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ANÁLISE
Democracia indiana sairá vencedora
HAMISH MCRAE
DO "INDEPENDENT"
Índia ou China? Democracia ou
controle central? Desde a decolagem econômica da China, que começou com as reformas de 1978,
muitas pessoas dizem que é mais
fácil que haja crescimento econômico na China do que na Índia.
Segundo o argumento, contanto que o governo seja sensível aos
sinais dos mercados, um comando centralizado da economia pode gerar um crescimento mais
elevado do que o mais desorganizado sistema democrático.
O crescimento econômico cria
muitos vencedores, mas não deixa de gerar alguns perdedores.
Assim, seria mais difícil manter o
apoio às reformas numa democracia (na qual os perdedores têm
voz política) do que numa autocracia (na qual eles não a têm).
O argumento é sedutor. Desde a
década de 80, a China apresenta
um crescimento econômico de
cerca de 8% ao ano. Já a Índia tem
surtos de crescimento, mas as reformas econômicas do início dos
anos 80 não impediram a ocorrência de uma crise em 1991. Em
seguida, houve um programa de
austeridade -que abriu caminho
para mais de uma década de ótimos resultados econômicos.
Mas o partido reformista que
estava no governo perdeu a última eleição, e os mercados financeiros foram tomados pelo pânico. Talvez os eleitores não gostem
das conseqüências do crescimento econômico, incluindo o aumento da desigualdade. Na China
e na Índia, a classe média está hoje
numa situação bem melhor, mas
a nova riqueza demora a chegar à
maior parte da população.
Na China, onde a desigualdade
social é maior do que na Índia, as
autoridades conseguem controlar
a dissidência. Na Índia, o governo
perdeu o poder. E, a julgar perla
reação dos mercados financeiros,
as reformas estão em perigo.
Mas a ala democrática não precisa desesperar-se. A situação não
é tão delicada. Há boas razões para crer que, no futuro, a economia
indiana venha a ser tão dinâmica
quanto a chinesa. O melhor modo
de explicar a reação negativa dos
mercados é lembrar que todos os
mercados detestam surpresas, e a
eleição indiana foi uma surpresa.
Ademais, a possibilidade de os comunistas fazerem parte da coalizão governamental assusta.
E, logicamente, a decisão de Sonia Gandhi de não assumir o governo só faz aumentar a confusão.
Mas é útil pensar a médio prazo
e observar o histórico do partido
de Gandhi. Tanto as reformas iniciais dos anos 80 quanto as mais
radicais introduzidas em 1992 foram lançadas por seu partido. O
partido que deixa o poder agora
herdou uma economia forte e fez
com que a situação melhorasse,
mas o principal já tinha sido feito.
O arquiteto da segunda etapa de
reformas foi o então ministro das
Finanças, Manmohan Singh. Provavelmente, seu programa de reformas tenha tirado mais gente da
pobreza do que qualquer outro
no mundo. Talvez 200 milhões de
pessoas tenham sentido uma melhora radical nos últimos 12 anos.
Em 1991, o déficit orçamentário
era de 8,5% do PIB. Singh fez, então, um discurso em que disse que
a Índia tinha de pensar grande.
Além de apertar o cinto, o país deveria introduzir reformas liberalizantes para dar alento ao espírito
empreendedor das pessoas.
A idéia era que a Índia se tornaria uma potência econômica, e isso seria feito por meio da redução
das normas reguladoras, do aumento da competição, da simplificação do sistema fiscal e do estímulo à tomada de riscos. O partido de Singh ficou no poder o tempo necessário para que as reformas se enraizassem. Após uma
troca de governo, não houve forte
mudança de políticas, embora
Singh nem sempre estivesse de
acordo com as medidas tomadas.
A questão é saber se os 12 anos
de reformas criaram uma base suficientemente sólida para assegurar o crescimento econômico. O
novo governo poderá ser fraco.
Mas não creio nessa hipótese. Para começar, o sucesso econômico
gerou uma autoconfiança bastante clara. Os frutos do sucesso são
óbvios, embora ainda não sejam
divididos de modo equitativo.
Investimentos consideráveis
criaram empregos, e a classe empresarial é bem maior e mais
competitiva internacionalmente
hoje do que há dez anos. E não se
trata só de industrias tradicionais,
mas de empresas de produtos eletrônicos e de alta tecnologia.
Crescimento ininterrupto não é
natural. O caso chinês esconde
grandes riscos. Podemos esperar
problemas na China. Talvez eles
também ocorram na Índia, mas a
grande lição é que o país aprendeu que uma democracia pode
ser um sucesso econômico.
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