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JUSTIÇA
Previsão é de entidades internacionais de defesa dos direitos humanos
Corte internacional deve sair em 2002
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
Três anos após ter sua criação
prevista pelo Tratado de Roma, o
Tribunal Penal Internacional, que
julgará crimes contra a humanidade, de guerra e de genocídio,
deverá entrar em funcionamento
em 2002, quando 60 países já deverão ter ratificado seu estatuto.
É a expectativa de entidades internacionais de direitos humanos
reunidas na Coalizão por um Tribunal Penal Internacional, formada, entre outras, pela Anistia Internacional, Human Rights
Watch e Comissão Internacional
de Juristas.
Até o momento, 139 países já assinaram o tratado, mas apenas 36
o ratificaram. "A instalação do tribunal deverá ocorrer antes de
2003, prazo inicialmente previsto", disse à Folha a desembargadora federal Sylvia Steiner, que integra a delegação brasileira na Comissão Preparatória do Tribunal
Penal Internacional (TPI).
"Já temos 36 ratificações e praticamente todos os países da União
Européia estão em processo de finalização", afirma.
"É natural que o processo seja
lento porque os Estados estarão
cedendo parte de sua soberania e
isso é complicado", diz o advogado e articulista da Folha Luís
Francisco Carvalho Filho, observador da Conferência de Roma
indicado pelo governo brasileiro.
Em geral, a ratificação de tratados é analisada pelo Parlamento e
submetida ao Poder Executivo.
O TPI ainda encontra forte resistência de países importantes
como EUA, Rússia e China. Os
dois primeiros assinaram o tratado, mas não o ratificaram. A China nem mesmo o assinou.
Nas reuniões preparatórias, os
EUA têm exigido que autoridades, funcionários e militares americanos sejam excluídos da jurisdição do TPI enquanto o país não
decidir ratificar o tratado.
O ex-presidente Bill Clinton assinou o tratado no último dia possível, em 31 de dezembro de 2000,
mas não enviou uma proposta de
ratificação ao Senado. A administração Bush parece ser ainda mais
hostil e poderá, inclusive, retirar a
assinatura e se empenhar em uma
campanha contra a ratificação.
"Os EUA têm resistência em ratificar convenções internacionais
de direitos humanos. Não há dúvida de que têm feito pressão para
que países com quem têm relação
estreita não ratifiquem o estatuto", diz Sylvia Steiner.
O Brasil já o assinou, mas não
ratificou. Segundo o deputado
Nilmário Miranda (PT-MG), da
Comissão de Direitos Humanos
da Câmara dos Deputados, o Ministério das Relações Exteriores
ainda não enviou para o Congresso tradução oficial do tratado,
passo inicial para sua ratificação.
"O Brasil deveria estar entre os
primeiros 60 países a ratificar.
Mas parece que o governo está
preferindo ratificá-lo só depois
que o tribunal já for uma realidade. Não duvido de que esteja havendo pressão dos EUA", diz.
No final da tarde de ontem, a
Folha pediu ao Itamaraty uma
posição oficial do governo, mas
foi informada de que não seria
possível uma resposta imediata.
O deputado Miranda é autor de
uma proposta de emenda à Constituição, ainda não votada, que
autoriza o Brasil a ratificar o tratado, apesar de algumas incompatibilidades do estatuto do TPI com
a Constituição brasileira, que não
permite a extradição de cidadãos
e a pena de prisão perpétua.
O TPI será um tribunal permanente com jurisdição para julgar
crimes de guerra, contra a humanidade (tortura, assassinatos e desaparecimentos forçados, violações sexuais em situação de conflito, entre outros) e de genocídio.
Ele só poderá exercer a competência quando o Estado onde
houver ocorrido os crimes ou o
Estado de nacionalidade de seus
supostos autores não se mostrarem capazes de julgá-los O TPI
não terá polícia própria, mas poderá decretar a prisão preventiva
dos supostos autores de crimes.
"Ao ratificar o tratado, os Estados se obrigam a cooperar na captura, coleta de provas, depoimento de testemunhas, envio de documentos etc", explica Steiner.
Baseado em Haia (Holanda), terá 18 juízes e um escritório de promotoria independente, escolhidos por uma assembléia dos Estados-membros.
O TPI também desperta a desconfiança de especialistas, que
acreditam que a nova corte não
terá força para atuar de forma totalmente independente.
"Há poucas décadas, era uma
utopia. Mas não devemos ter ilusão. O tribunal servirá para punir
derrotados", diz Luís Francisco
Carvalho Filho.
"Pessoas em pleno exercício do
poder ou protegidas por países
poderosos não serão levadas ao
tribunal. Creio que ele servirá de
advertência para os países periféricos. E isso já é importante."
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