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IRAQUE NA MIRA
Presidente diz que "discorda respeitosamente" dos atos contra a guerra; Blair vê perigo nas relações EUA-Europa
Bush diz que protestos não o farão mudar
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
O presidente dos EUA, George
W. Bush, disse ontem que protestos pacifistas não afetarão sua determinação de usar a força contra
o Iraque. "A democracia é uma
coisa bonita. As pessoas têm o direito de expressar suas opiniões...
Algumas pessoas no mundo não
vêem [o ditador iraquiano] Saddam Hussein como uma ameaça
à paz; eu, respeitosamente, discordo", disse ele.
"Saddam Hussein é uma ameaça à América, e nós vamos cuidar
dele", afirmou Bush, em breve entrevista coletiva em Washington.
No último fim de semana, milhões de pessoas foram às ruas em
todo o mundo para protestar contra uma possível invasão do Iraque, no maior protesto coletivo
na história. Houve manifestações
em cerca de 600 cidades, em 60
países. O impacto desses protestos sobre a opinião pública americana ainda é incerto.
Depois de dedicar pouco destaque aos protestos no sábado, as
emissoras de TV americanas aumentaram sensivelmente o espaço conferido ao movimento pacifista americano e europeu. Mesmo antes das manifestações, pesquisas indicavam uma redução
no índice de apoio a uma invasão
do Iraque e um crescente apoio à
concessão de mais tempo para
que os inspetores da ONU tentem
desarmar o país pacificamente.
Bush afirmou ontem que o conflito armado ainda é a última alternativa, mas que "não fazer nada é a pior opção". Disse ainda
que uma nova resolução das Nações Unidas sobre o Iraque seria
"útil", mas que os EUA não precisam dela porque o governo iraquiano ignorou a resolução anterior, que previa "graves consequências" se desacatada.
"Saddam sabe das minhas intenções e que ele precisa se desarmar por completo. Mas ele é um
sujeito que quer ganhar tempo e
faz isso com adiamentos e truques", afirmou.
O presidente disse ainda ter "esperança" de chegar a um acordo
para usar o território turco para
um eventual ataque ao Iraque. O
governo da Turquia exige uma
"compensação financeira" para
ceder seu território para tropas
norte-americanas.
Funcionários do Departamento
de Estado, liderados pelo secretário Colin Powell, foco antiguerra
dentro da administração Bush,
avaliam se há uma saída política
para o presidente recuar em sua
disposição de ir à guerra sem sofrer danos políticos. Se desistir da
guerra, Bush terá de explicar não
só os altos custos de enviar equipamentos e dezenas de milhares
de soldados ao golfo Pérsico como também a lógica de uma política externa que vê ameaças no
Iraque e minimiza o perigo da Coréia do Norte - país que busca
publicamente poder nuclear e
hostiliza o governo americano.
Além disso, analistas independentes estimam que, se desistir do
Iraque e fracassar em sua busca
do terrorista saudita Osama bin
Laden, Bush teria poucos feitos
para mostrar ao eleitorado nas
eleições presidenciais de 2004. No
campo doméstico, o presidente
tem fracassado, até o momento,
em sua tentativa de estimular a
combalida economia.
Blair
Bush, cuja aprovação popular
vem caindo (54% em fevereiro,
contra 64% em janeiro), disse que
não baseará suas decisões em protestos ou pesquisas de opinião,
mas no que considera correto. Ele
elogiou o premiê britânico, Tony
Blair, seu maior aliado, que enfrenta enorme oposição interna à
guerra: "Ele é um líder corajoso, e
estou orgulhoso de chamá-lo de
amigo".
Já Blair defendeu ontem sua
aliança com Bush e disse que os
opositores a um possível uso da
força contra Bagdá podem causar
uma perigosa ruptura entre os
EUA e a Europa.
"As pessoas que querem separar os EUA e a Europa estão jogando o mais perigoso jogo que
conheço na política internacional", disse ele, sem identificar de
quem falava.
Com agências internacionais
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