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TERROR
Segundo jornal "Página/12", país enviou alerta poucas semanas antes de atentado que matou 85 em centro judaico da capital
Brasil teria alertado Argentina sobre ataque
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
O governo argentino teria sido
alertado pelo serviço de inteligência do Brasil sobre a possibilidade
de um atentado em Buenos Aires
poucas semanas antes da explosão de um carro-bomba em frente
à Amia (Associação Mutual Israelita Argentina), que matou 85 pessoas em 18 de julho de 1994. A informação foi publicada ontem pelo jornal argentino "Página/12".
Após exatos nove anos do atentado, a Justiça argentina ainda
não encontrou os responsáveis.
Segundo o jornal, o alerta brasileiro teria chegado por escrito ao escritório da Side (Secretaria de Inteligência do Estado) em Foz do
Iguaçu. "Por burocracia, negligência ou qualquer outro motivo,
a Side não deu atenção às advertências", diz o jornal. A Argentina
é o único país da América Latina
que foi alvo de atentados terroristas. Em março de 1992, 29 pessoas
morreram em atentado à Embaixada de Israel em Buenos Aires.
O jornal cita, sem identificar,
uma fonte do alto comando da Side. Ela diz que, há dois anos, dois
dos funcionários que lideraram as
investigações sobre o atentado
-Patricio Finner e Alejandro
Brousson- confirmaram o recebimento do alerta brasileiro.
"Não temos elementos para dizer se a informação é séria e verdadeira. Até agora ninguém viu
esse documento. Esperamos que
essas pessoas, quando estiverem
na frente no juiz, falem a verdade
para que o caso seja esclarecido",
diz o presidente da Daia (Delegação de Associações Israelitas da
Argentina), José Hercman.
Esta não é a primeira vez que
aparece um "elo brasileiro" nas
investigações. Poucas semanas
antes do atentado, o brasileiro
Wilson dos Santos visitou consulados da Argentina, do Brasil e de
Israel em Milão para alertar sobre
um possível ataque em Buenos
Aires. Interrogado sobre o tema,
disse que havia inventado a história e foi preso por falso testemunho. Foi libertado recentemente,
por já ter cumprido parte da pena.
No início do mês, o novo titular
da Side, Sergio Acevedo, anunciou que, por ordem do presidente Néstor Kirchner, os arquivos da
secretaria seriam disponibilizados para as investigações sobre o
caso. A abertura dos arquivos e a
liberação do segredo de Estado
-determinado no governo de
Carlos Menem (1989-1999)- era
um pedido antigo da comunidade
judaica argentina e dos parentes
das vítimas do atentado.
"Pela primeira vez em nove
anos, um governo argentino decidiu que o caso Amia é uma causa
do Estado argentino", disse o presidente da Amia, Abraham Kaul.
"Desta vez parece que há vontade
política para apurar o caso", afirmou Hercman à Folha.
Na reportagem de ontem, o
"Página 12" afirma ainda que na
época do atentado o então chefe
da Side, Hugo Anzonegary, teria
proibido, a pedido de Menem,
qualquer avanço nas investigações que pudesse indicar uma
participação de governos estrangeiros nos atentados. Especula-se
que, em troca, Menem teria conseguido financiamento para a sua
campanha -em 1995 ele se reelegeu presidente.
A denúncia foi feita por reportagem do "New York Times", em
que um suposto desertor da agência de inteligência do Irã disse que
seu país organizou o atentado e
pagou US$ 10 milhões para Menem encobrir o crime. Menem
negou a acusação e disse que processaria o diário por calúnia.
Outra versão é a de que Menem
teria suspendido um programa de
cooperação nuclear com países
árabes. Teria, ao mesmo tempo,
estreitado as relações políticas e
comerciais com os EUA, além de
visitar Israel. Isso, segundo essa
versão, teria irritado alguns governo árabes, que culpam o recuo
de Menem pelo fato de não terem
conseguido desenvolver armamentos nucleares.
"Não sabemos até que ponto
Menem estaria ou não envolvido.
Sabemos, sim, que ele não encarou o caso como assunto de Estado. Não havia vontade política para investigar", diz Hercman.
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