São Paulo, domingo, 19 de maio de 2002

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Países divergem sobre como retratar história

DA ENVIADA ESPECIAL

Nas duas pontas da distância que separa Japão e Coréia do Sul estão visões diferentes de uma história que incutiu nos coreanos um rancor profundo contra os japoneses e uma dificuldade destes em descrever o que aconteceu.
No final do século 19, um Japão recém-saído de mais de 200 anos de isolamento iniciou sua expansão militar na Ásia. Os interesses japoneses na Coréia foram reconhecidos após as guerras contra a China (1894-5) e a Rússia (1904-05). Em 1905, a Coréia foi decretada um protetorado japonês. Em 1910, foi anexada, permanecendo como colônia japonesa até 1945.
Nesse período, a população foi forçada a adotar nomes japoneses e a aprender a língua do colonizador. Protestos foram reprimidos de forma brutal. Em 1º de março de 1919, uma manifestação popular pela independência da península resultou na morte, pelas contas dos coreanos, de 6.000 pessoas. A data é hoje feriado nacional na Coréia do Sul.
Mais delicada é a questão das chamadas "confort women" (mulheres de conforto), forçadas a trabalhar em bordéis para soldados japoneses. A maioria das cerca de 200 mil asiáticas submetidas a esse tratamento era coreana.
A escolha de palavras usadas em livros japoneses de história gera constantes protestos na Coréia do Sul, além de outros países invadidos pelo Japão antes e durante a Segunda Guerra, como a China. Há livros que dizem, por exemplo, que a Coréia foi beneficiada com a construção de ferrovias e sistemas de irrigação. Outros descrevem o evento de 1º de março como um distúrbio, sem mencionar o número de mortos.
Durante a Segunda Guerra, muitos coreanos foram levados ao Japão para trabalhar em fábricas. Hoje mais de meio milhão de coreanos e seus descendentes vivem no Japão e reclamam de casos de discriminação.
Com a derrota na guerra, o Japão perdeu seus domínios na Ásia. Em 1965, foram restabelecidas as relações diplomáticas com a Coréia do Sul, e o Japão afirma que saldou tudo o que devia. Na ocasião, "a questão foi resolvida no nível de nação para nação, mas não no de nação para indivíduo", diz Susumu Kohari, da Universidade de Shizuoka.
Primeiros-ministros japoneses têm, ao longo dos últimos anos, expressado remorso e pedido desculpas pelos sofrimentos causados à Coréia do Sul nos anos de colonização, como fizeram Keizo Obuchi, em 1998, e Junichiro Koizumi, em 2001. Mas muitos sul-coreanos consideraram as palavras escolhidas fracas.
No Japão, há os que se opõem a um pedido de desculpas, contestando o que chamam de uma visão "masoquista" da história, enquanto outros pedem que se chegue a termos mais conclusivos com o passado. (CKT)


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