São Paulo, segunda-feira, 19 de maio de 2008

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"Queremos destruir Israel", diz miliciano

Folha encontra em Beirute Abou Abdo, que acusa o governo de ameaçar a sobrevivência do grupo xiita

TARIQ SALEH
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BEIRUTE

Em dias normais, chegar ao subúrbio de Dahiyeh, no sul de Beirute, leva cerca de 30 minutos, devido ao trânsito caótico. Mas foram precisos apenas dez para a Folha alcançar o reduto da maior força militar do Líbano, no último dia 12, quando o Hizbollah conquistava outra vitória sobre as milícias pró-governo nas montanhas ao redor da capital.
Depois de quatro barreiras, parte do trajeto foi feito a pé, de noite, entre ruas estreitas e jovens mascarados que guardavam os bloqueios, montados com a desobediência civil que visa derrubar o governo.
Ao final do trajeto, entre olhares desconfiados de uns e curiosos de outros, um grupo uniformizado de homens, barbas longas e fuzis americanos M16, olhava na direção de Aley, no Monte Líbano, onde tiroteios podiam ser escutados.
O comandante da unidade, conhecido como Abou Abdo, é um veterano da guerra contra Israel, até que o país se retirou do sul do Líbano, em 2000.
Ele cumprimentou com ar sério, mas amistoso. Alguns de seus companheiros somente prestavam atenção à conversa. Outros ficavam atrás de muros ou posicionados em janelas.
"Nós não nos informamos pela imprensa, só recebemos as instruções pelo rádio e fazemos nosso trabalho", disse Abdo.
Ele acende um cigarro e relata a razão de os governistas leais ao sunita Saad Hariri terem sido derrotados e humilhados em 24 horas de combates nas ruas de Beirute.
"Este grupo de homens que está aqui participou da tomada de Beirute oeste há três dias. Olhe para cada um deles e você verá determinação, coragem e martírio. Cada um deles daria a vida pelo outro", afirmou.
Disse ainda que milhares de guerrilheiros aguardam ordens do líder do Hizbollah, Hassan Nasrallah, para retomar Beirute, caso seja preciso.
O Hizbollah, que expulsou as tropas israelenses do sul do Líbano e voltou a enfrentar Israel em 2006, sempre garantiu que jamais apontaria suas armas para os cidadãos libaneses.
"Nossa missão é destruir Israel, não lutar contra nossos irmãos", disse Abou Abdo.

"Vida ou morte"
O miliciano acredita que o Hizbollah está em uma luta de "vida ou morte", contra a tentativa do governo libanês de "acabar com a resistência", fazendo o trabalho para Israel e os EUA.
O grupo, segundo ele, não desejava uma guerra civil, e lamentou que sua milícia tenha sido "obrigada" a usar armas contra seus compatriotas. Entretanto, disse que o Hizbollah devia prevalecer, caso sua existência esteja ameaçada.
"Temos uma visão política, um projeto, e não há problema se outros partidos não concordarem. O que não aceitamos é que tentem destruir nossa existência sob ordens dos nossos inimigos", afirmou.
Seus homens concordaram, alguns apontaram seus fuzis para o alto e gritaram o nome de Nasrallah.
"Não queremos que aconteça, mas se uma guerra civil vier, estamos bem preparados", disse ainda Abou Abdo.


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