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"Queremos destruir Israel", diz miliciano
Folha encontra em Beirute Abou Abdo, que acusa o governo de ameaçar a sobrevivência do grupo xiita
TARIQ SALEH
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BEIRUTE
Em dias normais, chegar ao
subúrbio de Dahiyeh, no sul de
Beirute, leva cerca de 30 minutos, devido ao trânsito caótico.
Mas foram precisos apenas dez
para a Folha alcançar o reduto
da maior força militar do Líbano, no último dia 12, quando o
Hizbollah conquistava outra
vitória sobre as milícias pró-governo nas montanhas ao redor da capital.
Depois de quatro barreiras,
parte do trajeto foi feito a pé, de
noite, entre ruas estreitas e jovens mascarados que guardavam os bloqueios, montados
com a desobediência civil que
visa derrubar o governo.
Ao final do trajeto, entre
olhares desconfiados de uns e
curiosos de outros, um grupo
uniformizado de homens, barbas longas e fuzis americanos
M16, olhava na direção de Aley,
no Monte Líbano, onde tiroteios podiam ser escutados.
O comandante da unidade,
conhecido como Abou Abdo, é
um veterano da guerra contra
Israel, até que o país se retirou
do sul do Líbano, em 2000.
Ele cumprimentou com ar
sério, mas amistoso. Alguns de
seus companheiros somente
prestavam atenção à conversa.
Outros ficavam atrás de muros
ou posicionados em janelas.
"Nós não nos informamos
pela imprensa, só recebemos as
instruções pelo rádio e fazemos
nosso trabalho", disse Abdo.
Ele acende um cigarro e relata a razão de os governistas
leais ao sunita Saad Hariri terem sido derrotados e humilhados em 24 horas de combates nas ruas de Beirute.
"Este grupo de homens que
está aqui participou da tomada
de Beirute oeste há três dias.
Olhe para cada um deles e você
verá determinação, coragem e
martírio. Cada um deles daria a
vida pelo outro", afirmou.
Disse ainda que milhares de
guerrilheiros aguardam ordens
do líder do Hizbollah, Hassan
Nasrallah, para retomar Beirute, caso seja preciso.
O Hizbollah, que expulsou as
tropas israelenses do sul do Líbano e voltou a enfrentar Israel
em 2006, sempre garantiu que
jamais apontaria suas armas
para os cidadãos libaneses.
"Nossa missão é destruir Israel, não lutar contra nossos irmãos", disse Abou Abdo.
"Vida ou morte"
O miliciano acredita que o
Hizbollah está em uma luta de
"vida ou morte", contra a tentativa do governo libanês de "acabar com a resistência", fazendo
o trabalho para Israel e os EUA.
O grupo, segundo ele, não desejava uma guerra civil, e lamentou que sua milícia tenha
sido "obrigada" a usar armas
contra seus compatriotas. Entretanto, disse que o Hizbollah
devia prevalecer, caso sua existência esteja ameaçada.
"Temos uma visão política,
um projeto, e não há problema
se outros partidos não concordarem. O que não aceitamos é
que tentem destruir nossa existência sob ordens dos nossos
inimigos", afirmou.
Seus homens concordaram,
alguns apontaram seus fuzis
para o alto e gritaram o nome
de Nasrallah.
"Não queremos que aconteça, mas se uma guerra civil vier,
estamos bem preparados", disse ainda Abou Abdo.
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