São Paulo, quarta-feira, 18 de julho de 2007

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Candidatura de Cristina Kirchner superará escândalo, crêem analistas

Mas queda de ministra tirará do governo bandeira do combate à corrupção

RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

A reação inicial do mercado mostrou que a demissão da ministra argentina Felisa Miceli (Economia) teve pouca repercussão no campo econômico. O que o governo não pôde evitar, porém, foi o impacto negativo na candidatura à Presidência da primeira-dama, Cristina Fernández de Kirchner, que será lançada amanhã.
"Já que tinha de ocorrer, seria muito melhor se tivesse ocorrido em qualquer outra semana. Cristina pertence a um governo que fez da luta contra a corrupção uma bandeira, e a saída de Miceli mostra que essa bandeira não corresponde à realidade", diz o cientista político Rosendo Fraga.
Gustavo Pandiani, da Universidade do Salvador, diz que o fato de Miceli -investigada por ter sido achada, no banheiro de seu gabinete, uma bolsa com cerca R$ 120 mil em dólares e pesos- ser mulher é outro fator negativo para Cristina.
"O governo gerou muita expectativa sobre Cristina como candidata, igualando-a a Michele Bachelet e Hilary Clinton. Mas Miceli e Romina Picolotti [secretária do Ambiente, também investigada] acabaram se transformando na outra cara do governo, o que derruba o argumento de que mulheres são mais honestas."
Mas tanto Fraga quanto Pandiani descartam que o caso Miceli possa levar à derrota de Cristina em outubro. Ambos vêem a oposição fraca e sem saber explorar erros do governo.
A análise é apoiada por Analia del Franco, do instituto de pesquisa Analogías. "Se houvesse impacto, teria ocorrido antes, quando explodiu o escândalo. As pesquisas que fizemos na semana passada mostram que o caso não afetou em nada a intenção de voto."
O caso Miceli veio a público uma semana antes de ser confirmada a candidatura de Cristina, no dia 1º. O governo avaliou que seria menor o peso político de manter Miceli, mas o pedido do procurador do caso de que ela fosse chamada a depor levou à sua queda.
A decisão final de que Miceli deixaria o cargo foi tomada em um almoço entre Kirchner, Cristina e o chefe-de-gabinete Alberto Fernández. Fontes do governo fizeram questão de disseminar nos jornais argentinos a versão de que Cristina teria tido uma posição muito firme de que não se podia mantê-la no governo.
A estratégia visando a campanha que terá sua largada oficial amanhã, com o ato de lançamento de Cristina em La Plata, deve ser a de apostar que o tema caia no esquecimento.
A reação do mercado à mudança foi neutra. O Merval, índice da Bolsa de Buenos Aires, fechou com uma alta de 0,12%.


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