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HAITI EM RUÍNAS
UE promete 422 milhões de euros
Bloco cobra mais coordenação no uso dos fundos em campo, ecoando preocupação externada pela ONU
Indicada para comissária de ajuda humanitária sofre resistência no Parlamento Europeu, e cargo pode ficar vago ou com um interino
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
A União Europeia anunciou
ontem que elevará para 122
milhões sua contribuição para
os esforços humanitários no
Haiti, incluídas as doações de
seus 27 integrantes, e prometeu dar 300 milhões para a reconstrução do país.
O bloco foi especialmente
duro na exigência de mais
coordenação na utilização dos
fundos em campo, ecoando
preocupações manifestadas
pelo secretário-geral da ONU,
Ban Ki-moon, pelas agências
humanitárias envolvidas e por
analistas e observadores.
Mas não acatou, a princípio,
declarações de um ministro
francês que criticou os EUA
por deslocarem 10 mil militares para o Haiti e assumirem o
controle do aeroporto da capital -a pedido de autoridades
haitianas, segundo a ONU.
Alain Joyandet, ministro da
Cooperação, teve seu momento Hugo Chávez ao dizer que se
tratava de "ajudar o Haiti, não
de ocupá-lo", segundo a agência Associated Press. O chanceler Bernard Kouchner pôs panos quentes afirmando que os
países e agências não deveriam
disputar a entrega de ajuda.
Buscando um papel maior na
operação, os europeus pediram
para participar da coordenação
das ações com a ONU e os EUA
e anunciaram que enviarão 150
policiais para reforçar a segurança em Porto Príncipe. O
bloco quer ainda uma conferência sobre a reconstrução.
Especialistas ouvidos pela
Folha alertam para o risco de a
operação virar uma briga de
vaidades em que doadores perdem tempo disputando holofotes para aparecer em ação. "O
lógico seria a ONU coordenar
os esforços, mas nem sempre
isso acontece, pois cada agência e doador quer se distinguir", diz Paolo de Renzio, da
Universidade de Oxford.
A descoordenação tem prejudicado o trabalho em campo
de agências da ONU e ONGs.
Elisabeth Byrs, porta-voz do
braço de ajuda humanitária do
organismo internacional
(Ocha), lamentou em Genebra
a dificuldade logística e alertou
que o combustível começa a ser
racionado, agravando o quadro.
A nova chanceler da UE, a
britânica Catherine Ashton,
discordou de que "o trabalho
das ONGs seja prejudicado pelo excesso de visitantes e contribuintes ilustres". Ainda assim, o bloco esperará alguns
dias para enviar sua missão.
O atual comissário para ajuda humanitária e desenvolvimento, Karel de Gucht, deve
chegar ao Haiti amanhã. Mas
De Gucht está prestes a deixar
o cargo, e a conservadora romena Rumiana Jeleva, indicada como substituta, encontra
forte resistência no Parlamento Europeu. Um veto pode deixar o posto vago por semanas
ou nas mãos de um interino.
As decisões foram tomadas
em reunião extraordinária ontem para organizar os esforços
da UE -seus membros haviam
feito ofertas desconjuntadas.
Do dinheiro a ser doado para
a reconstrução, 100 milhões
devem ser liberados em breve.
Outros 200 milhões são fundos de longo e médio prazo para reerguer o país, que aguardam ainda a apresentação de
projetos específicos.
A ONU informava que até
ontem arrecadara 19% dos US$
560 milhões que pediu para os
esforços emergenciais no Haiti.
Se considerado o que está sendo administrado pelos próprios países doadores e por
ONGs, a arrecadação chega a
US$ 273 milhões, e as promessas de donativos somam outros
US$ 413 milhões, segundo a
Ocha. O saldo ainda não incluía
o novo anúncio europeu.
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