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São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 2003

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IRAQUE NA MIRA

Presidente diz que "discorda respeitosamente" dos atos contra a guerra; Blair vê perigo nas relações EUA-Europa

Bush diz que protestos não o farão mudar

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, George W. Bush, disse ontem que protestos pacifistas não afetarão sua determinação de usar a força contra o Iraque. "A democracia é uma coisa bonita. As pessoas têm o direito de expressar suas opiniões... Algumas pessoas no mundo não vêem [o ditador iraquiano] Saddam Hussein como uma ameaça à paz; eu, respeitosamente, discordo", disse ele.
"Saddam Hussein é uma ameaça à América, e nós vamos cuidar dele", afirmou Bush, em breve entrevista coletiva em Washington.
No último fim de semana, milhões de pessoas foram às ruas em todo o mundo para protestar contra uma possível invasão do Iraque, no maior protesto coletivo na história. Houve manifestações em cerca de 600 cidades, em 60 países. O impacto desses protestos sobre a opinião pública americana ainda é incerto.
Depois de dedicar pouco destaque aos protestos no sábado, as emissoras de TV americanas aumentaram sensivelmente o espaço conferido ao movimento pacifista americano e europeu. Mesmo antes das manifestações, pesquisas indicavam uma redução no índice de apoio a uma invasão do Iraque e um crescente apoio à concessão de mais tempo para que os inspetores da ONU tentem desarmar o país pacificamente.
Bush afirmou ontem que o conflito armado ainda é a última alternativa, mas que "não fazer nada é a pior opção". Disse ainda que uma nova resolução das Nações Unidas sobre o Iraque seria "útil", mas que os EUA não precisam dela porque o governo iraquiano ignorou a resolução anterior, que previa "graves consequências" se desacatada.
"Saddam sabe das minhas intenções e que ele precisa se desarmar por completo. Mas ele é um sujeito que quer ganhar tempo e faz isso com adiamentos e truques", afirmou.
O presidente disse ainda ter "esperança" de chegar a um acordo para usar o território turco para um eventual ataque ao Iraque. O governo da Turquia exige uma "compensação financeira" para ceder seu território para tropas norte-americanas.
Funcionários do Departamento de Estado, liderados pelo secretário Colin Powell, foco antiguerra dentro da administração Bush, avaliam se há uma saída política para o presidente recuar em sua disposição de ir à guerra sem sofrer danos políticos. Se desistir da guerra, Bush terá de explicar não só os altos custos de enviar equipamentos e dezenas de milhares de soldados ao golfo Pérsico como também a lógica de uma política externa que vê ameaças no Iraque e minimiza o perigo da Coréia do Norte - país que busca publicamente poder nuclear e hostiliza o governo americano.
Além disso, analistas independentes estimam que, se desistir do Iraque e fracassar em sua busca do terrorista saudita Osama bin Laden, Bush teria poucos feitos para mostrar ao eleitorado nas eleições presidenciais de 2004. No campo doméstico, o presidente tem fracassado, até o momento, em sua tentativa de estimular a combalida economia.

Blair
Bush, cuja aprovação popular vem caindo (54% em fevereiro, contra 64% em janeiro), disse que não baseará suas decisões em protestos ou pesquisas de opinião, mas no que considera correto. Ele elogiou o premiê britânico, Tony Blair, seu maior aliado, que enfrenta enorme oposição interna à guerra: "Ele é um líder corajoso, e estou orgulhoso de chamá-lo de amigo".
Já Blair defendeu ontem sua aliança com Bush e disse que os opositores a um possível uso da força contra Bagdá podem causar uma perigosa ruptura entre os EUA e a Europa.
"As pessoas que querem separar os EUA e a Europa estão jogando o mais perigoso jogo que conheço na política internacional", disse ele, sem identificar de quem falava.


Com agências internacionais


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