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ANÁLISE
Há espaço para a "intrusão" do Brasil?
DO ENVIADO A AMÃ
A certo ponto da reunião de
ontem da comitiva brasileira
com o príncipe Hassan ibn Talal, tio do rei Abdullah 2º, da
Jordânia, e com o chanceler
Nasser Judeh, os próprios brasileiros trouxeram ao diálogo
uma dúvida que é recorrente
no Brasil, fora do governo: disseram que às vezes sentem-se
como "intrusos" no processo de
paz no Oriente Médio.
"É o tipo da intrusão que queremos", responderam os dois
jordanianos.
Resposta tranquilizadora para a ânsia com que o presidente
Lula busca tornar-se parte do
processo. Mera cortesia dos anfitriões, como de resto já havia
acontecido em Israel e na Palestina, ou possibilidade real de
participação?
Não há resposta definitiva
por enquanto. Até porque o assessor diplomático de Lula,
Marco Aurélio Garcia, deixa
claro que só lá pelo meio do ano
é que se terá uma visão algo
mais clara de que participação
o Brasil poderá ter e, assim
mesmo, no futuro. Dificilmente será no governo Lula, aliás.
De todo modo, Marco Aurélio tem uma análise que é igual
à que se faz em boa parte do
mundo rico: "A crise dos grandes atores internacionais permite a emergência dos outros".
O chanceler Celso Amorim
também adota um grau de realismo sobre o papel do Brasil
que o voluntarismo do presidente às vezes sobredimensiona. Diz que o papel do Brasil
"não é o de vir com uma fórmula pronta" para resolver o conflito, mas o de contribuir com o
que chama de "um novo olhar
sobre o problema".
"O ator fundamental continua sendo os Estados Unidos,
mas tudo o que diz Washington
desperta uma dada reação, ao
passo que o Brasil não entra
com uma bagagem de interesses estratégicos, militares e
econômicos apenas para tentar
melhorá-la", diz Amorim.
Marco Aurélio reforça o realismo quando é lembrado pela
Folha que, antes de sentar novos atores à mesa de negociações, como seria o Brasil, é preciso haver a mesa, o que não
existe hoje. "Tem coisas que
não dominamos", admite.
Mas o Brasil não busca protagonismo apenas pela nobreza
da causa da paz. "Não somos
nem a Cruz Vermelha nem a
Legião da Boa Vontade", ironiza Marco Aurélio.
O Brasil quer igualmente fazer negócios, expandir seu comércio, ter suas empresas
atuando globalmente, o que
significa presença também no
Oriente Médio, o que hoje é
complicado pela instabilidade.
"Não nos interessa uma situação degradada, que ameaça a
paz internacional", fecha o assessor da Presidência.
(CLÓVIS ROSSI)
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