São Paulo, quarta-feira, 18 de julho de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FRANÇA

Medida, que deve durar até meados de setembro, proíbe a circulação nas ruas, entre 23h e 6h, de crianças de 6 a 13 anos

Cidades impõem toque de recolher a criança

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

Subiu para sete o número de cidades na França que decidiram proibir a circulação nas ruas de crianças de 6 a 13 anos, entre 23h e 6h, para tentar reduzir a violência.
A decisão está espalhando pelo país uma grande polêmica a respeito da segurança urbana e dos direitos civis.
Nice e Colombes são as novas prefeituras a aderir à medida, que já está sendo aplicada em Orléans, Cannes, Aulnay-sous-Bois, Étampes e Antibes. Ela tem um limite de duração (em geral, até meados de setembro) e não atinge a cidade inteira, mas três ou quatro quarteirões em áreas empobrecidas, considerados de alto risco. Em Nice, está sendo adotada desde ontem em lugares turísticos.
Orléans foi a primeira cidade a obter autorização para aplicar o "toque de recolher", no último dia 9, do Conselho de Estado francês. O mesmo conselho havia anulado proposta parecida em 1997, por considerar que ela comprometia o "exercício das liberdades públicas ou individuais".
Dessa vez, o Conselho avaliou que o prefeito de Orléans deseja proteger os menores tanto do risco de serem vítimas como do de serem incitados, envolvidos ou habituados a atos de violência.
As infrações cometidas por menores em Orléans subiram 12,6% em um ano, mas a maioria é praticada por maiores de 13 anos -o que torna injustificável a decisão do prefeito, segundo opositores.
A medida virou uma das pedras-de-toque do debate político francês depois que o presidente Jacques Chirac (centro-direita) a defendeu no último sábado. Ele chegou mesmo a considerar que ela seria válida para Paris.
Em seu pronunciamento, Chirac fez do problema da segurança um dos principais instrumentos de ataque ao primeiro-ministro Lionel Jospin (centro-esquerda), criticando-lhe a falta de vontade política para controlar a violência. Segundo pesquisas, o problema da segurança é o que mais aflige os franceses.
O Partido Comunista Francês caracterizou a posição do presidente como "um excesso de zelo e demagogia". A esquerda está dividida quanto ao "toque de recolher". Alguns de seus membros criticam a transformação do problema da violência em espetáculo midiático pelo RPR (Reunião pela República), partido de Chirac. Todas as prefeituras que adotaram o "toque de recolher" são governadas pelo RPR.
Como contra-ataque à estratégia da centro-direita, o socialista Jospin divulgou ontem aumento nos orçamentos de segurança do Ministério do Interior (4,3%) e da Justiça (5,5%). O aumento significa a contratação de cerca de 5.700 pessoas -entre elas, 3.000 policiais- e é superior ao dotado para a educação (4%).
A segurança pública já é o grande tema das eleições presidenciais de 2002. As discussões sobre segurança também se avolumaram nos últimos dias na França em início de férias, depois que uma série de atos violentos (os jornais preferem dizer "atos de incivilidade") atingiu o país no fim de semana, feriado nacional.
Nos subúrbios de Paris, 130 carros foram incendiados. Em Sartrouville, três policiais foram feridos em choques com grupos de jovens. Em Aulnay-sous-Bois, uma gangue também de jovens incendiou carros, cortou a eletricidade de um bairro de 23 mil habitantes e invadiu uma creche com um carro, pondo fogo no local e em vários veículos.
Medidas de segurança estão sendo tomadas em toda a França para evitar infrações em hospitais, piscinas públicas e meios de transporte -as agressões contra viajantes cresceram 6,4%, em relação a 2000. A violência nas escolas também tem aumentado e já virou preocupação nacional.
No ano passado, a França teve o maior aumento do número de crimes em uma década -5,2% a mais que em 1999.


Texto Anterior: Justiça: Corte internacional deve sair em 2002
Próximo Texto: Juízes desistem de interrogar Jacques Chirac
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.