São Paulo, sábado, 19 de março de 2011

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Aristide volta ao Haiti e prega fim de golpes

Ex-presidente haitiano, deposto duas vezes, retorna de exílio às vésperas das eleições

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

Saudado por milhares de apoiadores, o ex-presidente do Haiti Jean Bertrand Aristide retornou ontem a Porto Príncipe pedindo o fim da era "de exílios e de golpes de Estado" e prometendo "servir com amor" na educação.
Aristide, duas vezes eleito democraticamente e duas vezes deposto, chegou ao aeroporto da capital em um avião privado cedido pelo governo da África do Sul, onde esteve exilado por sete anos.
Do lado de fora, enquanto apoiadores cantavam pela chegada, outros cortavam a rua empoeirada a bordo de motocicletas gritando palavras de ordem como: "Aristide está em casa".
Aristide foi eleito em 1991, derrubado por militares e reconduzido ao poder pelos EUA -onde ficou até 1996. Eleito de novo em 2000, caiu antes de terminar o mandato.
Ele discursou por 15 minutos. Não mencionou o segundo turno das eleições presidenciais de amanhã.
Nas semanas anteriores, EUA e ONU de maneira pública -e também o Brasil, em gestões privadas- tentaram convencer Aristide a adiar seu retorno para a semana seguinte à do pleito.
No discurso, Aristide preferiu dizer que o país está "doente" após o devastador terremoto de 2010. Em contraste com os seus últimos anos no poder, pediu união.
"A humilhação de um haitiano é também a humilhação de todos os haitianos."
O ex-presidente chegou ao lado da mulher, as duas filhas e do ator e ativista americano Danny Glover.
Falou de um púlpito na área externa do aeroporto da capital e agradeceu especialmente Cuba pelo esforço médico no pós-terremoto e na epidemia de cólera.
Entre os que o receberam no aeroporto, estava o embaixador da Venezuela no país. Os compatriotas de Hugo Chávez criticam a missão da ONU no Haiti. A Minustah, no país desde a queda de Aristide em 2004, é chefiada militarmente pelo Brasil.
Segundo o comando militar da missão, não foram registrados incidentes graves.
"Olhar para Aristide é olhar para um haitiano. Ele é sangue do nosso sangue", declarou Jean Cartel, 28, na frente da chácara do ex-presidente, localizada na região norte de Porto Príncipe, para onde a multidão marchou.
"Acabou essa história de eleição", continuou o Cartel, que trabalha como ferreiro.
A espaçosa propriedade do ex-presidente foi ocupada por seus apoiadores.
A casa principal da chácara, na qual ele estava, foi cercada pelas pessoas que esperavam um novo pronunciamento do ex-presidente.
"Nossa eleição é hoje. A de amanhã é uma seleção", disse Guelor Réjours, sociólogo que permaneceu do lado de fora da casa. Ele reclamou da exclusão formal do Lavalas, partido de Aristide da eleição presidencial de amanhã.


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