|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Candidatura de Cristina Kirchner superará escândalo, crêem analistas
Mas queda de ministra tirará do governo bandeira do combate à corrupção
RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES
A reação inicial do mercado
mostrou que a demissão da ministra argentina Felisa Miceli
(Economia) teve pouca repercussão no campo econômico. O
que o governo não pôde evitar,
porém, foi o impacto negativo
na candidatura à Presidência
da primeira-dama, Cristina
Fernández de Kirchner, que será lançada amanhã.
"Já que tinha de ocorrer, seria muito melhor se tivesse
ocorrido em qualquer outra semana. Cristina pertence a um
governo que fez da luta contra a
corrupção uma bandeira, e a
saída de Miceli mostra que essa
bandeira não corresponde à
realidade", diz o cientista político Rosendo Fraga.
Gustavo Pandiani, da Universidade do Salvador, diz que
o fato de Miceli -investigada
por ter sido achada, no banheiro de seu gabinete, uma bolsa
com cerca R$ 120 mil em dólares e pesos- ser mulher é outro
fator negativo para Cristina.
"O governo gerou muita expectativa sobre Cristina como
candidata, igualando-a a Michele Bachelet e Hilary Clinton. Mas Miceli e Romina Picolotti [secretária do Ambiente,
também investigada] acabaram
se transformando na outra cara
do governo, o que derruba o argumento de que mulheres são
mais honestas."
Mas tanto Fraga quanto Pandiani descartam que o caso Miceli possa levar à derrota de
Cristina em outubro. Ambos
vêem a oposição fraca e sem saber explorar erros do governo.
A análise é apoiada por Analia del Franco, do instituto de
pesquisa Analogías. "Se houvesse impacto, teria ocorrido
antes, quando explodiu o escândalo. As pesquisas que fizemos na semana passada mostram que o caso não afetou em
nada a intenção de voto."
O caso Miceli veio a público
uma semana antes de ser confirmada a candidatura de Cristina, no dia 1º. O governo avaliou que seria menor o peso político de manter Miceli, mas o
pedido do procurador do caso
de que ela fosse chamada a depor levou à sua queda.
A decisão final de que Miceli
deixaria o cargo foi tomada em
um almoço entre Kirchner,
Cristina e o chefe-de-gabinete
Alberto Fernández. Fontes do
governo fizeram questão de
disseminar nos jornais argentinos a versão de que Cristina teria tido uma posição muito firme de que não se podia mantê-la no governo.
A estratégia visando a campanha que terá sua largada oficial amanhã, com o ato de lançamento de Cristina em La Plata, deve ser a de apostar que o
tema caia no esquecimento.
A reação do mercado à mudança foi neutra. O Merval, índice da Bolsa de Buenos Aires,
fechou com uma alta de 0,12%.
Texto Anterior: Depois de terremoto, Japão questiona segurança nuclear Próximo Texto: México: Confrontos entre polícia e esquerda voltam a Oaxaca Índice
|