São Paulo, terça-feira, 19 de maio de 2009

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Homem-forte de Uribe deixa gabinete de olho na sucessão

Ministro da Defesa diz que só disputará se presidente desistir de terceiro mandato

Juan Manuel Santos deixa pasta no sábado; Senado da Colômbia prevê votar hoje convocação de referendo que proporá nova reeleição

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos, anunciou ontem que está deixando o cargo para disputar as eleições presidenciais de 2010, mas prometeu só fazê-lo caso o presidente, Álvaro Uribe, desista de concorrer a um terceiro mandato.
Estrela do gabinete presidencial, Santos formalizou a renúncia para atender os prazos de descompatibilização da lei eleitoral um dia antes de a bancada governista tentar passar no Senado convocação de referendo que, se aprovado, mudará a Constituição para dar a Uribe a chance de candidatar-se à Presidência mais uma vez.
O movimento de Santos, 57, já era esperado. Ele é o governista mais bem colocado nas pesquisas de opinião em cenários sem o presidente, em empate técnico com ex-prefeito de Medellín Sergio Fajardo, independente. Uribe, com 71% de aprovação segundo pesquisa Gallup deste mês, bateria todos os oponentes hoje.
Apesar de declarar lealdade a Uribe, a decisão de Santos de tornar-se presidenciável dá ainda mais fôlego aos críticos do terceiro mandato, inclusive uribistas. Eles dizem que, se o ministro é candidato viável, é falácia dizer que só o atual presidente garante a continuidade da "segurança democrática", a política linha-dura que debilitou como nunca as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) desde 2002.
Os críticos também dizem que Uribe, ao seguir os passos do venezuelano Hugo Chávez, desequilibraria a balança entre os Poderes na Colômbia.
Ontem, o próprio Santos voltou a lançar dúvidas sobre as intenções de Uribe de candidatar-se. "Creio que o presidente não vai ser candidato. Não tenho elementos além da minha intuição íntima. Não é informação que o presidente me deu", disse ele à rádio W.
Apesar de mobilizar o seu Partido Social da Unidade Nacional (Partido de la U) -o mesmo de Santos- para a tarefa de convocação do referendo, Uribe é evasivo sobre o tema.

Ofensiva e jornal
De uma família rica e influente, Santos é primo do atual vice-presidente, Francisco Santos. Dirigiu por dez anos o conselho editorial do jornal "El Tiempo", o principal do país, que era de sua família e segue sob comando dos Santos.
Administrador e economista, ele foi ministro do Comércio Exterior e das Finanças no passado, mas ganhou visibilidade como homem-forte de Uribe em 2006, à frente da Defesa. Santos deixa o cargo no sábado, e não foi anunciado sucessor.
Santos, que nunca disputou eleições, comandou as recentes vitórias militares do governo -não livres de controvérsia- como o ataque em solo equatoriano que matou o número 2 das Farc, Raúl Reyes, em 2008, e o resgate de Ingrid Betancourt e mais 14 reféns da mãos da guerrilha, quando foi usado ilegalmente o símbolo da Cruz Vermelha internacional.
Enquanto os uribistas como Santos preparam terreno para suas "candidaturas-reserva" e equilibram-se entre lealdade e estratégia, os governistas têm tempo cada vez mais apertado para aprovar o referendo do terceiro mandato e enfrentam algumas defecções.
O Senado tentou votar o projeto na semana passada, mas o governo não conseguiu reunir quórum. Hoje haverá outra tentativa, e os uribistas dizem ter maioria. Se aprovado, o texto do referendo terá de ser compatibilizado com o já aprovado na Câmara, que prevê que Uribe volte a ser candidato apenas em 2014. O referendo deve passar pelo crivo da Corte Constitucional numa corrida para ir à votação ainda este ano.
Mas, se Uribe vê cada vez mais resistência à ideia na imprensa, mesmo a geralmente simpática, e na academia, a população apoia: 59% das pessoas disseram ao Gallup que votariam no referendo, e entre elas 84% diriam sim ao projeto.
O analista Alfredo Rangel, da revista "Semana" e próximo do uribismo, acredita na aprovação. "O tempo é apertado, mas suficiente", disse à Folha. E defende Uribe: "Não é uma questão de manutenção de políticas. Não há alternativas nem à esquerda nem à direita dele. É uma questão de liderança. O país confia mais em Uribe do que em qualquer outro".


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