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FRANÇA
Medida, que deve durar até meados de setembro, proíbe a circulação nas ruas, entre 23h e 6h, de crianças de 6 a 13 anos
Cidades impõem toque de recolher a criança
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
Subiu para sete o número de cidades na França que decidiram
proibir a circulação nas ruas de
crianças de 6 a 13 anos, entre 23h e
6h, para tentar reduzir a violência.
A decisão está espalhando pelo
país uma grande polêmica a respeito da segurança urbana e dos
direitos civis.
Nice e Colombes são as novas
prefeituras a aderir à medida, que
já está sendo aplicada em Orléans,
Cannes, Aulnay-sous-Bois, Étampes e Antibes. Ela tem um limite
de duração (em geral, até meados
de setembro) e não atinge a cidade inteira, mas três ou quatro
quarteirões em áreas empobrecidas, considerados de alto risco.
Em Nice, está sendo adotada desde ontem em lugares turísticos.
Orléans foi a primeira cidade a
obter autorização para aplicar o
"toque de recolher", no último dia
9, do Conselho de Estado francês.
O mesmo conselho havia anulado
proposta parecida em 1997, por
considerar que ela comprometia
o "exercício das liberdades públicas ou individuais".
Dessa vez, o Conselho avaliou
que o prefeito de Orléans deseja
proteger os menores tanto do risco de serem vítimas como do de
serem incitados, envolvidos ou
habituados a atos de violência.
As infrações cometidas por menores em Orléans subiram 12,6%
em um ano, mas a maioria é praticada por maiores de 13 anos -o
que torna injustificável a decisão
do prefeito, segundo opositores.
A medida virou uma das pedras-de-toque do debate político
francês depois que o presidente
Jacques Chirac (centro-direita) a
defendeu no último sábado. Ele
chegou mesmo a considerar que
ela seria válida para Paris.
Em seu pronunciamento, Chirac fez do problema da segurança
um dos principais instrumentos
de ataque ao primeiro-ministro
Lionel Jospin (centro-esquerda),
criticando-lhe a falta de vontade
política para controlar a violência.
Segundo pesquisas, o problema
da segurança é o que mais aflige
os franceses.
O Partido Comunista Francês
caracterizou a posição do presidente como "um excesso de zelo e
demagogia". A esquerda está dividida quanto ao "toque de recolher". Alguns de seus membros
criticam a transformação do problema da violência em espetáculo
midiático pelo RPR (Reunião pela
República), partido de Chirac.
Todas as prefeituras que adotaram o "toque de recolher" são governadas pelo RPR.
Como contra-ataque à estratégia da centro-direita, o socialista
Jospin divulgou ontem aumento
nos orçamentos de segurança do
Ministério do Interior (4,3%) e da
Justiça (5,5%). O aumento significa a contratação de cerca de 5.700
pessoas -entre elas, 3.000 policiais- e é superior ao dotado para a educação (4%).
A segurança pública já é o grande tema das eleições presidenciais
de 2002. As discussões sobre segurança também se avolumaram
nos últimos dias na França em
início de férias, depois que uma
série de atos violentos (os jornais
preferem dizer "atos de incivilidade") atingiu o país no fim de semana, feriado nacional.
Nos subúrbios de Paris, 130 carros foram incendiados. Em Sartrouville, três policiais foram feridos em choques com grupos de
jovens. Em Aulnay-sous-Bois,
uma gangue também de jovens
incendiou carros, cortou a eletricidade de um bairro de 23 mil habitantes e invadiu uma creche
com um carro, pondo fogo no local e em vários veículos.
Medidas de segurança estão
sendo tomadas em toda a França
para evitar infrações em hospitais,
piscinas públicas e meios de
transporte -as agressões contra
viajantes cresceram 6,4%, em relação a 2000. A violência nas escolas também tem aumentado e já
virou preocupação nacional.
No ano passado, a França teve o
maior aumento do número de
crimes em uma década -5,2% a
mais que em 1999.
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