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Repórter da BBC admite ter errado
DA REDAÇÃO
O repórter da BBC Andrew Gilligan admitiu ontem ter cometido erros na reportagem na qual
acusou o governo britânico de ter
"tornado mais sexy" o relatório
sobre as armas de destruição em
massa de Saddam Hussein.
O documento foi divulgado alguns meses antes da Guerra do
Iraque, iniciada em 20 de março,
para convencer a comunidade internacional e a opinião pública da
necessidade de uma ação militar
contra o então ditador iraquiano.
A reportagem, de final de maio,
provocou um sério conflito entre
a rede pública de rádio e TV e o
governo de Tony Blair, agravado
pelo suicídio, em julho, do cientista britânico David Kelly, colaborador do serviço de inteligência
britânico na questão das armas de
destruição em massa iraquianas.
A morte de Kelly, principal fonte da polêmica reportagem de Gilligan, provocou um desgaste na
imagem do premiê, pois especulou-se que o cientista pudesse ter
se matado devido à intensa pressão exercida sobre ele por membros do governo.
Blair foi forçado a abrir um inquérito independente para esclarecer a morte.
Em seu segundo depoimento ao
juiz responsável, Gilligan reconheceu ter errado ao atribuir algumas frases a Kelly, quando tratavam-se de conclusões dele.
Ele também admitiu ter errado
por não ter ouvido o que o escritório de Blair tinha a dizer antes
da veiculação da reportagem.
Na reportagem, Gilligan disse
que um dos funcionários de inteligência responsáveis pela elaboração do relatório teria afirmado
que o governo havia incluído a informação de que o Iraque poderia
realizar um ataque químico ou
biológico apenas 45 minutos após
uma ordem nesse sentido apesar
de saber que o dado seria errado.
Ontem, ele disse que, embora
algumas pessoas do serviço de inteligência fossem contrárias à inclusão da informação, o governo
não teria sido especificamente
alertado a não utilizá-la.
"Minha intenção foi a de relatar
o que o dr. Kelly me disse e lamento não ter reproduzido de forma
inteiramente cuidadosa e precisa
o que ele disse", afirmou.
O diretor de jornalismo da BBC,
Richard Sambrook, disse haver
"uma série de lições que a BBC terá de tirar disso".
Gilligan também admitiu ter errado ao revelar o nome de sua
fonte a um parlamentar britânico.
Pelo que se sabia até agora, a informação sobre sua identidade
vazou do próprio Ministério da
Defesa, para o qual o cientista trabalhava. Kelly teria procurado
seus superiores para dizer que
acreditava ser ele a fonte da reportagem e para questionar alguns
aspectos dela. Mas teria pedido
que seu nome fosse preservado.
Isso não teria sido respeitado e,
ao divulgar o nome do cientista, o
ministério teria exposto Kelly,
que não suportou a pressão. Também há suspeitas de que ele teria
sido ameaçado por funcionários
do governo. Ontem, o próprio Gilligan admitiu ter vazado a identidade de sua fonte.
O caso Kelly, como ficou conhecido, atingiu em cheio a imagem
do premiê Tony Blair, principal
aliado do presidente dos EUA,
George W. Bush, na decisão de
atacar o Iraque.
Blair defendeu a absoluta necessidade da guerra devido à ameaça
que Saddam Hussein e suas armas representaria para o mundo.
Passados mais de cinco meses da
queda de Bagdá (9 de abril), as
forças de ocupação dos EUA e do
Reino Unido ainda não encontraram armas de destruição em massa no Iraque.
Com agências internacionais
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