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São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 2003

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Diretor da CIA nega ter liberado informação sobre urânio do Níger

DA REDAÇÃO

Após ter assumido a responsabilidade pela inclusão de uma informação falsa sobre o Iraque no discurso sobre o Estado da União proferido pelo presidente George W. Bush em janeiro, o diretor da CIA (serviço secreto americano), George Tenet, declarou anteontem, no Senado, que não lera o discurso antes da divulgação.
Tenet afirmou que a informação foi liberada por um funcionário da CIA, disse ao "Washington Post" um dos participantes da audiência. Segundo o jornal, congressistas republicanos teriam pedido a demissão de Tenet.
A informação em questão trata de uma suposta tentativa de compra de urânio no Níger. A CIA a teria recebido do serviço secreto britânico, que, por sua vez, a obteve de uma fonte italiana. O serviço secreto da Itália (Sismi) nega envolvimento no caso.
O premiê britânico, Tony Blair, disse que "não poderia ser descartada a possibilidade" de o Iraque ter tentado comprar urânio e manteve sua posição. Já Bush afirmou acreditar que "a informação recebida dos britânicos é genuína" e chamou de "céticos" os que duvidam de sua autenticidade.

Confusão
A responsabilidade da CIA no caso é confusa. Ao assumir a culpa na semana passada, Tenet disse ser responsável por "não evitar que o trecho fosse incluído no texto" a ser lido por Bush. Mas o chanceler britânico, Jack Straw, disse à comissão parlamentar que investiga o assunto no Reino Unido que a CIA pedira aos britânicos que descartassem o relatório sobre o urânio, mas que o serviço secreto não o fez porque contava com informações "que não foram compartilhadas com os EUA" para embasar a acusação.
Ontem, o"New York Times" citou o senador democrata (opositor) Richard Durbin, da Comissão de Inteligência do Senado, dizendo que um funcionário da Casa Branca teria insistido em que o trecho sobre o urânio fosse incluído no discurso, apesar das dúvidas da CIA. Antes, o jornal citara funcionários da CIA falando, sem serem identificados, que a agência alertara a Casa Branca para não usar a informação e que foram pressionados pelo governo para produzir relatórios embasando o ponto de vista da Casa Branca.
O caso é investigado pela CIA, pela comissão do Senado e pelo Departamento de Estado. Segundo disse à Folha Gregg Sullivan, diretor-adjunto da divisão de diplomacia pública do departamento, o birô de inteligência e pesquisa advertira a Casa Branca para a "falta de precisão" da informação. Investiga-se agora se isso ocorreu antes ou depois do discurso.
"A Casa Branca diz que, na época, não havia motivo para achar que as informações da inteligência fossem imprecisas", disse ele.
Para o senador republicano Pat Roberts, presidente da comissão, o fato de a informação sobre o urânio estar no discurso mostra "uma falha no processo" de comunicação e "falhas de coordenação entre o Departamento de Estado, a CIA, o Conselho de Segurança Nacional e a Casa Branca".


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