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São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2003

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Repórter da BBC admite ter errado

DA REDAÇÃO

O repórter da BBC Andrew Gilligan admitiu ontem ter cometido erros na reportagem na qual acusou o governo britânico de ter "tornado mais sexy" o relatório sobre as armas de destruição em massa de Saddam Hussein.
O documento foi divulgado alguns meses antes da Guerra do Iraque, iniciada em 20 de março, para convencer a comunidade internacional e a opinião pública da necessidade de uma ação militar contra o então ditador iraquiano.
A reportagem, de final de maio, provocou um sério conflito entre a rede pública de rádio e TV e o governo de Tony Blair, agravado pelo suicídio, em julho, do cientista britânico David Kelly, colaborador do serviço de inteligência britânico na questão das armas de destruição em massa iraquianas.
A morte de Kelly, principal fonte da polêmica reportagem de Gilligan, provocou um desgaste na imagem do premiê, pois especulou-se que o cientista pudesse ter se matado devido à intensa pressão exercida sobre ele por membros do governo.
Blair foi forçado a abrir um inquérito independente para esclarecer a morte.
Em seu segundo depoimento ao juiz responsável, Gilligan reconheceu ter errado ao atribuir algumas frases a Kelly, quando tratavam-se de conclusões dele.
Ele também admitiu ter errado por não ter ouvido o que o escritório de Blair tinha a dizer antes da veiculação da reportagem.
Na reportagem, Gilligan disse que um dos funcionários de inteligência responsáveis pela elaboração do relatório teria afirmado que o governo havia incluído a informação de que o Iraque poderia realizar um ataque químico ou biológico apenas 45 minutos após uma ordem nesse sentido apesar de saber que o dado seria errado.
Ontem, ele disse que, embora algumas pessoas do serviço de inteligência fossem contrárias à inclusão da informação, o governo não teria sido especificamente alertado a não utilizá-la.
"Minha intenção foi a de relatar o que o dr. Kelly me disse e lamento não ter reproduzido de forma inteiramente cuidadosa e precisa o que ele disse", afirmou.
O diretor de jornalismo da BBC, Richard Sambrook, disse haver "uma série de lições que a BBC terá de tirar disso".
Gilligan também admitiu ter errado ao revelar o nome de sua fonte a um parlamentar britânico.
Pelo que se sabia até agora, a informação sobre sua identidade vazou do próprio Ministério da Defesa, para o qual o cientista trabalhava. Kelly teria procurado seus superiores para dizer que acreditava ser ele a fonte da reportagem e para questionar alguns aspectos dela. Mas teria pedido que seu nome fosse preservado.
Isso não teria sido respeitado e, ao divulgar o nome do cientista, o ministério teria exposto Kelly, que não suportou a pressão. Também há suspeitas de que ele teria sido ameaçado por funcionários do governo. Ontem, o próprio Gilligan admitiu ter vazado a identidade de sua fonte.
O caso Kelly, como ficou conhecido, atingiu em cheio a imagem do premiê Tony Blair, principal aliado do presidente dos EUA, George W. Bush, na decisão de atacar o Iraque.
Blair defendeu a absoluta necessidade da guerra devido à ameaça que Saddam Hussein e suas armas representaria para o mundo. Passados mais de cinco meses da queda de Bagdá (9 de abril), as forças de ocupação dos EUA e do Reino Unido ainda não encontraram armas de destruição em massa no Iraque.


Com agências internacionais

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