São Paulo, domingo, 19 de maio de 2002

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Intercâmbio cultural cresce e desafia tabus

DA ENVIADA ESPECIAL

Enquanto há arestas a aparar política e historicamente, o intercâmbio cultural entre Japão e Coréia do Sul tem sido intenso, por canais oficias e não-oficiais. Hoje a Coréia está na moda no Japão.
Em março, a cantora coreana BoA, 16, freqüentou o topo da lista dos álbuns mais vendidos no Japão, segundo a Oricon, uma espécie de Billboard nipônica. Foi a primeira vez que uma artista coreana chegou a essa posição.
No mesmo mês, uma novela em que um casal formado por um japonês e uma sul-coreana enfrenta preconceitos de ambos os lados fez sucesso no Japão por tocar em questões delicadas. No último capítulo, foram apresentadas entrevistas com casais reais e cenas dos preparativos para a Copa na Coréia do Sul.
Desde há alguns anos, o interesse dos jovens por restaurantes, filmes e artistas sul-coreanos tem sido objeto de reportagens no Japão, fenômeno que a mídia local chama de "boom da Coréia".
Em 1999, a Coréia do Sul superou o Havaí (EUA) como destino turístico dos japoneses e hoje ocupa o segundo lugar no ranking. Os sul-coreanos são o maior grupo de turistas que visitam o Japão, e, na área acadêmica, os intercâmbios são comuns há anos.
Do outro lado, a Coréia do Sul não vive um "boom do Japão", mas, desde 1998, tem promovido a liberação gradual de produtos culturais japoneses (veja quadro).
Já é possível a cantores japoneses se apresentarem para públicos grandes, apesar de ainda ser proibido vender CDs. Jovens sul-coreanos obtêm cópias piratas das músicas e têm mostrado interesse por filmes de animação do Japão.
Não por acaso, 2002 é o ano do intercâmbio cultural entre as duas nações, e eventos como apresentações de teatro e danças têm sido realizados nos dois países. O Escritório para Intercâmbio Cultural entre Japão e Coréia do Sul, da Fundação Japão (vinculada ao Ministério das Relações Exteriores), administra verbas para apoiar o intercâmbio entre grupos privados e civis.
Para além da recente moda coreana no Japão, as duas nações têm profundas ligações culturais. Estudiosos indicam que muito da cultura atual nipônica, como o budismo, foi levado ao arquipélago através da península coreana por volta do século 7º.
O reconhecimento mais marcante dessa ligação ocorreu no ano passado, quando, por ocasião de seu 68º aniversário, o imperador Akihito disse sentir que tem "algum parentesco com a Coréia". Citando livros históricos antigos, disse que a mãe do imperador Kammu, o 50º da linhagem imperial, que subiu ao trono em 781, era uma princesa coreana. A declaração foi inicialmente tratada com cautela pela mídia japonesa, mas ganhou as manchetes na Coréia do Sul. (CKT)


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