São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2007

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EUA vêem melhora boliviana e piora afegã em deter drogas

Relatório admite que cultivo maior de papoula se deve à invasão do Afeganistão

Avaliação anual surpreende ao elogiar os esforços da Bolívia de Morales; já o venezuelano Chávez segue sob críticas de Washington

Efe - 4.set.07
Cocaleiras bolivianas fazem manifestação em La Paz; esforços do governo Morales em reduzir coca ganharam elogios dos EUA


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

No mais próximo de um mea culpa que um relatório do governo de George W. Bush chegaria, o documento anual sobre países que produzem drogas ou são rota de tráfico admite que o Afeganistão enfrenta um problema crescente na área. O mesmo texto surpreende ao elogiar esforços do governo do boliviano Evo Morales, líder cocaleiro, no combate à utilização de folhas de coca para a produção de cocaína.
"Embora o presidente [Hamid] Karzai venha combatendo fortemente o narcotráfico no Afeganistão, um terço da economia afegã continua baseada no comércio do ópio, o que contribui para a disseminação da corrupção pública, prejudica o crescimento da economia lícita e fortalece a insurgência", escreve o próprio Bush, em texto ao Congresso dos EUA.
A volta do cultivo para a produção de heroína é um dos efeitos colaterais da Guerra do Afeganistão, iniciada em 2001. Os EUA derrubaram o regime do grupo fundamentalista islâmico Taleban em retaliação ao 11 de Setembro, executado pela Al Qaeda, que tinha guarida dos então governantes afegãos. Sem os extremistas, o Afeganistão voltou a ser o maior fabricante de ópio do mundo.
"De acordo com dados recentes da ONU, não há dúvida de que o cultivo de papoula cresceu 17% neste ano. O aumento foi quase exclusivamente nas Províncias do Sul que fazem fronteira com o Paquistão", disse ontem Christy McCampbell, do Departamento de Estado, ao apresentar o relatório à imprensa em Washington.

Os 20 mais
O texto, uma exigência do Congresso, lista 20 países que se enquadram na categoria de "produtores" ou "corredores" de tráfico nos dois últimos anos. Entre eles estão Afeganistão, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guatemala, Haiti, Índia, México e Venezuela. Os 20 países são distinguidos entre os que merecem sanções e os que passariam por "condições extraordinárias" e, portanto, não as merecem -categoria em que o Brasil está.
No último caso está também a Bolívia, terceiro maior produtor de coca do mundo. Depois de chamar a cooperação do governo de "irregular", o texto afirma que ele "tem colaborado de perto na interdição, e operações e capturas atingiram níveis recordes. O governo está prestes a atingir 5.600 hectares de erradicação neste ano, suplantando sua meta de 5.000".
Christy McCampbell chegou perto de propor um meio-termo entre o que deseja Evo Morales -o direito de os locais continuarem produzindo coca, sem sanções- e os EUA -que essas folhas para uso tradicional "não se transformem em cocaína", disse a diplomata.
A atitude conciliatória foi aplaudida por funcionários do governo de Morales. "O reconhecimento dos EUA é importante para a política governamental de "cocaína zero, mas não coca zero'", disse o ministro da Defesa boliviano, Walker San Miguel.
Palavras mais duras foram reservadas ao governo do venezuelano Hugo Chávez, aliado de Morales e principal crítico do governo norte-americano na região. Para Bush, nos últimos 12 meses a Venezuela "falhou de maneira demonstrável" no combate às drogas.


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