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Morre o enxadrista Bobby Fischer
Um dos maiores do mundo, o americano virou herói após derrotar, em 1972, o soviético Spassky
Partida simbolizou vitória sobre o comunismo em plena Guerra Fria; campeão acabou recluso, defendendo o terror e o anti-semitismo
julho de 1971/France Presse
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Bobby Fischer (dir.) enfrenta o soviético Tigran Petrossian, em Buenos Aires, ainda antes da fama |
DA REDAÇÃO
Morreu ontem na cidade de
Reykjavík, capital da Islândia, o
enxadrista americano Bobby
Fischer.
Morto aos 64 anos, de causa
ainda não revelada, Robert James Fischer ficou famoso não
só por ser um dos maiores enxadristas do mundo como por
seu temperamento peculiar e
por ter protagonizado, em
1972, uma partida envolta no
simbolismo do embate soviético-americano da Guerra Fria.
Nascido em Chicago e criado
por sua mãe no bairro nova-iorquino do Brooklin, Fischer ganhou seu primeiro tabuleiro de
xadrez da irmã, Joan, quando
tinha 6 anos. Aos 16 já havia largado os estudos para se dedicar
mais à modalidade. Tornara-se
um campeão de xadrez aos 14.
"Foi Bobby quem fez, sozinho, o mundo reconhecer que o
xadrez de alto nível era tão
competitivo quanto o futebol,
tão emocionante quanto um
duelo até a morte, tão esteticamente prazeroso como uma
bela obra de arte", escreveu Harold C. Schonberg, em 1973,
lembra o "New York Times".
Schonberg cobriu o histórico
confronto entre Fischer e o
russo Boris Spassky, realizado
em 1972, em Reykjavik, a mesma cidade que se tornaria o lar
do americano anos mais tarde.
Numa série de 21 partidas que
foram o simulacro de um embate entre os EUA e a União Soviética -cuja possibilidade de
ser levado a cabo ainda amedrontava muitas pessoas no
mundo todo-, Fischer ganhou
sete, contra três vitórias de
Spassky e 11 empates.
A vitória lhe rendeu o título
de campeão mundial, até então
com Spassky, e US$ 250 mil.
Herói recluso
O triunfo sobre o soviético,
uma imagem da vitória da democracia sobre o comunismo,
rendeu-lhe também fama. Ele
foi recebido na Casa Branca pelo então presidente dos EUA,
Richard Nixon (1969-74),
transformando-se num herói
americano. Um dos efeitos das
partidas de Reykjavík foi uma
popularização sem precedentes do jogo de xadrez nos EUA.
No ano seguinte, porém, Fischer tornou-se recluso. Foi viver na Califórnia, onde se dizia
que passava o tempo jogando
xadrez e lendo literatura nazista. Em 1975, ao se recusar a enfrentar o russo Anatoly Karpov,
perdeu o título mundial.
Apesar dos rumores de que
estava prestes a voltar, só reapareceu no ano de 1992, para
uma revanche contra Boris
Spassky na Iugoslávia -e para
vencer o russo novamente.
O jogo na Iugoslávia violou
sanções dos EUA ao antigo país
da Cortina de Ferro, e Bobby
Fischer passou a ser procurado
no seu país. O ex-herói americano desapareceu de novo, tendo vivido um tempo no Japão
-onde chegou a ficar preso por
nove meses, sob acusação de
tentar deixar o país com um
passaporte inválido- e finalmente na Islândia.
Fischer não causou estupor
apenas por ter se tornado uma
espécie de eremita, tendo recusado alguns convites milionários para jogar fora dos EUA.
Ele também causou choque por
declarações anti-semitas e por
ter, em setembro de 2001, dito
a uma rádio filipina que o ataque da Al Qaeda aos EUA naquele mês tinha sido uma "notícia maravilhosa". Fischer disse que ansiava pelo dia em que
os EUA seriam "tomados pelos
militares, e eles fecharão as sinagogas e prenderão todos os
judeus". A mãe de Fischer, Regina, morta em 1997, era judia.
Segundo pessoas próximas
ao enxadrista, ele sofreu muito
com a morte da mãe, com quem
mantinha contato apesar da
distância -ela não deixou os
EUA, diferentemente do filho,
que abriu mão da cidadania
americana e ganhou a islandesa
em 2005.
"Eles sempre usam a palavra
"excêntrico", "excêntrico", "esquisito'", teria dito Fischer certa vez, segundo a rede BBC. "Eu
sou chato! Eu sou chato!"
"Para o azeri Garry Kasparov, Bobby Fischer representou nos anos 60 uma "revolução" no xadrez, diz a BBC.
Ainda segundo a rede britânica, Boris Spassky afirmou lamentar muito a morte do velho
oponente, que não chegou a se
casar e não teve filhos.
Com o "New York Times"
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