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Homem-forte de Uribe deixa gabinete de olho na sucessão
Ministro da Defesa diz que só disputará se presidente desistir de terceiro mandato
Juan Manuel Santos deixa pasta no sábado; Senado da Colômbia prevê votar hoje convocação de referendo que proporá nova reeleição
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos,
anunciou ontem que está deixando o cargo para disputar as
eleições presidenciais de 2010,
mas prometeu só fazê-lo caso o
presidente, Álvaro Uribe, desista de concorrer a um terceiro
mandato.
Estrela do gabinete presidencial, Santos formalizou a renúncia para atender os prazos
de descompatibilização da lei
eleitoral um dia antes de a bancada governista tentar passar
no Senado convocação de referendo que, se aprovado, mudará a Constituição para dar a
Uribe a chance de candidatar-se à Presidência mais uma vez.
O movimento de Santos, 57,
já era esperado. Ele é o governista mais bem colocado nas
pesquisas de opinião em cenários sem o presidente, em empate técnico com ex-prefeito de
Medellín Sergio Fajardo, independente. Uribe, com 71% de
aprovação segundo pesquisa
Gallup deste mês, bateria todos
os oponentes hoje.
Apesar de declarar lealdade a
Uribe, a decisão de Santos de
tornar-se presidenciável dá
ainda mais fôlego aos críticos
do terceiro mandato, inclusive
uribistas. Eles dizem que, se o
ministro é candidato viável, é
falácia dizer que só o atual presidente garante a continuidade
da "segurança democrática", a
política linha-dura que debilitou como nunca as Farc (Forças Armadas Revolucionárias
da Colômbia) desde 2002.
Os críticos também dizem
que Uribe, ao seguir os passos
do venezuelano Hugo Chávez,
desequilibraria a balança entre
os Poderes na Colômbia.
Ontem, o próprio Santos voltou a lançar dúvidas sobre as
intenções de Uribe de candidatar-se. "Creio que o presidente
não vai ser candidato. Não tenho elementos além da minha
intuição íntima. Não é informação que o presidente me deu",
disse ele à rádio W.
Apesar de mobilizar o seu
Partido Social da Unidade Nacional (Partido de la U) -o
mesmo de Santos- para a tarefa de convocação do referendo,
Uribe é evasivo sobre o tema.
Ofensiva e jornal
De uma família rica e influente, Santos é primo do atual
vice-presidente, Francisco
Santos. Dirigiu por dez anos o
conselho editorial do jornal "El
Tiempo", o principal do país,
que era de sua família e segue
sob comando dos Santos.
Administrador e economista,
ele foi ministro do Comércio
Exterior e das Finanças no passado, mas ganhou visibilidade
como homem-forte de Uribe
em 2006, à frente da Defesa.
Santos deixa o cargo no sábado,
e não foi anunciado sucessor.
Santos, que nunca disputou
eleições, comandou as recentes
vitórias militares do governo
-não livres de controvérsia-
como o ataque em solo equatoriano que matou o número 2
das Farc, Raúl Reyes, em 2008,
e o resgate de Ingrid Betancourt e mais 14 reféns da mãos
da guerrilha, quando foi usado
ilegalmente o símbolo da Cruz
Vermelha internacional.
Enquanto os uribistas como
Santos preparam terreno para
suas "candidaturas-reserva" e
equilibram-se entre lealdade e
estratégia, os governistas têm
tempo cada vez mais apertado
para aprovar o referendo do
terceiro mandato e enfrentam
algumas defecções.
O Senado tentou votar o projeto na semana passada, mas o
governo não conseguiu reunir
quórum. Hoje haverá outra
tentativa, e os uribistas dizem
ter maioria. Se aprovado, o texto do referendo terá de ser
compatibilizado com o já aprovado na Câmara, que prevê que
Uribe volte a ser candidato apenas em 2014. O referendo deve
passar pelo crivo da Corte
Constitucional numa corrida
para ir à votação ainda este ano.
Mas, se Uribe vê cada vez
mais resistência à ideia na imprensa, mesmo a geralmente
simpática, e na academia, a população apoia: 59% das pessoas
disseram ao Gallup que votariam no referendo, e entre elas
84% diriam sim ao projeto.
O analista Alfredo Rangel, da
revista "Semana" e próximo do
uribismo, acredita na aprovação. "O tempo é apertado, mas
suficiente", disse à Folha. E defende Uribe: "Não é uma questão de manutenção de políticas. Não há alternativas nem à
esquerda nem à direita dele. É
uma questão de liderança. O
país confia mais em Uribe do
que em qualquer outro".
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