um carro-bomba. O veículo, um utilitário esportivo carregado com obuses, explodiu em frente a um grupo de pessoas que esperava para se inscrever nas Forças Armadas. Mais tarde, outro carro-bomba explodiu ao norte da capital, em Balad, matando seis membros das forças de segurança iraquianas.
"Estávamos esperando em fila pela nossa vez de nos inscrever. De repente, ouvimos uma grande explosão, e a maioria das pessoas na fila caiu no chão, inclusive eu", disse Rafid Mudhar, levado a um hospital em Bagdá.
Depois de um período mais calmo entre março e maio, os ataques têm recrudescido conforme se aproxima a transferência de poder, 30 de junho. Somente neste ano, 623 pessoas foram mortas em atentados no Iraque -dois terços delas entre janeiro e o início de março, e 107 neste mês.
"Vamos cortar as mãos dessa gente [terroristas], vamos cortar seus pescoços se for necessário. E, aqueles que quiserem se unir ao novo Exército iraquiano, nós iremos protegê-los e encontrar um local seguro para que possam se inscrever", disse o ministro da Defesa, Hazem al Shalan.
Membros das forças de segurança iraquianas estão entre os principais alvos da insurgência. Mesmo assim, com salários que chegam a US$ 500 por mês, o trabalho não deixa de atrair candidatos num momento em que 45% da população está desempregada.
O Ministério do Interior, mais uma vez, acusou o terrorista jordaniano Abu Musab Zarqawi pelos ataques. Comunicados atribuídos a Zarqawi, ligado à Al Qaeda, reivindicam a autoria de ataques com carros-bomba no início do ano e de um atentado que matou 13 pessoas na última segunda.
Transição Os EUA manterão suas tropas no Iraque, à frente de uma força multinacional, mesmo após a transferência de poder da Autoridade Provisória da Coalizão para o governo interino iraquiano, que, segundo resolução aprovada pela ONU, deve ser soberano. Entretanto a presença militar americana gerou diversas frentes de pressão sobre o governo de George W. Bush em pleno ano eleitoral -além da pressão internacional, há ainda a hostilidade de boa parte dos iraquianos e pressões domésticas, sobretudo no Congresso, por causa dos altos custos financeiro e humano da operação.
Diante desse quadro, o Pentágono defende a redução de seu contingente de 138 mil homens no país o mais rápido possível, contanto que as forças iraquianas tenham condição de assumir a segurança do país. Por enquanto, a avaliação é negativa.
"As forças de segurança iraquianas não estão prontas para assumir esse papel. Até que elas estejam, vocês poderão contar conosco", reiterou o vice-secretário da Defesa americano, Paul Wolfowitz, que esteve ontem no Iraque.
Também ontem, o comando americano anunciou que o general de quatro estrelas Paul Kern vai supervisionar a investigação sobre a tortura de iraquianos por soldados dos EUA, a fim de ampliar o inquérito para esferas mais altas da hierarquia militar.
A decisão foi tomada porque o protocolo militar impede que os investigadores interroguem oficiais de patente superior. O atual chefe da investigação, general George Fay, tem duas estrelas e não pode, por exemplo, questionar o general Ricardo Sanchez, comandante das operações no país, que tem três estrelas.


Com agências internacionais

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