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Ajuda externa inepta enfraquece o governo
DAVID LOYN
DO "INDEPENDENT", EM CABUL
Samihullah é o tipo de ex-refugiado do qual seu país precisa.
Aos 30 anos de idade, com mulher
e dois filhos, ele recebeu boa educação nos campos além da fronteira com o Paquistão. Depois que
o Taleban foi derrubado, em 2001,
Samihullah voltou para casa e foi
trabalhar no Ministério da Educação afegão, onde ajudou a reconstruir o ensino de terceiro grau.
Mas isso acabou.
Eu o encontrei trabalhando como guarda de segurança na sede
do Programa Mundial de Alimentos da ONU em Cabul. Ele ganha
US$ 270 por mês aqui, muito mais
que os US$ 50 no setor de ensino.
A decisão de mudar de emprego
não foi difícil.
Mas é o sistema internacional
que está deixando o Afeganistão
sem recursos. Qualquer refugiado
que retorna e fala inglês tem emprego garantido na ONU ou numa miríade de ONGs que se estabeleceram em Cabul.
Ashraf Ghani, que foi ministro
das Finanças no primeiro ano
após a queda do Taleban e hoje é
reitor da Universidade de Cabul,
diz que a comunidade internacional fracassou no Afeganistão. Em
vez de fortalecer o governo, criou
um sistema paralelo que ativamente enfraqueceu a capacidade
afegã de gerir seus próprios assuntos.
O maior temor de Ghani é o de
que, deixando de fortalecer o governo afegão, o mundo pode estar
ajudando o Taleban a se reagrupar, uma vez que a milícia islâmica se alimenta do ressentimento
da população com o ritmo lento
das reformas. "O jeito mais barato
de trazer desenvolvimento e segurança é com o governo", afirma.
A escalada da máquina internacional encolheu o governo local.
Grandes porções da capital estão
fechadas devido às preocupações
com a segurança. O restante da cidade é paralisado pelo trânsito na
maior parte do dia. No leste da capital a ONU construiu uma sede
do tamanho de uma pequena cidade.
A frustração do governo afegão
com a maneira com que o dinheiro é gasto emergiu na conferência
de doadores em Londres, no começo deste ano. Um relatório do
Banco Mundial divulgado pouco
antes do evento estimou que 90%
das verbas internacionais para o
desenvolvimento do Afeganistão
continuavam a jorrar fora dos órgãos do governo.
Um vívido exemplo mostra o
que acontece quando a comunidade internacional age sem as
consultas necessárias. A construção de uma escola quase terminada para meninas é suspensa por
falta de fundos. Próximo dela,
uma outra escola é construída
com dinheiro japonês. A primeira
escola não pode ser concluída,
pois é ignorada pelos japoneses.
Americanos e japoneses, ambos
grandes doadores ao Afeganistão,
são os dois países com maior responsabilidade por gastos fora do
governo. Apesar de afirmarem
que as obras que subsidiam são de
alto nível, a maioria não resistiria
aos seus próprios padrões de qualidade.
O órgão de desenvolvimento do
governo americano, Usaid, gosta
de propagandear o número de escolas para meninas que construiu. Eu pedi certa vez para ver
uma em Cabul e fiquei chocado
ao ver seu estado. Uma placa na
parede diz que ela é um presente
do povo americano, mas o Lycee
Mariam não é motivo nenhum de
orgulho.
Professores dizem que os americanos fizeram pouco mais que
acrescentar uma nova demão de
tinta nas paredes e substituir o antigo telhado. O novo já tem goteiras. No pátio, dezenas de meninas
têm aulas em barracas. A escola tinha a aparência de ter sofrido
uma catástrofe recente.
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